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Resenha: Arctic Monkeys - AM

Em AM o Arctic Monkeys aprimora os experimentos de Humbug e Suck It and See, mas ainda não concebe o álbum definitivo da carreira.

Arctic Monkeys - AM
Arctic Monkeys – AM

Em 2006, quando lançou Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, o Arctic Monkeys obrigou o mundo a prestar atenção naquele quarteto mirrado de Sheffield recém-saído da adolescência. As influências eram basicamente as mesmas de tantas outras bandas do indie rock do início do século, mas a virtuose instrumental bem arranjada, o ritmo frenético das canções e as letras ácidas com melodias grudentas fizeram o grupo se destacar em uma cena exaurida pela mesmice.

A banda seguiu em frente com Favourite Worst Nightmare, 2007, que repetiu a fórmula do anterior sem o mesmo sucesso. E foi aí que o quarteto liderado por Alex Turner mostrou o que o diferenciava da maior parte dos companheiros de geração. Enquanto outros grupos apostavam em incursões mal-sucedidas pela psicodelia dos anos 1960 ou o new wave dos 1980, o Arctic Monkeys transformou o blues sujo do Black Sabbath em referência, orientados por Josh Homme, do Queens of the Stone Age. O resultado, Humbug, saiu em 2009 e dividiu os fãs do grupo entre os que cresceram com a banda e receberam a mudança de braços abertos e aqueles que rejeitaram a transformação.

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Humbug revelou um grupo menos ansioso e mais consciente da própria relevância, disposto a sacrificar números de sucesso para se divertir um tanto mais. Os experimentos continuaram em Suck It and See (2011), e foram aprimorados no recém-lançado AM, quinto álbum da carreira da banda.

AM não é mera repetição dos dois antecessores. Em pouco mais de 40 minutos, o disco mostra identidade própria na discografia do Arctic Monkeys, e é ao mesmo tempo o mais confiante e despojado da trilogia recente. Os dois singles lançados para promover o disco – “Do I Wanna Know?” e “Why’d You Only Call Me When You’re High?” – cumprem muito bem o papel de “vender” AM; são as faixas mais acessíveis do disco ao lado da ótima “R U Mine?”, single lançado em 2012 e que retorna em AM, mas destoa por ser muito mais explosiva e grandiosa que as outras onze faixas.

Mesmo quando menos obviamente comerciais, Alex Turner e cia. também acertam. A sessentista “Snap Out of It” levanta a segunda metade de AM, apoiada em faixas bem construídas como “Fireside” e a classuda “Knee Socks”. “Arabella” consegue fazer ode ao Black Sabbath apesar de não promover bate-cabeças, e a lenta “I Wanna Be Yours” encerra o álbum de com um belo arranjo vocal.

Apesar dos acertos, AM ainda não é o grande álbum do Arctic Monkeys, aquele que poderia unir público e crítica em elogio uníssono. É, a exemplo dos outros três lançados desde Whatever People Say…, um álbum com altos e baixos, ainda que musicalmente mais coeso que Humbug e Suck It and See. Efetivamente, AM fica disperso entre excelentes canções e outras menos inspiradas, agradáveis apenas para fãs fieis, daqueles que gostariam até de um álbum de bolero cantado por Turner.

Exemplos disso são a enfadonha “I Want It All” – que soa como um pastiche tosco de Queens of the Stone Age – e “One For the Road”, que tenta mas não consegue repetir a malícia de “Do I Wanna Know?” ou “Why’d You Only Call…”. “Mad Sounds”, por sua vez, é musicalmente previsível e cansativa, e “No. 1 Party Anthem” resgata as épicas baladas do britpop, motivo pelo qual tem sido adorada pela imprensa inglesa, mas depende apenas das boas letras de Turner para se tornar interessante.

AM é o retrato perfeito da dicotomia sempre presente nas composições de Alex Turner. Se por um lado o vocalista e guitarrista encanta pelo sarcasmo frequente e pela riqueza de detalhes em versos menos simples do que parecem, Turner soa cada vez mais distante dos sentimentos que canta, e tem dificuldade em contagiar e emocionar o ouvinte dada a distância fria de seu vocal blasé. Ao inspirar-se em ícones cool como James Dean e o próprio Josh Homme, Turner acaba aparentando ser mais imaturo do que realmente é, e tira o brilho do que poderia ser um registro mais interessante, enfeitado pela melhor performance vocal da carreira dele. Propositalmente ou não, os êxitos e fracassos de Turner ofuscam as performances de Jamie Cook (guitarra), Nick O’ Malley (baixo) e Matt Helders (bateria), que poderiam enriquecer AM como fizeram nos discos anteriores.

Talvez a melhor lição de AM seja a de que é hora de parar de esperar o tal “álbum definitivo” da carreira do Arctic Monkeys. Da próxima vez é melhor torcer por um passo pequeno – ainda que valioso – como este. Quem sabe não nos surpreendemos positivamente?

Nota: 6/10

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