Quando o Placebo surgiu, na primeira metade dos anos 90 (1994), a cena roqueira mundial estava direcionada ao grunge de Seattle (EUA), que perdera naquele ano seu maior representante, Kurt Cobain, líder do Nirvana. Do outro lado do pacífico, a Inglaterra vivia o auge do britpop, também de dimensões globais e bem representado por bandas como Blur, Suede e Oasis.
Na época, a crítica musical tentou encaixotar o Placebo no britpop, mas suas influências punk mescladas à densidade e melancolia do pós-punk davam uma pitada dark ao competente som da banda, impossibilitando o trio de Brian Molko entrar nessa onda, já que a nostalgia do britpop apontava para os anos 60. Para o bem ou para o mal, o Placebo sempre esteve relacionado ao amplo rock alternativo e, de lá pra cá, consolidou-se como um dos nomes mais importantes do gênero, sem de fato ganhar o status de banda que “chegou lá”.
Em 1996, eles lançaram o primeiro álbum, Placebo, com forte temática sexual e melancólica, assuntos centrais na obra da banda até hoje. As faixas “I Know” e “Lady Of The Flowers” demonstram bem essa atmosfera.
O principal trabalho do Placebo veio dois anos mais tarde. O aclamado Without You I´m Nothing é cheio de texturas goth, guitarras sujas e elementos que vão de um assexuado vocal a passagens eletrônicas. Nessa fase, o visual andrógino de Brian estava ainda mais aflorado, sem se tornar caricato. O contra baixo de Stefan Olsdal, cada vez mais notório, ajudou a impulsionar os maiores hits da carreira do Placebo. “Every You, Every Me” entrou na trilha sonora do filme “Segundas Intenções” e a faixa-título “Without You I´m Nothing” ganhou uma versão pirata mais conhecida que a original, cantada por um dos ídolos da banda, David Bowie.
Black Market Music chega em 2000, com “Special K“, forte, psicótico, dark e audacioso. A sutileza com que Molko destila os males da vida moderna em letras inteligentes, com o instrumental sempre competente e seguro de si, ora demente, ora sublime, cativa ainda mais. Sleeping With Ghots, de 2003, repete a fórmula, um disco competente, com a novidade de acentuar “músicas de pista” como a eletrizante “The Bitter End”.
Meds, de 2006, marca o inicio de mudanças maiores. O álbum é recheado de boas parcerias como a participação de Alisson Mosshart do The Kills em “Meds”, além de Michael Stirp do REM, na triste “Broken Promisse”. Há certo resgate sonoro, com uma dose de novidades modernosas do indie rock que explodia mundo a fora.
2009, o Placebo lança Battle For The Sun, o primeiro trabalho da banda sem o excelente baterista Steve Hewitt, substituído por Steve Forrest. O disco pode ser considerado o menos emblemático da carreira da banda por deixar de lado grande parte da atmosfera dark e, de certa forma, arrastada, em bom sentido, que a banda tinha. Muitos dos fãs apenas se interessaram pelo álbum, mas logo botaram na gaveta. A alegria abafada presente no disco mostra um novo Placebo, cansado de reformular fórmulas antigas, mas que ainda não soube dosar o antigo ao novo.
O que parece funcionar em Loud Like Love, sétimo álbum da careira, é a dosagem. O álbum pode ser percebido tal como Meds, com todos os resgates e autocópias de passagens dos tempos de “This Picture”, e boas cargas de animosidade, na dose certa.
Em todos os álbuns do Placebo a primeira faixa tem uma carga instrumental potente, sofrida e, de certa forma, empolgante. A faixa-título e primeira do novo álbum, “Loud Like Love”, cumpre bem essa tradição. Tem certo peso emocional, mais expressivo e honesto do que as lentas cargas de angústia de trabalhos anteriores. Essa talvez seja uma das características a serem consideradas do som do Placebo pós-Hewitt.
As palmas em “Scene of the Crime” fazem da faixa uma bela música de show, deve funcionar bem com a plateia, por mais que no álbum não seja tão atrativa. As passagens eletrônicas finalizam deixando espaço para dialogar com a seguinte.
“Too Many Friends” resgata a critica social mais perceptível em Black Market Music. Molko questiona a solidão nas redes sociais, em como estamos cheios de amigos “That I´ll never meet / Que nunca vou conhecer”. A letra inteligente faz até uma paródia ao dizer “My computer thinks I’m gay / Meu computador pensa que eu sou gay”.
“Hold On To Me” traz os vocais falados de Olsdal, que criam uma atmosfera confessional, parecendo conversar com “This Picture” e com “Without You I´m Nothing”. Nessa primeira metade do disco fica clara a tentativa da banda em voltar a ser o que era sem deixar de lado o que tem sido desde Battle For The Sun.
A guitarra distorcida e o contrabaixo forte fazem de “Rob The Bank” uma faixa peculiar sonoramente, não fosse aquele quê hedonista adolescente da letra, às vezes repetitivo, às vezes preciso, que fala basicamente de roubar e fazer amor.
“A Million Little Pieces” é um chamado ao lado soturno do álbum. Molko confessando ter “perdido a faísca” é comovente, sentimento acentuado pelas belas passagens de piano e pela percepção de sua sinceridade. Essa canção complementa a última faixa do álbum, “Bosco”, uma das mais tristes e bonitas. Ambas as canções, junto a “Begin the End” marcam o ponto alto de Loud Like Love, tanto pela capacidade que têm de tocar velhos e novos fãs, quanto pela junção da carga emotiva instrumental ao vocal forte e conciso de Molko.
“Exit Wounds” e “Purify” são boas, mas deixam a impressão de “já ouvi isso antes”. Não ficam deslocadas no conjunto da obra, mas são bem a cara do álbum anterior.
O mais importante a destacar é que além de uma nova fase, que nem é tão nova assim, já que Steve Hewitt saiu da banda há seis anos, o Placebo tem trilhado como uma banda madura. De certa forma foi deixado um pouco de lado um passado de “sexo e drogras”, mas não completamente. O fato de dois quarentões tocarem com um cara de vinte e poucos anos mexeu um pouco na estrutura sonora da banda, como pôde ser visto em Battle For The Sun. A princípio, o caminho de dosagem entre a essência da banda e o novo tem dado certo.
Nota: 7,5 / 10