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tmdqa/mpb: Uma carta aberta a Vitor Ramil

A coluna volta declarando amores por "Foi no mês que vem", novo disco do compositor gaúcho.

tmdqa/mpb: Uma carta aberta a Vitor Ramil

Vitor Ramil

Caro Vitor Ramil,

Estou já há algumas semanas tentando escrever uma resenha para seu mais recente disco, “Foi no mês que vem”, mas realmente não consigo. Desculpe-me. Poucas coisas no mundo me fizeram chorar tanto, nos últimos meses, como sua obra.

Ouvi falar dela, pela primeira vez, numa ida ao Rio Grande, vários anos atrás. Foi quando “Délibáb” chegou às minhas mãos. Não sei bem como, mas o disco foi um dos muitos que se perderam na infinidade de informações – boas e ruins – que nos cercam. Mas o nome ficou anotado, como se algum dia tivesse que procurá-lo. E procurei.

Meses atrás estava em um show do Ney Matogrosso, que cantou em um certo momento: “o tempo é o meu lugar, o tempo é a minha casa”. Foi ali, sem saber que a música era sua, que me emocionei pela primeira vez.

Naquele show, Ney cantou duas canções suas do mesmo disco: “Satolep Sambatown”. O álbum com Marcos Suzano foi a porta de entrada para sua música. Depois “Tambong”, “Ramilonga”, “Tango”… Até chegar àquele disco que passou desapercebido. Virei fã.

Pois é, Ramil. Acho que já ficou claro que esqueci a imparcialidade que se busca em texto jornalístico.

As suas letras se mostraram densas, melancólicas, reflexivas sobre os limites do real na vida cotidiana e me socaram, fizeram sorrir e se tornaram parte da minha vida. Muitas lembranças boas já surgem com suas músicas. Lembro de ouvi-las com minha noiva, apresentando por meio das músicas, esse Sul imaginário e idealizado que guardei em minha memória desde que visitei, desde que li Érico Veríssimo, tal qual uma Pasárgada. Uma réplica dessa sua Pelotas Satolep.

Creio que não sozinho. No meio de sua obra encontrei outros artistas que amo, como Ney, Milton, Lenine e o fenomenal Jorge Drexler. Além de outros fãs, que colaboraram em crowdfunding para que “Foi no mês que vem” chegasse hoje aos meus ouvidos.

O disco é uma revisita não a uma obra, mas à uma vida em 32 canções, recriadas com maturidade rara para esse tipo de projeto. Ele é uma introdução linda para quem quer conhecer sua obra. E talvez se emocionar como eu.

Parabéns por sua obra e por conseguir ter uma das carreiras mais genuinamente sinceras em sua totalidade que eu já vi.

Um grande abraço desse novo fã que estará feliz no seu show no Rio,

Daniel Corrêa