Resenha: Lenine - Labiata em Vinil

Escrever uma resenha de um álbum do passado de um grande artista. Isso é uma coisa que eu realmente gosto de fazer, apesar de esse texto não ser exatamente uma resenha do álbum e sim uma pequena forma de apreciar dois formatos diferentes de um mesmo grande trabalho.
Audiófilo (além de cultivador de orquídeas), Lenine lançou seu penúltimo trabalho em um CD digipack de luxo e também no, antes difícil de se encontrar, formato tão amado de vinil 180 gramas.

Labiata (nome retirado da denominação científica de uma espécie de orquídea) é o sexto trabalho do cantor, lançado em 2008, antes do experimental e poético Chão de 2011 e antes de Lenine.doc que trouxe músicas que não faziam parte de nenhum outro álbum lançado anteriormente. Com Labiata Lenine excursionou  por vários países da Ásia, Europa e África, mostrando ao mundo a sua mistura única, a sua inigualável técnica de batida rítmica no violão e sua voz marcante. Músicas como “Magra” (mais uma referência às orquídeas)  e “Ciranda Praiera” destacam-se por seu potencial pop e muito além disso, por sua grande qualidade poética.

Definitivamente é um ótimo álbum para iniciantes ao Lenineismo (não se confunda), trazendo uma construção musical várias vezes baseado em uma banda que tem o formato de banda de rock, com guitarras e linhas de baixo bem presentes e uma bateria sólida. Os violões de Lenine estão sempre lá, como a espinha dorsal das músicas, dando o direcionamento e o corpo para que o experimentalismo guitarrístico de Jr. Tostoi possa complementar o trabalho.

O conceito de Lenine pode ser encontrado em cada esquina do trabalho dedicado ao álbum, como por exemplo no fato de todas as linhas de voz terem sido gravadas em um orquidário, algo pouco comum, mas que definitivamente mostra seu comprometimento com a arte.

O álbum foi mixado totalmente em analógico e a sonoridade do CD já impressiona, mas é na versão em vinil que se pode apreciar a profundidade de cada composição. A sensação de imersão sonora, tão buscada por Lenine para o show do seu mais recente trabalho, já era algo a constar em suas gravações muito antes do surround declarado. A divisão das instrumentos nas caixas de som, a profundidade e dinâmica das músicas se torna algo tão nítido que a experiência musical faz com que Labiata seja algo quase mágico. No vinil, os instrumentos ficam logo ali na sua frente, diferente da distância cristalina do CD. E óbvio, a possibilidade de ter essa capa tão bonita em tamanho grande e um encarte que se abre em quatro partes e se torna uma espécie de poster, é a experiência que falta para aquele que não se contenta em apenas ouvir uma versão digital ou mesmo folhear as páginas de um encarte de CD. No vinil, a música está ali nos sulcos, ao alcance do tato, além de apenas estar disponível aos ouvidos.