Entrevistas

Entrevista: Nick Oliveri (Mondo Generator e The Situationalists)

O lendário artista fala sobre seus diversos projetos musicais, sobre suas passagens pelo Brasil e revela se também tem mais discos que amigos.

Nick Oliveri – projetos para o futuro

Entrevista: Nick Oliveri (Mondo Generator e The Situationalists)

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Entrevista por Stella Bruk e Thanira Rates
Transcrição por Amy Hill
Texto por Stella Bruk
Revisão por Angélica Albuquerque
Fotos, imagem e edição de vídeo por Thanira Rates

Em recente passagem pela Europa, Nick Oliveri realizou 17 shows em 18 dias com sua banda, Mondo Generator, na turnê do álbum Hell Comes To Your Heart. Nesta mesma passagem, ele presenteou os fãs com um show acústico em algumas cidades pela Europa.

Nick é incansável, mesmo tendo sofrido um grave acidente de carro em Junho deste ano, onde teve perda total do seu veículo, ele ficou apenas cinco horas no hospital e teve energia para ir em turnê pelo Alasca por nove dias após tal acontecimento, mesmo com vidros remanescentes do acidente encravados em sua cabeça. No Alasca, ele realizou alguns shows e iniciou o projeto The Situationalists, em parceria com Lowell George Granath e Cody Kniceley.

Entrevista: Nick Oliveri (Mondo Generator e The Situationalists)

Sempre simpático com os fãs, Nick não tem medo do seu público. Toma cerveja com os fãs como se fossem velhos amigos de longa data. Dá autógrafos e posa para fotos sempre sorrindo e disponível a todos.

Nick nos deu uma entrevista exclusiva, sentou-se à porta do Pub Black Heart, em Camden Town, onde faria seu show acústico, falou como as parcerias e amizades são importantes na sua vida, de como os amigos Hoss Wright, Ian Taylor e Mike Pygmie tornaram-se parceiros no Mondo Generator. Comentou da parceria e admiração por Alain Johannes, da participação de ambos no álbum Double Disco Animal Style, do Loading Data, e da sua apresentação junto com a banda no Glazart Festival, na França. Também falou com entusiasmo das três vezes que esteve no Brasil, para onde deseja voltar com seus novos projetos. Com muito humor, até brincou no momento em que um carro da polícia passava ao fundo com a sirene ligada: “Eles estão vindo pra me pegar”.

Entrevista: Nick Oliveri (Mondo Generator e The Situationalists)

Apontando para o futuro, Nick dividiu detalhes dos novos projetos: a sua parceria com Philthy Phil na banda The Situationalists; o projeto já em estúdio com a banda Sun Trash, com Sean Wheeler e Lightnin’ Woodcock; e do novo álbum do Mondo Generator, cujos integrantes entrariam em estúdio assim que a turnê europeia terminasse.

Confira a entrevista no vídeo abaixo (sem legendas) ou traduzida em português, e descubra se Oliveri também faz parte do time que tem mais discos que amigos!

Thanira: Obrigada por nos dar esta entrevista, Nick. Bom, para começar, como você conheceu o Hoss e o Ian e como eles juntaram-se ao Mondo Generator em 2007? E como o Mike se juntou à banda?
Nick: Bom, conheci o Hoss fazendo uma sessão com Mathias Schneeburger, que é um produtor alemão, e fizemos um disco chamado Dead Planet. Hoss trabalhava no estúdio e eu disse: “Ei, cara, eu tenho alguns shows pra fazer, você gostaria de fazê-los comigo?” E ele respondeu: “Sim, claro”, e tudo isso foi muito casual, muito legal e muito fácil. Ian eu o conheço há 20 anos. Sim, conheço-o há 20 anos ou quando eu estava nos meus 20 anos ou algo assim. Ele costumava me deixar dormir no chão ou no sofá dele quando eu estava vivendo o sonho de tocar no Coachella Valley, no deserto, tocando música com o Kyuss. E ele tinha uma banda chamada Unsound. Eles eram minha banda preferida na área do deserto, de onde viemos. Ian era o cantor da banda, e ele era bom. Eles eram muito bons. Quero dizer que eles eram fenomenais. Eu carregava as guitarras deles para entrar de graça a qualquer hora que eles tocassem. Mas, muitas vezes, não tínhamos lugar para tocar, então tocávamos com o gerador em festas no deserto (Generator Parties) e seu guitarrista, Brian Maloney, “Noite única com Brian Maloney”, ele trazia o gerador e outro cara, Mario Lalli, da banda Fatso Jetson, do outro lado do rio. E ele ficava comigo e outras bandas. Ele trazia o gerador ou Brian Maloney trazia o gerador e então tínhamos bons momentos juntos e sempre me deixava ficar na casa dele quando eu estava procurando um lugar para ficar quando eu era muito jovem. Eu sou músico, não tenho onde ficar. Conheço o Ian há 20 anos positivamente, ele é um irmão pra mim.

Thanira: E o Mike?
Nick: Mike é um super guitarrista. Eu o conheço desde que ele costumava tocar com a banda Operators. Ele tocava também em uma banda chamada Wizards. Ele costumava tocar também em uma banda chamada You Know Who… (um carro de polícia passa ao fundo e Nick brinca que eles estão a sua procura). Mas Mike é muito disciplinado, o melhor que você poderia ter em uma banda, porque quando você ouve sua guitarra, a técnica e a experiencia dele faz o som ficar num outro nível, ele realmente o faz. Mike é um cara legal por dentro (aponta para o peito) e por fora, ele é um cara legal. Ele é latino-americano e ele tem essas coisas de família com seus irmãos, suas amigas, com seus amigos, todo mundo, sua esposa, com todo mundo sempre próximo. Ele é um cara de boa, genuíno, bom aqui no coração (apontando o peito) e acho que não podíamos fazer o que estamos fazendo, ao nível que estávamos tentando ir, sem o Mike. Acho que o Mike elevou a banda a uma altura excitante, para escrever coisas novas, e a sua música é fenomenal, sua guitarra é fenomenal. Penso que nosso novo álbum vai ser algo imperdível!

Thanira: Então, vocês estiveram em turnê por aí nos últimos meses, certo? Na Europa foram 17 shows em 18 dias. Você tem tempo para trabalhar em novos planos além do Mondo?
Nick: Bem, nós fazemos, estamos fazendo. Quando voltarmos para casa, iremos direto para o estúdio do Josh, do Queens of The Stone Age, ele tem nos oferecido seu estúdio, Pink Duck, e eu comentei com ele sobre essas músicas e ele disse: “Cara, eu não estarei lá agora, o estúdio estará disponível”. Então vamos aceitar a oferta dele e vamos fazer o novo álbum do Mondo Generator. É muito generoso da parte dele nos oferecer seu estúdio, ele tem sido um bom amigo comigo e com Ian, com Hoss e Mike. Nós vamos fazer o novo álbum do Mondo Generator. Isso não vai demorar muito, nós vamos até lá, na baixa Los Angeles, onde moro, e escrever a melhor a música que pudermos escrever, e tirar as músicas que temos criado para fazer o melhor disco com 12 a 14 musicas que nós pudermos fazer. Nós estamos tentando escrever o máximo de canções; assim, escrever 30 músicas entre todos nós, não deveria ser uma coisa difícil. E tirar tudo que é bom, mas não excepcional e fazer o melhor disco que nós pudermos fazer. Então. quando voltarmos para a Europa e Reino Unido, traremos algo que importe, que importe muito.

Thanira: E quando os fãs podem esperar pelo álbum? Vocês têm mais ou menos um prazo?
Nick: Bem, nosso prazo, pessoalmente, seria antes do final do ano ter o álbum feito, é claro. E nosso prazo para o álbum ser lançado é, obviamente, a tempo para alguns festivais. Então, por volta da primavera (no hemisfério Norte), espero que o álbum saia, você sabe, primavera é a melhor época!

Thanira: Como foi trabalhar com o Loading Data? Você e o Alain produziram o álbum?
Nick: Bom, o Alain produziu o álbum e ele me ligou e disse, “Cara, quero que venha até aqui e cante em uma faixa”. Eu disse “estarei aí com você”. Alain é um cara que é importante, que é tão importante para a música. Tecnicamente, sua visão é maravilhosa, a maneira que ele toca, não tem comparação com mais ninguém! Se você for a sua casa, sua casa é como um estúdio: tem mais ou menos 40 diferentes instrumentos de todo o mundo e ele sabe tocar cada um deles, não apenas como “Ei, eu escrevi esta parte”, ele realmente sabe tocar o instrumento e todas essas coisas. Quero dizer tocar bem, e ele sabe realmente tocar bem, e é bem experiente. No mundo musical, todos gostaríamos de ser como o Alain. Eu queria ser tão inteligente como Alain. Ele e sua esposa Natasha, que descanse em paz. Eu acho que ele e ela eram tão unidos, ele era a única pessoa com quem ela poderia estar, porque ele era a única pessoa que poderia falar a linguagem da música, da vida, do mundo; ela era da Rússia, ela era uma mulher maravilhosa e não gostava de muitas pessoas. Se não gostasse de mim ou algum músico ou se ela gostava do que ele fazia, Alain sentia-se muito bem como “Wow, Natasha gosta do que ele está fazendo, é melhor eu continuar praticando para melhorar”. Ele não queria perdê-la como alguém que gosta de você como amigo. Então o Alain é da mesma forma, se você pode impressionar o Alain, é melhor manter trabalhando nisso porque ele é uma pessoa muito legal e influente.

Thanira: Ele é uma pessoa tão fácil de se lidar, quero dizer que deve ser tão bom trabalhar com ele.
Nick: Ele é o melhor. Você sabe o que é melhor sobre ele? Eu chego lá e faço um vocal, e eu mesmo não me vejo como um cantor, eu berro, grito e sou “arrrh”, dou tudo de mim e ele sempre me dá incentivo para tentar outras coisas. Não diz apenas “Você tem que tentar outras coisas!”, mas quando eu estou tentando alguma coisa diferente, ele vem e fala, “Ah, legal, sei aonde você quer chegar com isso! Quero que você continue tentando!”, e ele é um grande, um maravilhoso produtor e ele é uma excelente pessoa.

Thanira: A última vez que falei com ele aqui foi antes do show do Sound City Players e ele estava realmente feliz, que você podia sentir a paixão que Alain tem pela música em geral. É adorável.
Nick: Ah, é a sua vida, a musica é sua vida. É tudo.

Thanira: E quanto ao Sun Trash? É um novo projeto ou apenas privilégio para os californianos?
Nick: É um bom projeto e é especial porque tem Shaun Wheeler, que é como se fosse o “Mark Lanegan” do nosso deserto, da cidade onde crescemos; ele é um cara mais velho, que experimentou tudo antes de nós. E realmente esteve na merda, e saiu, caiu novamente na merda e voltou, e sobreviveu. Ele tem algo a dizer, e ele é um cara engraçado, ele é um cara sério, ele é tudo acima, ele é um grande cantor, e como Lightnin’ Woodcock tocando guitarra, ele é um musico de blues, ele mora no edifício onde vivo, musico maravilhoso, adoro tocar com ele. Seu filho, Wolf, tem 16 anos de idade. Eles têm musica na família, tem uma banda, escreve canções, e boas músicas! Quando eu tinha 16 anos, eu apenas tentava fazer as coisas, sabe?

Thanira: Essa galera de agora, eles são tão focados, eles tocam muito.
Nick: Eu era todo errado quando eu tinha 16 anos. Eu fumava, fazia tudo… enfim. Eu acho que tem muitos garotos hoje em dia que veem seus pais fazendo coisas erradas e eles mesmos tomam a decisão de não fazer o mesmo, eles veem as coisas melhores em seus pais, como música. E o pai dele, Lightin, é um grande guitarrista e o resultado disto é que Wolf, seu filho, toca pra caramba.
Então temos essa banda e Simon Stokes, um velho cantor de folk, ele canta letras malucas e toca coisas que não são normais em folk. Ele saía com Jimi Hendrix, era da sua turma. Ele tem por volta de 70 anos, ele aparece e canta uma canção. Somos quatro músicos: eu, Lightin, Shaun Wheeler e Scott Stokes. No palco, fazemos uma variedade de coisas ao vivo, como uma música do AC/DC (ele cantarola “Have a Drink on Me”). Eu faço o Brian Johnson porque eu posso fazer isso melhor do que os outros. Não dizendo que posso fazê-lo perfeito, mas posso fazê-lo melhor do que ninguém na banda.

Thanira: Podemos esperar algo em breve?
Nick: sim, podem, definitivamente.

Thanira: Como você começou a trabalhar com The Situationalists? É um projeto diferente do Mondo? Será muito complicado levar as duas bandas?
Nick: Eu fiz uma turnê no Alasca, que foi incrível, e quero dizer, quem vai fazer uma turnê no Alasca? Eu fui! Eu ainda estava com cacos de vidro na minha cabeça de quando bati o meu carro e não queria deixar de ir ao Alasca. Aconteça o que acontecer. Meu amigo Phil, quando eu o conheci na Alemanha há anos, quando estava em turnê com o Motörhead, eu falei: “não desapontarei você, cara, eu estarei aí, não importa o que acontecer, eu vou estar lá, se eu disse que eu vou estar lá, é porque eu vou”. Então eu fui, sou assim, eu sempre faço isso. Eu não volto atrás em uma coisa que eu digo que eu vou fazer, não faça isso, é uma maneira muito errada de ser…
Enfim, fiz essa turnê e fiquei feliz por ter feito. Conheci pessoas que eu respeito e que eu precisava no momento, na minha cabeça estava tudo embaralhado e eu estava um pouco tonto e, eu precisava daquilo, se eu parasse teria sido pior. Mas com The Situationalists tivemos um dia de folga, Phil reservou algum tempo no estúdio. Phil perguntou se queríamos um dia de folga e fomos ao seu no estúdio. Bem legal. Então o guitarrista Lowell, que é da banda Men With Guns, do Alasca, trouxe suas coisas e Cody também é um cara durão, ele também toca na banda Men With Guns. Assim que entrei escrevi algumas letras e eu escrevi uma canção, música e letra, e ele escreveu uma parte de guitarra; nós que escrevemos juntos e fizemos isso em um dia e nós, basicamente, fizemos um disco de 7 polegadas, The Situationalists, e ficamos todos muito animados com isso. Adoraria fazer um álbum completo…
Ir para o Alasca para viver e tocar é outra história… Tento dizer-lhes para virem para Los Angeles, podemos fazer alguns shows, podemos tocar por toda a América.

Thanira: Por que não trocar Alasca por LA seriamente?
Nick: Pois é o que eu estou falando. Ou vir e fazer o que chamamos de “os 48 abaixo”. Vamos fazer os 48 estados mais baixos e depois fazer alguns shows por lá. Eu realmente iria voltar para o Alasca e tocar, mas, então vamos ver.

Thanira: E como brasileira, não poderia deixar de perguntar sobre o Brasil. Como você sentiu o Brasil? Você esteve lá duas vezes, certo? Três vezes?
Nick: 3 vezes sim.

Thanira: Em diferentes vezes, o que você lembra do Brasil? Do que você gostou do Brasil? E você está ansioso para voltar?
Nick: Gente bonita, eles são ótimas pessoas. Todo mundo que eu conheci lá, rapazes e moças, foram todos maravilhosos, foi incrível. As pessoas gostam de festa. Tive realmente um tempo legal… Caipirinhas, é claro! [risos]
Foi muito louco, desde que o sol nasce até o pôr do sol, não paramos de festar. Dormir pra quê? Esqueça! Na hora de ir pra cama, era como: “Você está louco? Aonde vai? O que há de errado com você?”… O melhor público do mundo, Brasil! Quero dizer que as pessoas realmente têm uma paixão, fogo e muito mais do que em outro lugar, que na Itália, França, para além do Reino Unido, Estados Unidos.. E há uma paixão, um fogo que não se vê em qualquer outro lugar, e acho que estou apaixonado em pensar em voltar à América do Sul.

Thanira: Só para terminar, você tem mais discos que amigos?
Nick: Eu tenho muito mais discos que amigos. Milhares e milhares de mais discos que amigos. E eu amo isso!

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