No dia 8 de Abril de 1997, Brody Dalle (na época Brody Armstrong) mudou-se de Melbourne para Los Angeles para ficar com Tim Armstrong (seu primeiro marido), deixando sua primeira banda, Sourpuss, para trás e, então, montando um novo projeto musical, que teve seu nome retirado de uma destilaria em Melbourne (foto acima): Eu vivi em Geelong quando eu tinha 16 anos e é uma pequena cidade de praia industrial. Fica à uma hora de Melbourne, então você tinha que pegar o trem, e um dia eu passei por essa destilaria. Ela estava indo às ruínas e parecia que estava sendo perseguida; encoberta por algumas árvores ciprestes que estavam quase alcançando o nome da fábrica (The Distillers) no topo. Eu achei que era um ótimo nome para uma banda, então eu sempre o guardei.
The Distillers nasceu no final de 1998, quando Brody encontrou nos escritórios da Epitaph o baterista Matt Young e a baixista Kim Fuellerman. Como um power trio, a banda lançou em 1999 um EP homônimo pela Hellcat Records (de Tim Armstrong), em vinil 7 polegadas, com quatro faixas: “Old Scratch”, “L.A. Girl”, “Colossus U.S.A.” e “Blackheart”. Mas Brody parece ter sentido necessidade de uma ajuda extra na guitarra, e duas semanas antes de gravarem o seu primeiro álbum, eles encontraram Rose Casper Mazzola através de um amigo.
O disco que marcou a estreia do quarteto e que, assim como o EP, recebeu o nome de The Distillers, demorou três semanas para ser feito. Segundo Brody, o processo foi angustiante, pelo fato de nunca ter gravado um full-length antes. O álbum, então, foi lançado no dia 25 de abril de 2000, pela Epitaph de Brett Gurewitz (Bad Religion) e pela Hellcat Records. A partir deste lançamento, a formação da banda mudou várias vezes.
Kim foi a primeira a deixar o Distillers para se unir à Exene Cervenka (da lendária banda punk X) e fazer parte de sua nova banda, Original Sinners. Seus mesmos passos foram seguidos pelo baterista Matt. Na época, o Distillers estava próximo de ingressar numa turnê com o Rancid e AFI; logo, Brody tratou de preencher os postos vagos.
Ela conheceu o baterista Andy Granelli quando o Distillers fez alguns shows com a sua ex banda, The Nerve Agents. Brody então ligou para saber se ele poderia ajudá-la durante essa turnê e se poderia também arrumar um baixista, conforme o próprio Andy contou certa vez: Ela me chamou e disse, “tem essa turnê do Rancid que o Distillers fará e estaremos partindo em duas semanas. Você pode fazer? E pode nos arrumar um baixista?” Eu pensei, sim, eu posso fazer isso, então eu larguei o meu trabalho [ele trabalhava em São Francisco, dobrando camisas em uma loja de roupas de snowboard]. E achei um baixista, o Dante [que também era do Nerve Agents] – Eu falei, vamos sair em turnê, vamos fazer isso, não temos mais nada para fazer. E eu meio que permaneci, isso sempre pareceu o certo.” Porém, Dante não deu certo com o Distillers e foi para outros projetos. Novamente, a banda procurava um membro duas semanas antes de gravar o novo álbum.
Foi aí que Ryan Sinn surgiu. Ele trabalhava em uma loja de brinquedos/HQs/CD’s em Fremont, chamada Axis Records and Comics, e Andy o conhecia há anos como guitarrista de black metal. Ryan relembrou como foi recrutado: Ele me perguntou, “Você pode tocar baixo?” E eu disse não. Então eu saí e pensei sobre isso e resolvi tentar. Agora isso parece mais natural para mim do que tocar guitarra. Casper permaneceu até a finalização desse segundo álbum, Sing Sing Death House, mas Brody não tolerava mais sua falta de profissionalismo e, então, a expulsou do Distillers: Eu chutei a Rose da minha banda por ser uma adolescente promíscua e viciada em drogas. Eu não podia lidar mais com isso. Eu abandonei a minha falsa filha!
Sing Sing Death House, cujo título foi inspirado no documentário Inside the Sing Sing Death House (sobre a prisão de segurança máxima Sing Sing Correctional Facility), foi lançado no dia 06 de Junho de 2002 e suas sessões de gravações não foram tão tranquilas: Nós o gravamos em um estúdio em Hollywood, em duas semanas, e durante esse período um dos técnicos fumava crack direto, o que nos tirou quatro dias dessas duas semanas que tínhamos para gravar o disco. Foi tudo tão apressado – era tipo: uma música era composta, ensaiada e gravada porque nós não tínhamos tempo algum de voltar atrás e repensar sobre, Andy expôs.
Andy também contou que o disco não alcançou as capacidades da banda no momento, embora ele tenha atraído para o Distillers boas críticas, novos fãs e a oportunidade de sair em turnê com o No Doubt e Garbage em 2002/2003. Aliás, no final dessa turnê e logo antes da banda viajar para o Japão, Brody resolveu chamar Tony Bradley Bevilacqua (que já trabalhava com a banda como vendedor de camisas e depois como roadie) para ser um membro oficial do Distillers: “Foi totalmente instintivo. Ele é um ótimo guitarrista,” disse Brody.
Ainda em 2003, Brody se divorciou de Tim Armstrong, mudou seu sobrenome para Dalle (uma homenagem à sua atriz favorita, Béatrice Dalle, estrela do filme Betty Blue) e a banda assinou com a grande Sire Records, do grupo da Warner Music. Coral Fang foi lançado em 14 de Outubro de 2003 e não agradou os fãs punks puristas da banda, por ser um álbum bastante distinto dos outros dois. Andy explicou o motivo para tal mudança: Nós meio que quisemos fazer algo diferente, não apenas a velha e mesma coisa de sempre. Há algo no disco que o torna mais empolgante, mas ao mesmo tempo, continuamos quem somos – continua o Distillers. Não espere um disco tipicamente punk rock de nós. Nós meio que mostramos que podemos fazer isso, então decidimos explorar mais os diferentes estilos de música que ouvimos. Já Brody, declarou: Nossa música ganhou maturidade com este álbum. Embora não a tenhamos, ainda somos uma banda punk, ainda tocamos punk e ainda odiamos você.
Mas o álbum, que foi inspirado no momento de transição pela qual a vida de Brody passava, teve uma boa recepção no geral e levou a banda para tocar nos palcos do festival Lollapalooza. Porém, muita coisa aconteceu após o lançamento de Coral Fang e suas turnês de sucesso. Como já era de costume, a formação do Distillers sofreu novamente. No começo de 2005, Andy Granelli largou a banda (sem avisar) para se dedicar ao Darker My Love, o que deixou Brody bastante magoada: As coisas realmente estavam complicadas no final. E a forma como Andy nos deixou, eu realmente me senti apunhalada pelas costas porque ele foi participar [de outra banda] e nunca me disse nada. Então isso foi doloroso.
No mesmo ano, Ryan Sinn também saiu da banda para tocar com o Angels & Airwaves (banda do guitarrista do blink-182, Tom DeLonge), o que agravou ainda mais a crise no Distillers. Segundo Brody, a “culpa” pelos dois terem deixado a banda foi porque a gravadora estava forçando a saída de um novo disco e todos estavam indispostos: Criativamente, nós havíamos dado de cara com a parede e estávamos exaustos, nós estávamos em turnê por dois anos direto e estávamos com os nervos à flor da pele… Foi uma época nem um pouco saudável e nós todos implodimos.”
Infelizmente, essa crise na banda também afetou o relacionamento do grupo como amigos (que até têm uma tatuagem em comum: Um coração preto na mão direita), embora hoje em dia Brody já tenha feito as pazes com Andy: Foi um momento estranho para o Distillers. Nos tornamos realmente segregados e paramos de sair uns com os outros. Isso danificou o nosso relacionamento. Além disso, eu sendo a pessoa à frente da banda, ficando com a maior parte dos elogios e tudo escrito, incomodou algumas pessoas.
Com o Distillers engavetado, Brody Dalle se casou com Josh Homme (Queens of the Stone Age). Durante a gravidez da sua primeira filha (Camille Homme), rumores de que o destino da banda havia chegado realmente ao fim foram espalhados. Em Março de 2007, Brody anunciou o seu novo projeto, Spinnerette (que contava com a participação de Tony Bevilacqua). Junto com este anúncio, Dalle avisou que o Distillers ainda existia, “só que não do jeito que você conhece”. Mas, em certas entrevistas concedidas entre 2008 e 2009, ela chegou a dizer que a banda realmente havia acabado e que seu foco estava voltado para o novo projeto: [Spinnerette] É definitivamente o que eu quero fazer e é um pouco mais complexo do que o Distillers. Eu amo o Distillers, mas isso é realmente apenas uma reta em frente para ser seguida, fácil, sem muita coisa para pensar – exceto minhas letras, eu penso muito sobre as minhas letras. Mas a música é simples. E Spinnerette com certeza está atirando em uma diferente direção.
Brody também contou que achava que a nova banda era mais notável que a anterior: “Eu acho que é por conta da dinâmica. Distillers não tinha realmente dinâmica alguma, foi só um acidente de trem, sabe, todo o caminho. O qual é muito excitante também, mas é difícil.” O status atual do Distillers ainda continua com uma interrogação. Porém, no dia 17 de Junho de 2011, Dalle confirmou os rumores que diziam que a banda havia se reunido em estúdio, em 2010, mas sem o Ryan: Eu sei que alguns de vocês querem que o Distillers volte… Eu tentei, eu tentei de verdade… Andy, Tony e eu gravamos com Greg Ginn, em Outubro do ano passado. E simplesmente [o Distillers] não era o mesmo nessa “conjuntura”. Contudo, ela deu esperanças para os nobres corações, que ardem de dor desde quando a banda “desapareceu”: “Isso não quer dizer que o Distillers não voltará, apenas agora não é o momento”.
De todo modo, com o grupo ainda vivendo às custas de aparelhos respiratórios ou não, Brody certamente já conseguiu deixar registrado e alcançar o seu real objetivo com a banda: Eu gostaria de deixar um legado de música honesta e isso é o que é, sabe? Eu apenas quero que ela traduza isso e que eu dei 100% de mim e que não subi nas costas de ninguém para chegar onde eu espero chegar e que eu não fudi ninguém por isso, sabe o que quero dizer?
Artes polêmicas
As artes de Coral Fang (feitas por Tim Presley) são baseadas nas letras do álbum e, principalmente, numa letra que Brody escreveu, sobre uma mulher grávida que foi assassinada em um parque em Melbourne. A música nunca foi gravada.
O disco foi lançado com três capas diferentes: A original foi censurada e alguns locais se recusaram a vender o álbum com aquela capa. A segunda capa foi criada para que, então, essas lojas pudessem vender o disco. A terceira capa mostra uma garota nua na cruz, em vez do seu desenho. Esta só está disponível na versão em vinil, que é raríssimo, pois foram feitas somente mil cópias na cor cinza.
Faixas extras
A banda chegou a gravar para o álbum um cover de “Walls Come Tumbling Down”, do Style Council (projeto pós-Jam de Paul Weller), mas a música não entrou para a track listing. “Cincinnati” também havia sido gravada para Coral Fang, mas acabou sendo lançada somente no single de “Drain The Blood”.
The Distillers e videogames
Quatro faixas de Coral Fang foram parar em trilhas sonoras de games: “Drain the Blood” faz parte do jogo Gran Turismo 4 e foi disponibilizada para download no Rock Band; “Beat Your Heart Out” pode ser escutada nos jogos Tony Hawk Underground 2 e Spider-Man 2; “Dismantle Me” fez parte da trilha sonora de MTX Mototrax; e “Hall of Mirrors” (que foi eleita pela Kerrang! Como a melhor música de 2003), foi incluída na trilha do jogo True Crime: Streets of LA.
Coral Fang
Composto por 11 faixas escritas por Brody Dalle, Coral Fang conta com participações de Dan Druff (na guitarra) e Mike Fazano (na bateria). O álbum foi produzido pelo experiente Gil Norton, mixado por Andy Wallace e masterizado por Howie Weinberg.
Abaixo, ouça o registro na íntegra, via Deezer.