Resenha: Pearl Jam - Lightning Bolt

<B>"Lightning Bolt"</b> tem altos e baixos, mas mantém o alto nível da discografia do grupo mais versátil da geração Seattle.

Pearl Jam - Lightning Bolt

Pearl Jam - Lightning Bolt

O Pearl Jam lançou oficialmente na terça-feira (15) Lightning Bolt, o décimo álbum da carreira. Muito antecipado pela ótima recepção dos dois primeiros singles – a acelerada “Mind Your Manners” e a emocional “Sirens”Lightning Bolt rapidamente se tornou o trabalho mais aguardado do Pearl Jam em muitos anos. Talvez o mais antecipado globalmente desde que Binaural (2000) frustrou as expectativas criadas por Yield (1998).

Forte mas nem sempre urgente, Lightning Bolt começa com “Getaway”, composição de Eddie Vedder onde o frontman defende a fé livre – “I got my own way to believe, it’s ok / Sometimes you find yourself being told to change your ways, there’s no way” – cercado por um instrumental robusto comandado pelo baixo de Jeff Ament. A conhecida “Mind You Manners”, com música do guitarrista Mike McCready, é uma tentativa assumida de soar como uma versão atualizada do Dead Kennedys, mas no lugar da acidez irônica de Jello Biafra, temos Vedder refletindo sobre a influência de grandes grupos políticos ou religiosos na humanidade. Outra faixa vigorosa é a seguinte, “My Father’s Son”, onde Vedder exibe a garganta em forma sobre uma das melhores composições de Ament em muito tempo.

As composições de Mike McCready têm ganhado cada vez mais espaço dentro da banda. Além de “Mind Your Manners”, o inquieto guitarrista também escreveu “Sirens”,  segundo single do álbum, desta vez inspirado após assistir a um show de Roger Waters (Pink Floyd) na turnê recente onde revisita o clássico The Wall (1979). Vedder alcança a inspiração de McCready com versos doloridos, que parecem uma despedida de alguém prestes a morrer.

A faixa-título do disco dá sequência com outro instrumental potente, e tem várias das marcas registradas do Pearl Jam – do solo inspirado de McCready ao final épico, perfeito para grandes plateias. “Infallible” e “Pendulum”, as duas canções seguintes, foram escritas por Jeff Ament em parceria com o guitarrista Stone Gossard, e são músicas que, apesar de lentas, distanciam-se da pieguice. Mas enquanto “Infallible” é redentora, “Pendulum” – sobra das sessões de Backspacer (2009) – abre as portas para um experimentalismo saudável, com instrumental tenso e misterioso.

A partir daí, Lightning Bolt começa a tropeçar em si mesmo. “Swallowed Whole” louva a natureza com música pouco inspirada. O blues em afinação aberta “Let the Records Play” é a única contribuição solitária de Gossard e é um dos pontos altos do disco, mas dá vez a “Sleeping by Myself”, um grande gol contra. A música foi lançada em Ukulele Songs (2011), segundo disco solo de Eddie Vedder, mas enquanto lá era talvez a faixa mais bonita do álbum, aqui perde brilho com um arranjo folk genérico. Dispensável. A apática “Yellow Moon” também não inspira, e “Future Days” encerra o álbum com uma sensação de que foi bom, mas poderia ser melhor.

Somando-se as doze faixas, Lightning Bolt forma um grande álbum. Mas como outros lançamentos da banda, alterna momentos de grande inspiração com boas ideias pouco exploradas. Seu maior êxito não é ser uma obra única e inquestionável, mas provar a habilidade do Pearl Jam em manter o alto nível da discografia do grupo mais versátil da “geração Seattle”. É uma peça, parte essencial para compreender-se o todo.

Em 2006, quando lançou o álbum homônimo Pearl Jam, a banda pareceu desmerecer a decisão de batizar um disco com o próprio nome. A capa, um abacate aberto contra um fundo azul, não tem nenhum significado profundo; veio de uma piada interna por não saber que rumo tomar em relação à arte gráfica do trabalho. Mas as semelhanças entre Pearl Jam, Backspacer e agora, Lightning Bolt, não negam: foi naquele álbum que o Pearl Jam freou a busca interna pela própria identidade, e assumiu a meia-idade sem constrangimentos.

Nos três, há momentos punk (“Comatose”, “Gonna See My Friend”, “Mind Your Manners”, respectivamente), baladas intimistas (“Parachutes”, “The End”, “Pendullum”), rocks de grandes refrães (“World Wide Suicide”, “The Fixer”, “Getaway”) e canções reflexivas (“Inside Job”, “Amongst the Waves”, “Sirens”). Pela primeira vez em mais de 20 anos de carreira, não vemos mais a banda sofrendo por vários lutos simultâneos como em Riot Act (2002), excedendo-se no experimentalismo como em No Code (1996) ou perdida no legado recente do grunge em Binaural.

Juntos, Pearl Jam, Backspacer e Lightning Bolt formam uma espécie de álbum triplo desenvolvido ao longo de mais de meia década, em uma sequência de lançamentos que, se não impressionam sozinhos, formam uma série respeitável de álbuns coesos e bem-resolvidos, com poucos pares no cenário musical da atualidade.

Nota: 7,5 / 10