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Entrevista exclusiva: Tiago Iorc

Veja nosso bate papo com o cantor brasileiro que já rodou o mundo e está com disco novo na praça.

Entrevista exclusiva: Tiago Iorc

Tiago Iorc

Por Patrício Lima

Tiago Iorc talvez seja o cantor mais gringo da atual música brasileira. Nasceu em Brasília (DF), mas deu seus primeiros passos em Londres.  Voltou para o Brasil, dessa vez a Passo Fundo (RS), onde tinha uma vizinha que tocava violão e o estimulou a dar os primeiros acordes no que seria futuramente seu principal companheiro. Retornou a morar fora (EUA), e anos depois voltou novamente para seu país, mais precisamente Curitiba (PR), onde enfim se dedicou completamente à música, e sempre com o Inglês como melhor maneira de expressar o que sentia em suas composições.

Alguns anos se passaram e hoje Tiago Iorc está em plena turnê nacional do seu terceiro disco, Zeski (2013), e prestes a embarcar novamente para a Coréia do Sul, onde já esteve no top 10 da Billboard, e até teve música como tema de seriado teen dos orientais, assim como no Brasil onde emplacou várias músicas em séries e novelas.

O TMDQA! aproveitou uma folga na agenda atribulada do cantor para saber das novidades da sua carreira, curiosidades do processo de produção do Zeski, colaborações, novo clipe com Maria Gadú, e provavelmente um dos grande desafios em sua carreira, que foi compor e cantar músicas em Português em seu novo álbum.

TMDQA!: Quando foi o start para a produção do seu novo disco, Zeski?
Tiago Iorc: A faísca inicial do disco foi no fim de 2012, quando me reencontrei com o Maycon Ananias que é um baita músico e produtor musical. A gente se topou em uma festa de aniversário do meu selo SLAP (Som Livre Apresenta), que reuniu todos seus artistas como Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Ana Cañas, Silva, entre outros. Cada um apresentava suas músicas, e acabavam rolando participações entre si. Foi quando conversei com o Maycon, que tocava na banda da Gadú, depois fui apresentado ao Silva, e foi a partir daí que surgiram as primeiras ideias, que futuramente dariam nascimento às várias parcerias no disco. Eu estava saindo da turnê do Umbilical (2011), e foi ali que eu comecei a organizar composições para o disco novo, já a trocar figurinhas com o Maycon – produtor do disco – sobre um novo trabalho. Ele foi pra Curitiba, trocamos varias ideias e tudo seguiu naturalmente.

TMDQA!: Então tudo começou com essas parcerias?
Tiago Iorc: Na verdade no início parecia mais uma continuação do que eu estava fazendo. Daí como eu já havia tido esse contato com a Maria, aproveitei para convidá-la a fazer uma regravação de uma música do Cidadão Quem. Veio também a parceria com o Silva, um cara que tem um trabalho que me encantou, e da mesma maneira com o Daniel Silva.  Eram dois universos ao mesmo tempo, mas que acabaram se tornando um projeto só e consolidado.

TMDQA!: Como foi compor e cantar músicas em Português pela primeira vez em um disco seu? Você viu algum conflito em um álbum com músicas em Inglês e Português?
Tiago Iorc: Minha maior preocupação foi que eu conseguisse fazer algo compatível ao que já vinha fazendo em Inglês, onde tenho mais facilidade, e a melodia já vem com palavras. Quando veio a oportunidade de fazer algo em Português fui tentando encontrar uma nova forma de escrever e cantar. Tornou-se um universo completamente diferente. Percebi isso quando fui gravar em Português. Era como se fosse uma pessoa de fora, um gringo cantando. Tudo esquisito! Eu tive que estudar para poder gravá-las. E foi maravilhoso, porque eu realizei uma coisa que estava latente para mim e os fãs. Esse casamento foi uma grande alegria! No momento que as músicas surgiram ficavam bem claro que os dois universos se coexistiam.

TMDQA!: Você se sentia pressionado a cantar em Português?
Tiago: Nunca me incomodou e nunca senti como uma pressão. Desde o início eu faço musica do jeito que ela vem. Eu gosto que seja assim! Essa questão de ser aqui e cantar uma música em Inglês, pra mim é um caso à parte. Porque sou daqui, mas sou de lá também. Passei muitos anos fora, e os anos mais fundamentais. Tanto que os dois idiomas são fluentes pra mim. O que tira esse mérito de desmerecer isso. Até porque não parece um brasileiro cantando, e são as pessoas daqui dizem isso. Meus primeiros anos de vida foram na Inglaterra, e depois ainda morei nos EUA. A língua pra mim é só mais um instrumento da música. Eu sou exemplo vivo dos reflexos vivos dessa globalização no mundo. Eu gosto de viver. A música é infinita, e essa é a beleza. Tudo vale desde que ela que ecoe comigo e reverbere pras pessoas. De repente eu quero ir pra Coreia e resolvo fazer um disco em coreano. E por que não?

TMDQA!: Por falar em Coreia, sua música “Nothing But A Song” chegou a ser trilha de seriado teen de lá e ficou muito bem cotada em paradas de países vizinhos. Como você explica o sucesso nesses países da Ásia?
Tiago: Meu primeiro disco, Let Yourself In, foi lançado no oriente, e foi a partir daí que todas as portas se abriram. Fui convidado para fazer uma mini turnê em 2009 por lá, e tinha um amigo entusiasta do meu trabalho, que sempre dava essa força. E com o sucesso de “Nothing But A Song” e a força desse amigo, ela foi parar na trilha de um seriado na Coréia do Sul.  A repercussão foi tão boa que até hoje minha música ainda toca por lá, da Coréia às Filipinas. Meus três discos foram lançados nesses países, e agora em novembro retorno para uma nova turnê do Zeski e as músicas dos primeiros discos.

TMDQA!: Além da Ásia, você tem projetos de expandir sua música para outros continentes?!
Tiago: Sem dúvida, até porque meu trabalho proporciona isso. Esse ano toque em um festival nos EUA e a resposta foi muito boa. E o legal é que o público é muito mais de lá, do que necessariamente brasileiros radicados, o que te traz uma nova visão de como tá sendo esse feedback. E meu objetivo agora é esse. Mas antes tenho que conseguir estar mais presente. Pra ser lembrado tem que ser visto. Hoje meu trabalho no Brasil tá mais consolidado por causa disso.  Porque estou aqui, e posso me dedicar a coisas além da música: entrevistas, mídia, promoções, etc.

TMDQA!: Em qual momento você define sua grande virada pra se tornar um artista conhecido nacionalmente? E como isso aconteceu?
Tiago: Foi com o sucesso relâmpago de “Nothing But A Song”. Na verdade, ela foi feita meio que por acaso. Eu havia feito um trecho dela e mandado para alguns amigos por email. Essa música era só um trechinho da original, tipo “Untitled Song”, sei lá (risos). Esse trecho foi parar nas mãos de uma pessoa da Som Livre, que entrou em contato comigo, perguntando como era meu trabalho autoral. Ele gostou do que ouviu, e pediu pra terminar a música e gravar uma demo e poder mostrar para a cúpula da gravadora.  Terminei de escrever, gravei no estúdio de um amigo, e mandei. Na outra semana estava na Malhação. E foi aí onde tudo começou, e surgiu para o convite para gravar o “Let Yourself In” pela SLAP (Som Livre Apresenta), da Som Livre.

TMDQA!: Que diferenças você vê no Tiago do primeiro disco para seu trabalho mais recente?
Tiago: O que mais me chamou a atenção fazendo um comparativo é minha voz. Acho que no primeiro disco tinha resquício do meu trabalho como vocalista de uma banda da noite, que tocava de Paralamas a Jamiroquai. Um ambiente de música barulhento, normalmente com equipamentos não tão bons, onde não se ouve tão bem, e o que é fundamental para um músico. O primeiro disco foi uma consequência bem grande dessa vida, de não saber como usar meu aparelho. E eu me desgastava muito nos shows; Acostumado a emular outros artistas, e ficava assim. Era uma colocação que não era pra mim. Aí com o tempo eu fui ouvindo mais. Tinha um gravador no qual ficava me ouvindo com um fone e foi onde comecei a conhecer melhor, e estudar meu timbre. Enfim encontrei o que eu queria.

TMDQA!: Você vê seus três discos com essências distintas?
Tiago: O primeiro disco – Let Yourself In (2008) – foi um pouco pasteurizado, porque surgiu como uma encomenda da gravadora, com músicos de estúdio, produtor, e tudo mais já definido por eles. O segundo disco – Umbilical (2011) – já foi outra coisa. Formou-se uma banda, e tinha uma sonoridade de banda mesmo, inclusive com um som mais pesado. Deu tão certo que nos tornamos grandes amigos. E o último – Zeski (2013) –  foi uma junção de grandes músicos como Jesse Harrys (guitarras),  Bill Dobrow (bateria), entre outras feras. Realmente ele foi um disco mais colaborativo, mas onde eu pude explorar novas texturas, e claro, enfim cantar músicas em Português.

TMDQA!: Como você se auto define musicalmente?
Tiago: Eu sou muito musical, da melodia. Minha base é o vocal e o violão, mas toco um pouco de guitarra por consequência, entre outros instrumentos como piano e afins.  Além disso, sempre gosto de dar minha opinião na produção dos discos.  O que mais pega é a questão melódica, confesso que eu gosto de interferir, sempre visando aquele som que me agrade. No violão por exemplo, toco com uma afinação um tom abaixo, e sempre explorando com o capotraste.

TMDQA!: Você fez uma parceria muito frutífera com o fotógrafo e  videomaker Rafael Kent. Como foi o processo de produção dos clipes do seu novo disco?
Tiago: Gravamos uma série de clipes na última viagem que fiz para os EUA. A equipe era eu e ele. O que ajuda é que a gente é muito complementar e gosta de trabalhar um com o outro, o que gerava um casamento muito bacana. Lançamos agora o clipe de “Música Inédita” que foi gravado na casa do Rafael em clima de improviso, e em breve deve estar saindo o de “What Would You Say”.

TMDQA!: Como foi essa parceria com a Maria Gadú?!
Tiago: É uma pareceria que eu adoro. Conheço a Maria muito antes de nos tornamos conhecidos. Essa dobradinha surgiu como havia dito antes como brincadeira na festa do nosso selo, e tornou-se realidade. Ela topou de primeira, ainda mais por ser uma música de uma banda que nos adoramos que é a Cidadão Quem.

TMDQA!: Quais os grandes ídolos e o que o Tiago Iorc tem escutado ultimamente?
Tiago: Tem muita gente que eu adoro! Paul McCartney, John Lennon. Michael Jackson, Freddie Mercury, e tantos outros, como Jeff Buckley, que fez um dos meus discos preferidos que é o Grace (1994), e tenho até tatuado. De novo eu destacaria o trabalho do Silva que é muito bom, e uma banda que escutei recentemente chamada Chvrches (Churches).

TMDQA!: E pra finalizar, quando teremos Tiago Iorc em vinil?
Tiago: Ainda não há nada concreto, mas acho que vai rolar com o Zeski. Tenho muita vontade, porque a arte do disco fica bem mais valorizada. Eu quero muito que aconteça!