Resenha: Vitor Ramil no Rio de Janeiro

No ótimo Theatro Net Rio, cantor e compositor gaúcho recria sua trajetória em grande show.

Resenha: Vitor Ramil no Rio de Janeiro

Texto: Nathália Pandeló e Daniel Corrêa

Fotos: Nathália Pandeló

Você pode não ter ouvido falar dele, mas Vitor Ramil não é nenhum novato. Longe disso. Com uma carreira que caminha para os 30 anos, ao longo dos quais lançou 10 discos, o cantor e compositor gaúcho já teve canções gravadas por Zizi Possi, Gal Costa, Mercedes Sosa, Ney Matogrosso e Milton Nascimento. Vitor tem uma voz única para criar letras cheias de personagens e situações – e certamente muito que relembrar dessa trajetória.

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Relembrar e reconstruir é a proposta do show “Foi no mês que vem”, que lança o disco de mesmo título e um Songbook, com algumas de suas principais canções. Foi esse  espetáculo que marcou a volta do cantor aos palcos do Rio de Janeiro, com uma noite de casa cheia no fantástico Theatro Net Rio e nosso primeiro encontro com esse artista que nos emociona tanto.

Embora as vozes de Milton Nascimento, Kátia B, Kleiton e Kledir e Ian Ramil, o baixo de André Gomes, a percussão do carioca Marcos Suzano, o violão do argentino Carlos Moscardini e tudo que os (incríveis) convidados daquela noite trouxessem, só é possível medir o impacto de um espetáculo desses ao imaginá-lo despido de tudo o que supostamente o torna especial. E foi ao subir ao palco sob os aplausos veementes da plateia que ficou claro que as projeções dos belos vídeos de Isabel Ramil e Biel Gomes e o desfile de parceiros talentosos só evidenciavam a atração principal da noite: a delicadamente potente voz de Vitor Ramil, seu violão, suas histórias cantaroladas e canções contadas.

Ramil é um cronista ao acaso. Suas canções são visuais. Ao ouvir, é complicado não imaginar uma situação para aquele diálogo, para aquela história. E isso surgia já na primeira música, “Foi no mês que vem”, interpretada munido apenas das cordas de seu violão. A canção dá nome ao disco produzido esse ano por financiamento coletivo. Primeiro idealizado como um projeto acústico, o disco contou com muitos dos parceiros mais próximos de Ramil. Não é uma mera coletânea, é uma ode à amizade e à memória. Essa delicadeza nos arranjos colocava em evidência um de seus fortes: as letras. Vale destaque para a execução ao vivo, sem sequer uma espiadela na cola, de “Joquim”, com versos tão épicos quanto aqueles de Bob Dylan em “Joey”.

Convidando o filho Ian e os irmãos Kleiton e Kledir, Vitor aproveitou para recordar histórias engraçadas da época em morava ali perto de Copacabana, no bairro Peixoto, do período em que gravou o primeiro disco e até de quando tentava aprender a cantar ouvindo Milton Nascimento, o convidado que encerrou as participações especiais arriscando até uns acordes no violão. Mas foi no balanço da percussão de Marcos Suzano, com quem Ramil lançou o excelente “Satolep Sambatown” em 2007, que o repertório foi mais generoso. O duo tocou “Livro Aberto” e “Viajei”, duas das melhores do disco.

O público pode ouvir ainda “Invento”, “Astronauta lírico”, “Que horas não são?”, “Deixando o pago”, “Estrela, estrela”, “Noite de São João” e “Loucos de cara”, entre outras. Só faltaram Ney Matogrosso e Jorge Drexler. Todas as canções renovadas pelo fôlego que os anos proporcionam, revisitadas com um novo olhar em um show tão incrível quanto o álbum, que é um dos melhores discos nacionais desse ano.

Setlist:

  1. “Foi no mês que vem”
  2. ‘Invento”
  3. “Espaço”
  4. “A resposta”
  5. “Passageiro”
  6. “Ramilonga”
  7. “Tango da independência”
  8. “Estrela, estrela”
  9. “Noite de São João”
  10. “Deixando o pago”
  11. “Loucos de cara”
  12. “Livro aberto”
  13. “Neve de papel”
  14. “Viajei”
  15. “Que horas não são?”
  16. “Joquim (Joey)”
  17. “Não é céu”
  18. “Morro velho”
  19. “Astronauta lírico”
  20. “Grama verde”
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