Entrevista exclusiva: Nenê Altro

Conversamos com o músico sobre o retorno do <strong>Seek Terror</strong> (ex-Sick), novo álbum e seus demais projetos.

TMDQA! Entrevista: Nenê Altro

Foto: Marcelo Sevillo (Roxo)

Considerado um dos precursores do movimento staight-edge no Brasil, militante anarquista, escritor com 3 livros publicados e líder do Dance Of Days, uma das bandas de hardcore mais presentes na cena independente paulistana desde os anos 90, Nenê Altro coleciona na bagagem uma série de projetos que já desenvolveu: bandas, zines, folhetins, coletâneas, selo de disco e até uma produtora de shows. A bola da vez é a volta do Seek Terror (ex-Sick), banda punk que existe desde 1999 e que inicia uma nova fase.

A Seek Terror acaba de lançar Ódio e Resistência, álbum que inclui 17 faixas e já pode ser ouvido e baixado no site dos caras. A banda é formada por Nenê, nos vocais, Marcelo Verardi (também do Dance Of Days) na guitarra, Anselmo (Inocentes) no baixo e Sandro Dias, na bateria.

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Conversamos com o cara a respeito dessa nova fase e sobre seus outros projetos.

Confira!

TMDQA!: Sabemos que o Seek Terror acabou de mudar de nome, deixando o antigo Sick Terror para trás e começando uma nova fase. Por que houve essa mudança?

Nenê Altro: Quando o Marcelo saiu do Sick Terror em 2002, após a tour da Europa, eu já senti que a coisa estava perdendo o sentido, pois ele que criou a banda comigo. A sonoridade mudou bastante, do punk cru, raw core, passou a ser mais power violence e crossover. Ainda assim me adaptei e foi uma fase bem ativa, lançamos um LP e tudo mais. Após a tour de 2004 desse LP eu definitivamente não me via mais tocando ali, e em 2005 saí da banda. Sinceramente achei que a banda ia acabar, pois os dois membros fundadores haviam saído, mas não foi o que aconteceu. Alguns anos depois quisemos voltar, mas os antigos membros ainda anunciavam atividades, então pra não esquentar a cabeça seguimos com o nome Total Terror Decay e tocávamos muitas músicas (nossas) do Sick Terror. Depois, o TTDK acabou e eu e o Marcelo ensaiávamos a ideia de montar uma banda que remetesse ao início do Sick Terror, com as músicas mais porradas e outras na linha de Inimigos Por Natureza. Na metade de 2012 encontramos com o Sandro Dias, antigo baterista que fez o fim da tour Peste Católica e gravou o Aborto Legal, e resolvemos fazer um show em Janeiro de 2013 que nem era pra ser de reunião, mas um reencontro pra celebrar tantos anos de amizade e tantos discos. Nesse meio tempo recebemos um e-mail formal alertando que o antigo baixista havia registrado o nome Sick Terror e não permitia o uso. Fomos nos informar e realmente, o pai dele havia registrado o nome da nossa banda. Então preferimos mudar o nome e seguir adiante, até porque não gosto de tudo que gravei com o Sick Terror, principalmente do final, e nem tanto pela música, mas porque era uma coisa muito patrãoXempregado, a gente “tinha” que gravar tal dia, eu “tinha” que escrever trinta letras até “tal dia”, então não saia espontâneo. Então como as músicas que eu fiz com o Marcelo para o Peste Católica e Aborto Legal já estavam registradas em meu nome decidimos mudar para Seek Terror e seguir adiante tocando elas, gravar um novo disco e tudo mais.

TMDQA!: Falando em mudanças, o Anselmo, do Inocentes, assumiu o baixo. Como foi e por que aconteceu essa mudança?

Nenê Altro: Então, após o fim do Total Terror Decay o Fernandinho tocou baixo em uma banda comigo chamada Maldita Minoria, que chegou até a lançar um CD, mas não rolou muito devido a problemas de agenda, distância entre membros e compromissos da vida. Quando começamos a ensaiar pra esse show de reencontro do Seek Terror fizemos no mesmo estúdio e nos mesmos dias dos ensaios do Dance of Days, por isso facilitava, mas na época nem tínhamos a ideia de voltar mesmo com a banda. O Fernandinho ia fazer só esse show, depois tentou ficar e até gravou o disco, mas os horários de trabalho dele não batiam, então decidiu sair. O Anselmo é um velho amigo nosso, punk antigo de São Paulo, que conhecemos desde os anos 90 (ou antes), chegou a gravar backing vocals no disco novo da gente, então tê-lo na banda foi uma felicidade imensa.

TMDQA!: Qual a relação do Seek Terror com os Inocentes? Vocês se conhecem há muito tempo, são amigos?

Nenê Altro: Bom, eu nasci em Guarulhos e depois cresci na zona norte de São Paulo nos anos 80, ou seja, tanto o Inocentes, como o Restos de Nada, o Condutores de Cadáver, o 365, o Coiotes Malditos, Invasores de Cérebros, H2SO4 entre outras, eram as bandas da região. A galera da R.A., que era a turma de Guarulhos, sempre ia nos sons da Casa Verde, de Santana, e eles iam tocar no CEPAC ou nos outros locais que fazíamos gigs na cidade, então eu acabei tendo contato com essa galera toda desde muito cedo. Eu mesmo tive minhas bandas punks nessa época (Penitenciária, B.H.I., etc.) e cheguei a dividir palcos e rolês com várias. Conheço o Inocentes sei lá, desde meus 14, 15 anos, Ronaldo sempre foi um cara bem acessível, o Clemente também, na época não era o Nono na batera, mas sem palavras, ele é um cara muito firmeza, e o Anselmo sempre foi do nosso rolê, sempre colava no clubinho, sempre estava junto com a galera. Quando o Dance of Days teve loja na Galeria do Rock passávamos altas tardes jogando conversa fora, enfim, é um grande amigo mesmo. E quando chamamos ele pra banda ele ficou feliz pra caramba.

TMDQA!: Além da mudança no nome da banda, os fãs podem perceber mudanças na sonoridade do Seek Terror também?

Nenê Altro: Cara, é som punk. A grande diferença é que de 1999, quando gravamos o Peste Católica, pra cá, foram quase 15 anos de estrada, de experiência de estúdio, de discos e caminhos. Se você pegar o Ódio e Resistência, nosso novo disco, e analisar música por música, e ver sons como “Controle”, “Moral Religiosa”, “Burro É Você Que Tem Amigo Burro” e “Ratos”, você conseguirá achar semelhanças com várias do Peste Católica e Aborto Legal, bem como músicas como “Em Meus Olhos Vejo Seu Mundo Em Chamas” têm a ver com “Rockfeller na Brasa” e por aí vai. A grande diferença é que a evolução de músicas mais street punk como “Inimigos Por Natureza” gerou sons como “Ódio e Resistência” e “Toni Se Levantou E Foi Lutar”. Mas a galera tem curtido, até porque quem curte o Seek Terror, desde as épocas antigas, sempre se ligou mais nas letras que no som. Sendo sujo, podrão, rápido ou devagar, o importante é colocar o dedo na ferida. É essa a essência da banda.

Foto: Roberto UFO

TMDQA!: Você saiu do Sick Terror em 2005 (corrija-me se estiver errado). A banda teve alguma atividade nesse período?

Nenê Altro: Então, independente de eu gostar muito do Barata, que tocou comigo no final do Sick Terror, do Douglas, meu parceiro desde o Araukana (de bem antes do Life Is a Lie), e do Markão, grande irmão e ex-Lobotomia, eu não gostei do que ouvi depois musicalmente. E não gostei também do que ouvi sobre os acontecimentos na tour pela Europa com essa formação. Tanto que muitos amigos que moram lá e acompanharam essa nossa nova fase já como Seek Terror me disseram que a melhor coisa que poderia ter acontecido foi essa mudança de nome, para que o pessoal lá visse que era uma galera diferente. Enfim, eles fizeram umas paradas, não sei se farão ainda, mas a nossa caminhada é outra.

TMDQA!: Vocês lançaram o primeiro álbum como Seek Terror, o “Ódio e Resistência”, já disponível para audição online inclusive. Como foi o processo de composição e gravações?

Nenê Altro: Foi da maneira que tem que ser, ensaios de boa, gravação sem pressa, com muito prazer e diversão. Fora que o Anderson do Subway, onde gravamos, é sem palavras, um cara que deixa a gente em casa mesmo, à vontade, e ao mesmo tempo oferece um trabalho de qualidade. Tivemos muitas participações importantes, Ariel do Restos de Nada cantou um som com a gente, Arthur do Flicts cantou outro, Celo do Deserdados gravou vários backs, minha esposa Nicolle, na época vocalista do Detestável, também gravou, o Fausto do Dance of Days passou por lá e acabou gravando e, é claro, o grande Anselmo né, que já estava sentindo o que seria um tempo depois, gravou várias. E o Marcelo deixou de ser apenas guitarrista pra ser vocalista também, não só nos backs, mas em várias partes das músicas. A versão que fizemos para “No Future No Hope do Defiance (Não Há Futuro Nem Esperança)” ele canta inteira comigo.

TMDQA!: Os fãs de Seek Terror podem esperar vida longa à banda? Quais são os projetos para o futuro daqui em diante?

Nenê Altro: Sim, podem sim, até porque não temos mais idade pra gravar e tocar no ritmo de pastelaria, vamos fazendo tudo com calma e de um jeito que nos deixe à vontade, então a longevidade é uma consequência. E somos, acima de tudo, uma banda de amigos. Acho isso o mais importante em qualquer banda. Agora finalmente conseguimos uma boa parceria pra lançar o disco, com a Hearts Bleed Blue e a Spider Merch, que estão lançando o CD agora em Novembro, e aí sim vamos agendar os shows. O sonho é ter isso em vinil, quem sabe um dia…

TMDQA!: Onde é possível encontrar o álbum físico e a agenda de shows?

Nenê Altro: O disco físico com a Hearts Bleed Blue e a agenda em nosso facebook.

TMDQA!: Como não poderíamos deixar de falar, quem é fã do seu trabalho também é fã de Dance Of Days. A banda segue a todo vapor com a divulgação do “Na Estrada”. Como você tem conciliado as duas bandas e todos os seus projetos?

Nenê Altro: Eu respiro música. Estava comentando isso esses dias, que quem tem ou teve banda e sente isso uma vez, de uma maneira que consegue colocar pra fora as coisas que sente e pensa através da música, não consegue viver sem. Toda hora estou envolvido em algo, na maioria das vezes com o Dance of Days, mas também com meus outros projetos. O Na Estrada foi o início de algo grandioso, uma sequência de quatro EPs com quatro músicas, que não só montarão o maior disco de estúdio da banda no final como também significam quatro etapas de gravação, quatro momentos mágicos de estúdio, quatro tours de lançamento, e tudo feito com vontade e sem pressa, com dedicação mesmo e no tempo que for necessário. Por exemplo, o segundo EP, que dará sequência ao Na Estrada seria lançado agora em Dezembro, mas ainda achamos que devemos acertar mais detalhes nas músicas e não queremos correr riscos com os já tradicionais atrasos de fábrica de fim de ano, então vai ficar pra 25 de Janeiro, ou seja, não é produção, é dedicação, empenho, vontade de fazer bem. E acho que a Hearts Bleed Blue, nossa parceira nessa empreitada, entendeu muito isso, por isso está fluindo tão bem.

TMDQA: Você está com um livro novo, certo? Do que se trata, como foi escrevê-lo e onde a gente encontra ele ?

Nenê Altro: Então, é meu terceiro livro, um pocket book que nasceu enquanto eu escrevia a letra da música “Clandestino”, que se tornou também o nome do livro. Foi um auto-desafio, nunca escrevi nada fora do contexto fanzine, letras de música, poesias, então quis fazer algo sucinto, mas que não deixasse de ter uma narrativa poética. E tem sido muito bem aceito, mais da metade da primeira edição já se foi e todos tem comentado bem. Pra comprar é só mandar um email para comprandoclandestino@gmail.com que custa apenas 20 reais já com correio incluso para todo país.

TMDQA!: E pra finalizar, você também tem mais discos que amigos?

Nenê Altro: Eu tinha. Agora não mais, tenho uma esposa que é acima de tudo uma companheira e parceira de gostos musicais, shows e rolês e mantenho o máximo possível de gente boa e amiga por perto.

http://www.youtube.com/watch?v=ZrAK49sid08

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