Dupla de multi-instrumentistas que trouxeram um novo sotaque para a música popular brasileira trabalham em uma turnê onde reunirão sucessos de toda a carreira, incluindo músicas do último disco, o projeto infantil “Par ou ímpar”.
Kleiton & Kledir, simpáticos gaúchos de Pelotas, conversaram por telefone com o TMDQA sobre música brasileira e latina, influências, discos queridos e sobre ter mais discos que amigos.
Fica aqui um agradecimento especial para a Minas de Idéias e para o Theatro Net Rio pela oportunidade.
TMDQA! – Vocês são tidos como um dos símbolos do “gaúcho contemporâneo”. Como é carregar essa responsabilidade?
KLEDIR – Para nós é muito natural. Na verdade a gente sempre fez isso de algum modo… Saímos do sul pra vir pro Rio, e sempre fomos identificados como “os gaúchos Kleiton e Kledir”. Fazemos música urbana mas nos identificam com esse “gaúcho”… Virou muito natural… Isso gerou um reconhecimento do governo do estado (nota: a dupla ganhou o título de Embaixadores Culturais do Rio Grande do Sul) , que nos honra muito.
TMDQA! – O último trabalho de vocês é um disco infantil. O que isso mudou no modo como encaram a arte de vocês?
KLEDIR – Mudou tudo. Passamos a vida fazendo a música para adulto. Tivemos que mudar nosso espirito, tivemos que nos “desenvelhecer” para compor pra elas. Não sabíamos como seria aceito, mas crianças adoraram. O disco virou um DVD lindo junto com o Grupo Tholl e a gente tá viajando com esse espetáculo.
TMDQA! – Muda muito a dinâmica?
KLEDIR – Completamente. Esse espetáculo é musical, teatral e circense. É muito visual. Tem malabarismo, dançarinos… As crianças ficam encantadas com o visual e não na música. Ninguém olha pro Kleiton e pro Kleidir. (Risos) É um exercício de humildade.
TMDQA! – Vocês colecionam discos? Se sim, vocês tem algum disco que levam como um queridinho na coleção?
KLEDIR – É difícil de falar, não tem um. São muitos queridinhos. Estudamos música desde criança, toco violino desde criança, fizemos composição e nos formamos em regência em Paris. No fim de tudo, temos uma formação muito eclética, do erudito ao abstrato… Discos do Chico, do Caetano… Ontem tava curtindo Noel Rosa, curiosamente com um cara muito novo, que vai casar com a minha filha… Bem, Coisas folclóricas do Sul. Nosso trabalho é uma soma de tudo isso… Beatles, que é uma base para uma geração. É muito difícil de responder.
TMDQA! – Estávamos no show do Vitor (Ramil, irmão deles) no Rio e ele comentou que costumava imitar o Milton Nascimento para aprender a cantar quando era novo. Vocês tinham um artista inspiração assim?
KLEDIR – Eu especificamente não, mas eu realmente nunca pensei em ser um cantor solo. Me dediquei mais à parte musical. Nunca fui muito metido a solista. Gostava muito dos arranjos vocais do Simon e Garfunkel, quando era adolescente. Beatles era muito importante… A gente veio depois daquele geração do vibrato, daqueles cantores do rádio, dos anos 50. A gente não chegava a ser um João Gilberto, mas era uma interpretação mais objetiva, com menos trejeitos na voz.
KLEITON – A gente teve muita influência da década de 60. Éramos criança na época dos Beatles, aquilo atingiu a gente. Somava-se a isso à musica brasileira dos festivais… Além disso tem nossa realidade de guris da fronteira. Escutávamos muito musica da Argentina e do Uruguai. Como a Mercedes Sosa, que acabou gravando música nossa, o que foi uma realização de vida. Ela era uma dessas pessoas muito especiais. Além disso, o pop rock que vinha aparecendo com Pedro Aznar, Fito Paez…
TMDQA! – Parece que só o Sul do país tem uma ligação com a música latina…
KLEITON – O Brasil do litoral fica de costas, literalmente, pra América Latina.
TMDQA! – Já que falamos do Vitor: vocês participaram do “Foi no Mês que Vem”, disco onde ele revisita a obra. Vocês sentem vontade de fazer um projeto assim um dia? Um disco com convidados…
KLEDIR – Vontade tem, mas sinceramente… Sou um pouco preguiçoso… Como tocamos vários instrumentos, sabemos que todo mundo tem compromissos, agendas e fica mais complicado. Tanto que Vítor é mais novo e tá cheio de cabelo branco. Se tiver que fazer um dia, vai ser… Mas não me empolgo muito. Já tivemos parcerias assim no passado, hoje nós que fazemos eventualmente… mas é muito trabalhoso… Um espetáculo só é um trabalho do cão… Mas a ideia é muito boa, o público gosta muito.
TMDQA! – Vocês tem mais discos que amigos?
KLEITON – Hoje tenho mais amigos que discos. Estou passando minha biblioteca pra digital, meu computador tá uma biblioteca. Mesmo o que era disco agora tá digitalizadinho. Já tive muito discos…. acho que hoje tenho mais amigos.