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Resenha: 19º Goiânia Noise Festival

Confira como foi a maratona de shows que reuniu 49 bandas nacionais em Goiânia.

Resenha: 19º Goiânia Noise Festival

PRIMEIRO DIA – GOIÂNIA NOISE (6/12/13)


Textos por William Galvão / Fotos por Renato Reis

Em clima de empolgação, o primeiro dia do Goiânia Noise Festival foi marcado por shows bastante diversificados sonoramente. Foi o dia em que o público mais conseguiu aproveitar as atrações, já que foi o único que não choveu.

A banda mais aguardada da noite, claro, foi o The Exploited. Os caras subiram no Palco Monstro depois da uma hora da madrugada, com certo atraso, e fez muito punk descarregar a tensão nas enormes rodas de pogo que rolavam a cada música. A banda estendeu bastante o horário, para alegria de todos, e tocou 24 músicas.

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Antes de o teatro abrir para a última atração da noite, uma quantidade significativa de gente se amontoava na porta, todos com o intuito de chegar o mais próximo possível do palco. Além de punks devidamente caracterizados, com moicanos coloridos e jaquetas cheias de spike, havia gente de toda tribo roqueira.

A banda começou o show com “Let’s Start a War (Said Maggie One Day)” (1983), música do terceiro disco da banda, de mesmo nome. De cara, a explosão da galera foi unânime. Cada música foi cantada em uníssono pelos fãs. O vocalista Wattie parecia bastante empolgado com a reação do público, tanto que a cada refrão soltava o microfone na mão da galera, que sumia na multidão e, hora e meia, voltava desligado ou quebrado.

“Alternative” foi a oitava música, uma das tantas esperadas pelo público, em especial este que vos escreve. Entre os acidentes de percurso, a rapidez e acidez do som foi tão reverberada pelo baterista Willie Buchan, irmão de Wattie, que o cara simplesmente destruiu o bumbo, o que rendeu uns 10 minutos pra consertar. O fato aconteceu durante “Never Sell Out” (2003), uma das canções mais esperadas pela plateia e, pelo jeito, pelo próprio Willie.

O ponto mais expressivo do show foi quando a banda tocou seus clássicos supremos. “Fuck The System” (2003), “Fuck The USA” (1982), “Sex And Violence” (1981) e “Punk’s Not Dead” (1981). Todos protestaram contra o sistema em alto e bom som. Com refrões gritadamente marcados, guitarra e bateria ágeis, a banda conseguiu dar ao público exatamente o que ele queria.

Voltando para o início da noite, lá pelas 18h30. A segunda banda a subir no palco foi o Sangue Seco, de Goiânia. Os caras já são bem conhecidos na cidade e já tocaram em muito festival local. O público sabe cantar as músicas e a banda sabe empolgar a plateia muito bem.

O som dos caras é um punk rock agressivo e brutal, com letras cheias de ironia, sarcasmo, humor negro e protesto. Destaque para a música “Eu Quero Que Você Morra”, uma das mais lembradas – com refrão direto e uma pitada de graça, “morre desgraça” – pelo menos para quem não tem tanta familiaridade com a banda.

Um dos destaques da noite, o Shotgun Wives, também de Goiânia, é um sexteto que faz um indie-folk experimental bastante empolgado. O som da banda revela a influência de bandas como Mumford And Sons e Bob Dylan, por exemplo. A banda tem um visual bastante característico do folk, o que dá ajuda a dar o tom ao público na recepção da música.

A banda encheu o Palco Harmonia, fez o público dançar e cantar alegremente seu som meio antigo, meio novo, como manda o figurino de boa parte das bandas do segmento que vem pipocando mundo a fora. A Shotgun tem bastante presença de palco e uma boa interação entre eles, principalmente entre o banjista Kenny Anderson e o guitarrista Esdras Costa e suas dancinhas conjuntas. Menção para o cover inusitado de “Ace of Spaces”, do Motörhead.

Surgida em Manaus (AM) e radicada em Goiânia (GO), a Ressonância “Mandela” Mórfica, como o vocalista Marcos Campos se referiu à banda, fez um dos shows mais brutais da noite. Muita roda, muita bateção de cabeça e gritaria.

O som dos caras é um death-grind cantado em português, com letras que referenciam a causas sociais e ambientais. Com caras e bocas engraçadas, o vocalista da banda leva o público muito bem, tanto quando canta quanto quando fala com a plateia. É som extremo!

O Harmonia mudou drasticamente de estilo quando Calango Nego subiu no palco. Acompanhado de DJ, o cara mandou um rap moderno e misturou bastante coisa. E não foi apenas o som que mudou, o público também parecia outro. A impressão que deu foi a de que aquele pessoal foi ao festival exclusivamente para assistir àquele show.

Em minutos, os poucos “roqueiros” que ainda estavam ali foram saindo. Mas ainda assim, o show foi bastante animado. Teve direito à “quebra de protocolo” e tudo. Calango Nego mandou um sambinha e até um funk carioca. O destaque foi a música “Sem Miserê”, cantada por todos os presentes.

Outro grande destaque da primeira noite, as paulistanas d´As Radioativas fizeram um dos shows mais agitados do festival. O quinteto liderado pela carismática Tati The Se Maker, apesar de não gostar dos rótulos, lembra bandas de garotas feministas como Bikini Kill e algumas nuances de The Runaways e do punk setentista.

O quinteto também aposta no visual chamativo que parece fazer parte do protesto: sutiã/top, calça de couro, meia arrastão, cor. As garotas mandam muito bem e conseguem levantar a plateia, por mais que muitos ainda não conheçam a banda. “Vocês são do caralho, isso sim é rock´n´roll. Vamos fazer uma roda gigantesca agora”, disse a vocalista antes de tocar “Isso é rock and roll”, tão empolgada quanto a plateia.

A banda lançou seu primeiro disco, Cuidado Garota, em 2012, e desde então estão na estrada. A música que leva o nome do disco é uma espécie de grito lésbico, “cuidado garota, não se aproxime, você pode se viciar..”, cantada em meio a gemidos e gritinhos. Uma das músicas que conseguiu fazer o público dançar é a já conhecida “Bad Girl”. A apresentação, no geral, foi marcada pela empolgação de Tati, que se estendeu ao público.

Direto de Belém do Pará, os veteranos do Delinquentes fizeram o melhor show de hardcore/punk da noite, com exceção do Exploited. Os caras têm bastante presença de palco e entrosamento entre si, talvez isso se deva aos 28 anos de estrada. A gigantesca roda de pogo formada em quase todo o show mostra que a galera ali também sabia bem o que estava fazendo.

O quarteto faz um hardcore/punk cru, mas também mistura bem o mais agressivo trash metal e o rock industrial. Um dos shows que quem foi ao festival não poderia deixar de ver.

Outro show muito esperado, e o melhor deles, o duo sergipano do The Baggios fez uma apresentação requintada ao mostrar as músicas de Sina (2013), o segundo disco da “banda”, lançado no festival.

A dupla conseguiu lotar o teatro, teve gente que viu o show da porta pra fora, pra poder ver melhor. A técnica guitarrística de Julio Andrade aliada a seu sotaque nordestino dão um toque a mais no som, que versa entre o blues e as misturas do rock sessentista ao rock de garagem. O que mais chama a atenção sem dúvida é o regionalismo vocal proposto pelos Baggios, que é de certa forma descontextualizado pelo rock.

O duo já é considerado uma das revelações do ano na cena independente, o que me ficou provado nessa apresentação.O show era um dos que mereciam mais de meia hora pra tocar.

O quarteto de hard rock do Recife, Diablo Motor, subiu no palco principal do evento com bastante vontade de tocar. O pesar foi o público escasso, que pareceu apático à apresentação.

Os caras abriram o show com “Não Quero Te Entender”, um baita musicão. Na edição 2011 do festival, a banda fez um dos melhores shows daquele ano. Em 2013 o show teve a mesma qualidade, pena que poucos viram.

Na sequência, quem tocou foram os goianos da The Galo Power. A banda deu uma psicodeliada muito bem dada em cima do palco, muitas referências setentistas. Os caras já tem certo público na cidade, e parece que ganharam mais um punhado.

O que não aconteceu com os paraibanos da Zeferina Bomba, que fizeram um show ameno, talvez por abrir para o Exploited em um outro palco. O fato é que o hardcore vindo das distorções de um violão da banda teve pouco ibope, as já poucas pessoas que estavam assistindo ao show foram saindo enquanto ia dando o horário da banda principal.

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