Como uma das bandas mais importantes da ainda breve história do post-rock, o Mogwai tornou-se referência desde cedo. Dos primeiros passos em Mogwai Young Team (1996) até hoje, o grupo escocês viveu todos os clichês do estilo – até porque foi pioneiro em muitos deles – e decidiu dar uma leve guinada à experimentação em Rave Tapes, oitavo álbum da carreira, com lançamento da Sub Pop marcado para o próximo dia 20 (ouça no fim do post, em streaming do Exclaim.ca).
No caso do Mogwai, “experimentar” é subjetivo. A banda surgiu justamente pela ânsia do quinteto escocês em mesclar referências do shoegaze, noise rock e dos primeiros adventos do post-rock, e nunca contentou-se com a monotonia. Pelo contrário, ganhou fãs com o contraste célebre de fúria e melancolia das canções, às vezes arrastadas e repetitivas mas nunca – nunca – monótonas.
Rave Tapes ameaça cruzar essa linha pela primeira vez, mas não chega a atravessá-la. A ousadia do Mogwai no álbum foi aparar as pontas mais afiadas e apostar em um disco mais horizontal, de amplitude reduzida, com canções longas e emocionalmente intensas como de costume, mas sem a alternância de momentos de ira e languidez conhecidas pelos seguidores do grupo. A sonoridade de Rave Tapes chama a atenção por apostar em sintetizadores e batidas eletrônicas – artifícios utilizados com proeminência comedida em Rock Action (2001), e que agora tomam a frente da maioria dos arranjos.
Não se confunda, o velho Mogwai ainda está aqui e não resolveu brincar de fazer ambient music. O monólogo de “Repelish” lembra as vocalizações no segundo álbum da banda, Come On Die Young (1998), a excelente “No Medicine For Regret” se encaixaria bem no clássico Mr. Beast (2006), e a tensão de “Hexon Bogon” seria uma adição perfeita ao tracklist de The Hawk Is Howling (2008). Mas os destaques do álbum são mesmo as faixas com teor de novidade: o single “Remurdered” cresce em torno de uma melodia hipnotizante de sintetizador, enquanto “Deesh” e “The Lord Is Out of Control” demonstram a habilidade da banda em brincar com a dinâmica dentro das composições, trabalhando a medida certa de elementos sonoros para prender a atenção dos ouvintes.
Rave Tapes não merece um lugar no pódio entre os melhores trabalhos da carreira do Mogwai. Discos anteriores, mesmo quando musicalmente prolixos, conseguiram transmitir melhor a fusão entre a divagação instrumental e a emoção pujante do quinteto. Em certos momentos, o disco chega a lembrar excessivamente os ingleses do 65daysofstatic, conhecidos pelo casamento entre o post-rock barulhento do Mogwai com influências de música eletrônica – um ciclo esquisito onde o criador se confunde à criatura – e peca por antecipar momentos que nunca chegam. Mas não é, de forma alguma, uma mancha na carreira da banda.
O álbum merece aplausos por mostrar uma banda indisposta a se conformar, especialmente às vésperas do 20º aniversário do grupo. Rave Tapes investe em caminhos introduzidos em Hardcore Will Never Die. But You Will (2011), o que pode dar margem à interpretação de que é mais um passo na gradual transformação do Mogwai em direção ao futuro. Mesmo que não seja tão interessante quanto alguns antecessores em uma audição dedicada, Rave Tapes convida a mente a uma divagação saudável, com força suficiente para trazer de volta a realidade quando necessário.
Nota: 6,5/10