tmdqa/mpb: Ney Matogrosso atento a novos sinais

Ney Matogrosso se firma em show explosivo que mostra ele como artista atento ao mundo que o cerca.

tmdqa/mpb: Ney Matogrosso atento a novos sinais

Fotos: Nathália Pandeló e Daniel Corrêa

Quando vimos Ney Matogrosso subir ao palco do Vivo Rio apresentando pela primeira vez nos palcos cariocas o show “Atento aos sinais”, o Brasil era outro. Varrido por uma sensação mista de esperança e tensão, se viam milhões na rua exigindo mudanças que não viriam. Naquela época, Ney parecia um profeta, falando sobre o fogo nas ruas e sobre conflitos ao refletir o amor e o tempo. Hoje, depois de um ano, quais sinais ele reflete?

Semanas atrás, ao acender das luzes do mesmo palco com os metais puxando a raivosa versão de “Rua da Passagem” (Lenine e Arnaldo Antunes), quem era outro era o cantor. Em um ano, Ney Matogrosso, nascido Ney de Souza Pereira, havia lançado o disco com o repertório do show e se mostrado de corpo e alma em uma ótima entrevista para a Rolling Stone. Era como se conhecêssemos melhor o profeta do que a profecia.

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Os olhos vidrados de Ney, concentrados na canção e nas palavras que saem por elas, transmitem uma confiança para o público em tudo que ele fala. Seja revisitando a obra de Itamar Assumpção, provocando a plateia com uma sexualidade latente ou refletindo o passado a “Vida Louca Vida”, escrita em épocas mais lúcidas de Lobão.

Focando o repertório em canções menos conhecidas de autores consagrados e em canções inspiradas de grandes nomes, “Atento aos sinais” ganhou um registro em CD no fim do ano passado que aos meus ouvidos soou muito morno perto da explosão do show, um dos melhores de Ney nos últimos tempos.

Ato comprovado naquele show, para um Brasil já sonolento e voltando a se desesperançar, os sinais de Ney apontam para caminhos diferentes. Hoje soa como uma previsão que tudo aconteceria, mas que o clima de tensão ficaria.

Ney fecha o show celebrando o amor e a vida com o modo como o Secos e Molhados cantou isso e com o sonho de “Astronauta lírico”, de Vitor Ramil. Mais uma vez, a arte sem notar nos emociona refletindo o que viremos a ser.

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