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Entrevista exclusiva: Capilé fala sobre novo disco do Sugar Kane

Conversamos com o vocalista do <B>Sugar Kane</b> sobre nova sonoridade da banda no disco <B>"Ignorância Pluralística"</b>.

Entrevista exclusiva: Capilé fala sobre novo disco do Sugar Kane

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Eles voltaram!

No dia 04 de Abril de 2014 o Sugar Kane irá lançar seu novo disco de estúdio, Ignorância Pluralística, cinco anos após seu último full length.

Após várias mudanças internas, campanha de crowdfunding e absorção de diversos elementos diferentes em seu som, o grupo traz um álbum que deve mostrar uma nova cara da sua carreira e renovar um dos nomes mais importantes da história do hardcore no Brasil.

Tivemos uma conversa exclusiva com o vocalista da banda, Capilé, e ele nos revelou todos os detalhes do trabalho, seu processo de gravação, futuro da banda e muito mais.

Confira a conversa logo abaixo!

 

TMDQA!: O último disco de estúdio da banda, “A Máquina que Sonha Colorido”, foi lançado há 5 anos, em 2009. O que mudou de lá pra cá na banda e na sua visão como compositor para esse novo disco?

Capilé: Praticamente tudo mudou de lá pra cá, quando lançamos o AMQSC estávamos num momento bem diferente. Na época tínhamos lançado dois discos mais experimentais antes dele, Elementar de 2005 e D.E.M.O de 2007, e buscamos resgatar nossa raiz do hardcore, e conseguimos com o disco, isso foi importante pra renovarmos o show, sentíamos na época que o SK vivia muito dos sons dos primeiros discos e queríamos mudar isso.

Já para o Ignorância Pluralística muita coisa mudou, foram 5 anos, muita coisa aconteceu. Tivemos dois EPs nesse período que nos revelaram uma sonoridade mais crua e punk, o que abraçamos com gosto, isso pela experiência de gravar com o Chuck Hipolitho, que veio de outra escola e nos apresentou essa nova face da banda. Também tivemos nossas festas tributo, tocando as bandas que gostamos, como AC/DC, Nirvana, Pearl Jam, Foo Fighters, Metallica… e isso mudou muito nossa sonoridade, aprendemos muito com essa nossa velha escola, porque tivemos que tirar muitas músicas de cada artista e revisitar nossas principais influências.

Dá pra sentir muito isso no som do disco novo, pois ele é bem cru e direto. Também rolou a mudança de integrantes, quando gravamos o AMQSC o Vini ainda estava na banda como guitarrista e compositor, saiu antes do disco ser lançado, quando o Rick assumiu as guitarras da banda. Esse novo disco é o primeiro disco com o Rick, e ele trouxe muitas ideias e músicas, deixando sua marca na nossa história. Tem o Moderno também, que acabou assumindo o baixo no ano passado e entrou pra banda bem no meio do processo de composição do disco, e mandou muito, o Moderno é um músico muito bom e super dedicado, a banda está num momento super legal, vibe boa e energia positiva. Estamos prontos pra voltar aos palcos.

TMDQA!: A capa do disco foi totalmente inspirada em bandas clássicas de punk rock como Bad Religion. Como isso reflete a sonoridade de “Ignorância Pluralística”? O conceito da arte, de se inspirar nessas bandas, esteve presente desde o início?

Capilé: Bad Religion sempre foi umas das maiores influências do SK, desde o começo da banda em 1997, e suas capas sempre foram emblemáticas. Quando o disco tomou forma e gravamos a primeira pré, notamos na hora que ele era único na nossa história, eu acredito ser nosso disco mais cru e punk de todos, esse foi o motivo que me inspirou a fazer uma capa “revival” da galera punk californiana dos anos 80, inspirada nas capas do Black Flag e Bad Religion, quase podendo servir de capa pra qualquer um dos dois (risos).

O disco é cru e punk, mas recheado de influências de fora. Acho que finalmente encontramos nossa identidade da maturidade, a banda fez 17 anos esse ano e chegamos num momento novo, acredito que esse disco inaugura bem essa nova fase.

TMDQA!: O título do álbum, aliado à capa, transmite uma impressão de que serão abordados assuntos como a alienação da sociedade, redes sociais, programas de televisão e tantas outras mídias mundo afora. O que você pensa a respeito da geração que, hoje em dia, está responsável em realizar as mudanças no país e no planeta? Como vê os protestos que aconteceram no Brasil em 2013?

Capilé: Bingo, é um disco com uma crítica social muito grande, abordando política, religião, liberdade, etc. Todos estes temas estão presentes no nosso dia a dia. No Brasil acredito vivermos um momento de transição, muita gente quer mudar e está fazendo algo pra isso, ao mesmo tempo vivemos uma demagogia enorme, com política se misturando com religião, a repressão e a censura voltando a nossa realidade, entre outras questões complicadas.

Acredito que o que mais inspirou o nome do disco é exatamente a falta de iniciativa das pessoas. Por mais que tenhamos ido as ruas e lutado por algo de verdade a maioria das pessoas ainda está apática, não fazendo nada. O conceito de ignorância pluralística diz tudo o que vivemos aqui, eu acho, segundo ele: “um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?”

O problema é que, se ninguém diz nada e conseqüentemente nada é feito, o desejo coletivo é sufocado. O brasileiro tem necessidade de pertencer a um grupo. “Ele não fala sobre si mesmo sem falar do grupo a que pertence.” É a cultura do silêncio. Existe um elo entre todos esses comportamentos. Uma sociedade de rabo preso não pode ser uma sociedade de protesto.

Ao mesmo tempo está mudando, acho que principalmente os artistas têm que escrever e incentivar a mudança de alguma forma, estamos fazendo nossa parte, não somos donos da verdade, espero que a pessoas se identifiquem e questionem o que estamos falando nesse disco, ele tem sua dose de ironia, não gosto de escrever ditando regras, ele levanta as questões, o resto depende de quem ouve.

TMDQA!: Musicalmente o Sugar Kane sempre foi muito ligado ao hardcore melódico, mas já lançou materiais bem diferentes como o EP “Fuck The Emo Kids”, voltado muito mais ao punk dos anos 80. Qual é a sonoridade de “Ignorância Pluralística?”

Capilé: Muito mais parecida com o EP do que o último disco oficial de estúdio, esse não é um disco necessariamente de hardcore melódico, ele possui o hc no seu conceito, mas ele é um disco de rock, cru e direto. O Fuck The Emo Kids nos revelou um novo caminho, nele ainda era experimentação, depois dele tentamos equilibrar o que somos com esse novo horizonte musical, outro fator importante na sonoridade é a volta às nossas raízes, devido aos shows tributos que fizemos em 2012 e 2013, isso fez a banda evoluir e resgatar muito do que somos mesmo, por isso considero o primeiro disco de uma nova fase. Tem punk, tem o rock clássico e tem o rock moderno, tudo misturado com nossa identidade.

 

TMDQA!: Onde rolaram as gravações do disco? Tem alguma curiosidade do processo de gravação que você possa contar para a gente?

Capilé: Ele foi todo gravado no estúdio Ekord, em São Paulo. Ele foi mixado no MIDAS Estúdios, um dos mais bem equipados do Brasil, todo mixado na mesa, processo analógico 100% e a masterização ficou na mão do Sérgio Soffiatti, que já trabalhou com o SK no disco Continuidade da Máquina, disco que ele produziu, gravou, mixou e masterizou. Nesse disco buscamos não usar quase nada de tecnologia digital, gravamos como se gravava antes da era Pro Tools, tudo isso pra buscar um som bem orgânico e verdadeiro. Acho que conseguimos.
TMDQA!: Vocês realizaram uma campanha de financiamento coletivo para o novo álbum que acabou não sendo concretizada. O que acha que aconteceu? Isso deu uma motivação diferente para a gravação do álbum?

Capilé: Foi um projeto mal pensado por nossa parte, demos uma viajada no valor que pedimos e principalmente no prazo. O sistema de crowdfunding é super legal, uma ótima alternativa pra artistas independentes. No nosso caso em especial, pedimos muito dinheiro e não pensamos muito bem no todo, logo nas primeiras semanas desistimos do projeto, não divulgando essa desistência, simplesmente o deixamos de lado.

O disco tinha ficado pra 2014, até que o Leonardo Marques e o Caio Leite, do estúdio Ekord em São Paulo, nos chamaram e propuseram gravar o álbum no estúdio deles da forma que pudéssemos pagar, com todo tempo que precisássemos, até terminar tudo sem pressão. Graças a eles o projeto “disco novo” não desanimou e logo em outubro de 2013 entramos em estúdio, foram 3 meses de gravação, mixagem e masterização, estamos muito satisfeitos com o resultado final.

Não culpamos o sistema crowdfunding pela falta de êxito no projeto inicial, foi nossa culpa na falta de planejamento. Demos a volta por cima e gravamos o disco como sempre fizemos, por nós mesmos e da forma que conseguimos.

TMDQA!: Como aconteceu a nova aproximação à gravadora que foi casa da banda durante tanto tempo, a Urubuz?

Capilé: Partiu da minha parte mesmo, quando não rolou nosso projecto do Catarse tivemos que repensar toda estratégia do disco, uma das coisas eram os selos que lançariam o disco, a Urubuz veio na hora, ela é super importante na história do SK, lançamos 4 discos e um DVD com eles, nossa amizade sempre foi muito grande e o Márcio [dono da gravadora] sempre foi um grande parceiro, ótimo profissional e acima de tudo, sempre acreditou na gente.  Eu ofereci para ele o lançamento do disco e volta do SK a Urubuz, ele topou na hora, vai ser demais estar de volta à família. Paralelo a Urubuz o lançamento será divido com mais dois selos, a SpiderMerch do Francesco Coppolla e também o meu selo que estou criando, a Ostentáculos Cultura Alternativa.

TMDQA!: O guitarrista de vocês, Rick Mastria, entrou para o Dead Fish há alguns meses. Outros integrantes que passaram pelo Sugar Kane também saíram e alguns deles se dedicaram a outros projetos. Como você vê essa passagem de novos músicos pelo grupo?

Capilé: Depois de tantos anos tocando nessa banda, onde eu sou o único desde o começo, entendi que o Sugar Kane é um coletivo musical. Temos nossa importância na cena musical brasileira, todos que passaram pela banda sempre vestiram a camisa e entenderam todo o legado deixado por outros integrantes. Uma característica entre todos que passaram pela banda é que continuamos ligados, mesmo depois da saída de cada um.

No ano passado fizemos shows com formações antigas e mesmo nesse disco por exemplo, o Vini escreveu duas letras. Quem já foi da banda continua da banda, as portas estão sempre abertas, quando rola uma mudança, por qualquer motivo, sempre falamos “quando quiser tocar, participar de um show, é só avisar.” No rock brasileiro restaram poucos integrantes de qualidade e que vestem a camisa, por sorte o Sugar Kane sempre teve um time com essas características, mudanças são inevitáveis, e acho muito legal ver gente que passou pela banda e hoje está em outra, fazendo o que ama, tocando sua vida pra frente, como nós mesmo estamos fazendo.

O Rick mesmo, quando soube da proposta do Dead Fish veio conversar comigo, na hora foi um choque, mas depois fiquei muito feliz pelo cara, ele merece, é um dos melhores guitarristas que já vi na vida, tem que continuar vivendo de música, eu mesmo mandei ótimas referencias dele para a galera do DF.

A vida é feita de fases, cada um tem suas escolhas, temos que respeitar e continuar. Como diz meu amigo Teco Martins do Rancore, “Pedra que não rola cria limo”.

TMDQA!: E quanto ao seu próprio projeto paralelo, o Water Rats, que lançou um trabalho elogiado ano passado, qual é o futuro dele?

Capilé: O Water Rats me fez muito bem, primeiro por voltar a tocar com o Renê Bernuncia (ex-baterista do SK), amo o cara que pra mim é um dos melhores bateras de todos os tempos do Brasil, também poder tocar com outros dois grandes amigos o Fabricio Tchaick “Bi” e o Pedro Prodócimo “Gripe”, este último que estava lá no começo de tudo comigo, em Curitiba em 1997.

O nosso primeiro EP foi muito bem recebido, uma grande satisfação pra gente, pois foi 100% DIY, eu mesmo gravei levando todo equipamento para a pousada do Renê em Mariscal-SC. Tivemos em 2013 a oportunidade de tocar e ficar amigos de lendas do punk rock como Greg Hetson (Circle Jerks/Bad Religion), Tony Alva, OFF, TSOL… todas essas bandas e integrantes diretamente ligados a nossa influência, pois o WR é uma banda de punk cru com pitadas alternativas. Esse ano vamos lançar nosso primeiro disco, que vai ser gravado em março ainda, deve sair entre julho e agosto, pela Laja Records. Devemos ir para os Estados Unidos na sequência pra turnê de lançamento, estamos muito empolgados com tudo isso. Devemos voltar aos shows só depois do disco sair, o WR tem uma rotina mais sazonal, adaptada à realidade de todos os integrantes que moram em cidades diferentes. A banda é pura diversão e sinceridade, sem grandes pretensões, só buscando fazer o que gosta e tocar no máximo de lugares pelo mundo que conseguir. Acho que essa falta de pretensão faz bem ao som, as pessoas hoje em dia sentem falta de ouvir algo mais verdadeiro. Sem contar que o surgimento do WR influenciou muito meus sons para o disco novo do SK, pois compus tudo meio que junto.

TMDQA!: Quais são os planos para o lançamento do disco? Haverá turnê pelo país?

Capilé: Logo após o lançamento estamos entrando em turnê para lançar o disco, já temos vários shows agendados, queremos passar por todas as cidades que sempre passamos e quem sabe ir em outras que ainda não fomos, vai ser uma tour bem especial, repertório novo, com vários sons do passado, nossos clássicos e é claro novas músicas. Queremos rodar muito pelas estradas do país. Vamos trabalhar uns 3 ou 4 singles durante tudo isso, produzindo clipes pra eles. É o de sempre, estrada, shows e diversão.

TMDQA!: O disco será lançado também em vinil? O que você acha da volta do formato, que vende cada vez mais cópias a cada ano?

Capilé: Queremos sim, deve sair uma série limitada no segundo semestre, não pro lançamento em Abril, pois nosso custo já está alto devido a toda produção. Eu amo vinil, acho o formato mais legal de se consumir música, além da arte ser grandona o som é peculiar, pra quem gosta de música analógica não tem comparação, tenho minha pequena coleção em casa, que estou criando faz uns 3 anos. Já temos nosso pequeno EP 7″, agora queremos lançar o disco novo também, em 12″.

No Brasil esse mercado está crescendo, principalmente depois que a DECK reativou a Polysom, voltando a prensar disco de vinil no Brasil. Lembro em 2010, quando estávamos na Europa em turnê, que as pessoas só pediam vinil na nossa barraquinha de merchandising, ficamos com isso na cabeça e agora o Brasil está nessa realidade também, claro que ainda não vende tanto quanto fora daqui, mas está crescendo, e nós com certeza estaremos nessa juntos.

TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?

Capilé: Sempre tive mais discos que amigos, e já fiz muitos amigos graças a eles (risos).