Vazou! Cloud Nothings - Here and Nowhere Else

O novo álbum do Cloud Nothings foca na faceta mais barulhenta da banda, e consegue equilibrar caos e melodia.

Cloud Nothings - Here and Nowhere Else

Caos melódico. Assim pode ser descrito o som do Cloud Nothings, trio de Cleveland liderado artisticamente por Dylan Baldi, vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo. Baldi, nascido no ano do lançamento de Nevermind, Screamadelica, e Loveless, revelou nos últimos anos uma aptidão para criar canções que vão de encontro ao status quo; no caso dele, o indie rock de fácil assimilação espalhado como praga do surgimento do The Strokes para cá.

Depois de uma estreia homônima simples em demasia, beirando a insipidez, o Cloud Nothings surpreendeu em 2012 com Attack on Memory, álbum produzido por Steve Albini (Nirvana, PJ Harvey, The Jesus Lizard). Apesar de Baldi ter reclamado publicamente da decisão de Albini em interferir o mínimo possível na gravação – o próprio admitiu ter se ocupado em ler textos desinteressantes e jogar palavras-cruzadas no processo – a diferença entre o Cloud Nothings suave de antes e o sujo de Attack on Memory é gritante, e deve ser incluída na conta do produtor, sim. Afinal o novo álbum do trio, Here and Nowhere Else é um passo à frente do anterior se considerarmos o aspecto cru, denso e pesado do álbum, o que dificilmente teria sido atingido com tanta maestria sem a influência de Albini.

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Produzido por John Congleton (Baroness, Modest Mouse, St. Vincent), Here and Nowhere Else foca nesse aspecto do som do Cloud Nothings, e nada mais. Se Attack on Memory alternava rasgos como a épica “Wasted Days” com faixas mais suaves como “Fall In” e “Stay Useless”, o novo álbum é direto ao ponto, e não apenas evita pisar no freio como passa a impressão de que o Cloud Nothings arrancou todos os freios, amortecedores, e se jogou de uma ladeira. Os únicos respiros do álbum são os singles divulgados até agora – o que certamente não é coincidência – “I’m Not a Part of Me” e “Psychic Trauma”, apesar da segunda ter o início lento rapidamente ultrapassado por um trecho nervoso e acelerado que segue até o fim.

A opção por explorar o aspecto mais barulhento do leque sonoro do Cloud Nothings deu certo. O grupo soube trabalhar a dinâmica das canções de forma a mantê-las interessantes, quando a tendência seria confundir os ouvintes em uma massa de vocais desesperados, guitarras desordeiras e as baterias frenéticas de Jayson Gerycz, a personificação para a expressão “baterista nerd que toca como um maníaco homicida”, se ela existisse. Baldi consegue dar melodia e harmonia a um som que tenderia a ficar complicado e confuso, com um timbre vocal mais maduro remetente a uma versão punk de Ben Gibbard, do Death Cab For Cutie, e por trás do fuzz e dos overdrives, não é difícil perceber ecos de Johnny Marr, ex-The Smiths, nas guitarras do rapaz. No entanto, em Here and Nowhere Else, o mérito caminha ao lado do demérito.

O disco traz algumas das melhores composições da carreira do Cloud Nothings até aqui, como o pré-citado single “I’m Not a Part of Me”, a contagiante “No Thoughts” e “Now Hear In”, faixa de abertura do álbum. Mas os 32 minutos de duração do trabalho podem soar repetitivos e cansativos a quem não estiver determinado realmente afim de ouvi-lo e imergir no contexto caótico, ainda que acessível, de Here and Nowhere Else. O fator surpresa de Attack on Memory se esgotou com o tempo, e a ausência de momentos leves tira o brilho da barulheira que permeia as oito novas músicas. A escolha de colocar “I’m Not a Part of Me” na última posição do tracklist prova que a banda tomou essa decisão conscientemente, e apesar dos acertos, é impossível esconder a frustração de não ouvir o Cloud Nothings versátil de antes.

Musicalmente falando, Here and Nowhere Else seria uma combinação de raiva e negação dentre os cinco estados de luto propostos no modelo de Kübler-Ross, certamente distantes da barganha, da depressão e, claramente, da aceitação. Apesar de ser uma obra limitadora, ideal para determinados momentos e humores, o álbum cumpre a meta proposta com louvor, e nos faz imaginar para onde o Cloud Nothings caminhará daqui em diante caso a fúria se dilua com a maturidade.

Nota: 7/10

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