Em 1995, após lançar o disco de estreia do Foo Fighters, um tal de Dave Grohl, que havia gravado todos os instrumentos do álbum, foi atrás de uma banda completa.
Para formar a chamada “cozinha” do grupo, formada por baixista e baterista, ele recrutou dois músicos de um dos maiores nomes do post-hardcore da época, o Sunny Day Real Estate.
Apesar de ter se tornado uma das maiores bandas do mainstream por praticamente todos os últimos 20 anos, o Foo Fighters não foi o suficiente para que a indústria da música voltasse seus olhos a um movimento que foi gigantesco no underground e que teve através de nomes como The Get Up Kids, Jawbreaker, Texas Is The Reason e, é claro, o Fugazi, verdadeiros heróis de uma geração inteira.
O movimento que foi intenso na metade dos anos 90 logo foi tomando novos rumos e enquanto poucos nomes chegaram a ser explorados pelas grandes gravadoras, a maioria deles tomou dois caminhos: o indie e o chamado emo.
Aqui no Brasil tivemos alguns nomes do estilo também no underground nos Anos 90 mas havia vários anos que uma banda não criava uma obra que mesclasse tão bem os diversos elementos presentes em um estilo tão vasto com um certo apelo pop como o novo álbum do menores atos.
Estão presentes as camadas de guitarra, os vocais alternados, as melodias e o peso. Tudo bem dosado e coberto por letras de quem sabe o que está falando. Ou escrevendo.
Animalia tem uma introdução instrumental que leva seu nome e logo emenda “À Distância”, com uma guitarra que, apesar de ter destaque, logo ganha a companhia de baixo e bateria alinhadíssimos e bem mixados. “Me culpe por todo o bem que eu fiz / e siga apontando o seu nariz pro alto, pro nada, pra onde bem entender” canta o vocalista em meio a elementos que emolduram a obra.
O começo de “Doisazero” pode te lembrar de pares de outra banda de Dave Grohl, o Nirvana, mas logo toma outro caminho e deixa claro logo na terceira canção que em Animalia nada é óbvio. As alternativas são diversas, as introduções, as pontes, os finais, os versos.
É assim com o ótimo trabalho de baixo em “Transtorno” e o rockão de “Passional”, antes do ponto alto do disco, a já candidata a melhor faixa do ano, “Sereno”.
Essa canção deixaria nomes como Circa Survive, Look Mexico, Samiam e Brand New orgulhosos, tem um apelo radiofônico para o público “em geral” de rock, um refrão sensacional e, ao vivo, definitivamente fará com que a plateia não faça nada além de surtar e gritar bem alto:
Eu só levei o que é meu / Não lhe tirei nada / Além do que eu também perdi / Ao ir embora
Após o clima crescente criado durante todo o álbum até “Sereno” e sua porrada na cara, a banda elencou de maneira muito oportuna a sombria e reflexiva “Sobre Cafés e Você”, uma espécie de balada que não cai na obviedade da voz e violão, mas traz belas guitarras e uma performance vocal solo de fazer chorar. E isso é muito bom.
A partir daí, o final do álbum se aproxima com “Paixões, Virtudes e o Incondicional” e “Oceano”, duas faixas que mostram, mais uma vez, os dois lados da banda sem cair nos clichês do estilo: melodia e peso em doses quase precisas.
O final fica por conta de “Tragédia Circular”, onde o caldeirão de influências e elementos do menores atos ferve de vez com berros, a participação de Reynaldo Cruz (Plastic Fire), e a presença mais marcante do punk, do rock e do hardcore em qualquer uma das músicas do álbum.
O encerramento é quase que instrumental, já que bons últimos minutos da faixa são de guitarras alternadas, solos, distorções, riffs e berros que ao finalizarem Animalia farão com que o ouvinte sinta que uma avalanche sonora passou por cima dele e, que a vontade é uma só: ouvir de novo.
As grandes gravadoras apostaram no som do Foo Fighters e todas as suas referências ao emo e ao post-hardcore, como fica claro em “My Hero”. Os tempos são outros, as cenas são outras, a música é outra e a década, sem dúvidas, é outra, mas houvesse culhões na indústria da música brasileira, essa banda já teria explodido. Ainda há tempo, senhores. Ainda há tempo.
Nota: 10/10