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Resenha: Wolfmother – New Crown

Após anunciar o fim da banda, Andrew Stockdale reinicia o Wolfmother com o garageiro New Crown, terceiro álbum dos australianos.

Wolfmother - New Crown

Wolfmother - New Crown

Um trio coeso por muitos anos, o Wolfmother pareceu fadado ao fim inúmeras vezes. A primeira delas foi em 2008, quando o baixista e tecladista Chris Ross e o baterista Myles Heskett anunciaram a saída do grupo australiano, a partir daí capitaneado exclusivamente pelo guitarrista e vocalista Andrew Stockdale. Até então o Wolfmother era uma das sensações do “novo rock”, estourada no meio alternativo com “Woman”, figurinha repetida nas trilhas de inúmeros filmes e jogos de videogames da segunda metade da década de 2000.

A seguinte foi após a injusta recepção morna de Cosmic Egg (2009), o pesadíssimo segundo álbum da banda, e primeiro após a separação do trio original. A terceira, aparentemente definitiva, foi quando Stockdale anunciou o fim da banda para lançar o fraco Keep On Moving (2013), primeiro álbum solo dele, divulgado anteriormente como o-que-viria-a-ser o terceiro álbum do Wolfmother. Era um fim decepcionante para uma das bandas mais interessantes do rock produzido nos últimos anos.

Mas o talento musical de Stockdale parece equivalente à incapacidade dele em tomar decisões definitivas, e apenas três meses depois anunciou uma nova reviravolta: o Wolfmother não só seria ressuscitado como produziria um novo álbum, o independente New Crown, lançado na página do grupo no Bandcamp no dia 23 de março. O resultado não é o esperado por muitos, mas surpreende pela habilidade de Stockdale em olhar para frente mesmo ao revisitar o próprio passado.

Apesar de ser cronologicamente um novo passo, New Crown não soa como um sucessor de Cosmic Egg. Na verdade, New Crown não encaixaria tão bem nem como um sucessor a Wolfmother (2006), a estreia do grupo. New Crown é menos polido, melódico e acessível que os dois antecessores, e soa muito mais cru e garageiro. E mesmo sem a versatilidade contagiante do primeiro – um excelente exemplo de que é possível criar-se rock comercial sem ser cafona – nem a ambição exagerada do segundo, New Crown consegue acertar o alvo ao ser preciso, objetivo e direto.

Com 46 minutos de duração, é o álbum mais curto do Wolfmother. Efeitos de distorção e fuzz, muito fuzz, estão amplamente presentes em dez das onze faixas do álbum – a psicodélica “I Don’t Know Why”, última do disco, é a única exceção. Isso joga contra e a favor do álbum, empolgante pela energia onipresente, mas cansativo a ouvidos pouco interessados em tanta sujeira. Na ala da composição, Stockdale também decidiu não ousar demais, e manteve o approach setentista dos trabalhos anteriores: uma ode contemporânea a Black Sabbath, Deep Purple, Led Zeppelin e The Rolling Stones com um quê de The White Stripes no meio.

A sintonia de Stockdale com o baixista e tecladista Ian Peres, o único integrante a permanecer ao lado do guitarrista desde o fim do trio original, é evidente, e mostra avanços em relação aos arranjos de Cosmic Egg. Frequentemente ambos se unem para potencializar riffs fortes como os de “Heavy Weight”, “New Crown” ou “I Ain’t Got No”. Mesmo quando o groove roqueiro dos 1970 dá lugar a uma dinâmica reta, como nas rápidas “Feelings” e “She Got It”, Peres acerta a mão e oferece um sopro de esperança a quem apostou contra a decadência do Wolfmother. Vin Steele, contratado para a vaga de guitarrista base em 2012, acabou virando o baterista do grupo em New Crown, e oferece uma performance simples mas suficiente para dar o gás necessário às composições de Stockdale, que volta a exibir com competência os vocais agudos pelos quais ficou conhecido.

Mais que um “retorno” do Wolfmother, New Crown deve ser encarado como um reboot, uma reinicialização do grupo. Depois de mais de cinco anos turbulentos, Andrew Stockdale exibe disposição para dar ao Wolfmother o rumo que o grupo merece desde o surpreendente álbum de estreia: a consolidação entre os grandes nomes do rock recente. New Crown ainda não é o Paranoid, o Machine Head, o IV, o Beggar’s Banquet ou o Elephant do Wolfmother: falta originalidade para isso. Mas esse disco-surpresa nos faz crer novamente que há espaço para um clássico na discografia dos australianos, caso o futuro assim permita.

Nota: 6,5/10