Entrevistas

Entrevista: Fernanda Takai

Conversamos com Fernanda Takai sobre o papel da mulher no rock, o <B>Pato Fu</b>, seu novo álbum e sobre discos e amigos.

Assista ao novo clipe de Fernanda Takai

 

Uma das vozes mais doces da nossa música, uma artista inquieta e inventiva, Fernanda Takai é sinônimo de mulher de personalidade e lança nesse mês seu novo trabalho solo, Na medida do Impossível. Um ótimo álbum que consolida de vez sua carreira em paralelo ao Pato Fu, que deve voltar com disco novo ainda esse ano.

Para falar sobre sua trajetória na música, a vida e o futuro, conversamos por telefone com Fernanda, que sim, é tão adorável quanto parece no instagram. Confira nossa conversa com ela abaixo.

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TMDQA!: Seu disco novo se chama “Na medida do impossível”. Hoje o que é impossível pra você?

Fernanda Takai: (risos) No título eu tentei sintetizar as dificuldades de fazer o álbum… Pensando assim, tudo é possível. Quando fiz o primeiro rabisco do disco, quem eu pensava em chamar formava um time dos sonhos. Não sabia se o George Michael ia liberar a versão, se o padre ia gostar da música de videogame, se o Samuel ia poder gravar, se ia Pitty ia querer… O disco, se acontecesse, seria maravilhoso… O título é um álibi. Se alguém não pudesse participar, ficaria ainda tudo bem. Todos aceitaram e nada tive que insistir, que tentar pressionar…

TMDQA!: Você é uma referência para novos artistas, não necessariamente pela música, mas por impor uma personalidade própria no que você faz. Como você encara isso?

Fernanda Takai: Fico feliz! Principalmente por ser admirada por artistas que também admiro. Lembro sempre de dois, o Leo Cavalcanti e o Silva, dois novos. (Nota do editor: Fernanda gravou uma participação no disco novo do Silva. Ouça aqui.) As pessoas são todas tão pessimistas em relação à música, sabe? Sim, temos o “Lepo Lepo”, mas também temos isso. São artistas com carreira, que vão ficar e conquistar público. Tenho uma banda há 22 anos e com o tempo fomos encontrando pessoas como o Gil, o João Donato, o Duran Duran

(Nota do Editor: Fernanda sempre foi fã do Duran Duran. No seu disco ao vivo “Luz Negra”, ela regravou “Ordinary World”. A banda a convidou para participar do show deles anos atrás.)

Aliás, esse contato com novos artistas é ótimo. Mantém a humanidade. Prezo sempre me manter como a mãe da Nina, a filha da Sílvia, que tem que dar um jeito no carro e nas compras e em mil coisas. É daí que vem a ideia, da observação. Seja para música, para um texto… Só saindo pro mundo, ficando aberto. Quando o Pato Fu vai para algum lugar eu já me programo para ir num mercado, numa praça, num museu. Faço uma mini-excursão…

Mas voltando, são esses artistas que terão vida longa. Lembro também de cantoras como a Érika Machado, a Roberta Campos, a Tulipa, que desenha também. Acho muito legal que existam esse tipo de artistas. Que buscam viver a vida.

TMDQA!: O novo disco soa como uma evolução do “Onde brilhem os olhos seus”, é plural, vivo. O processo de amadurecimento dele foi bem longo né?

Fernanda Takai: Foi! Entre o primeiro, de 2007, fiz um disco ao vivo (Luz Negra), um disco chamado Fundamental, em parceria com o Andy Summers, e surgiu todo o projeto do Música de Brinquedo, que é lindo e ocupou esses últimos anos. Quando clareou um pouco, comecei a pensar em compor para um disco solo, mas sem trair o Pato Fu. Para isso busquei novos parceiros e deixei o John (Ulhoa, marido e parceiro de Fernanda), que assina quase todas comigo, só na produção… O que é bem importante, né? (risos).

O novo do Pato Fu tá composto, mas não conseguimos parar. Cada um tá com seu projeto rolando…

(Nota do editor: Além do disco solo da Fernanda, o baixista Ricardo Koctus lançou disco solo, Xande Tamietti também assume as baquetas da Preto Massa e o John vai lançar seu primeiro trabalho solo, a trilha sonora de um espetáculo do Grupo Giramundo)

TMDQA!: Entre as músicas do novo disco tinha alguma que tinha sido composta pro Pato Fu ou todas são inéditas?

Fernanda Takai: Não, nenhuma do Pato Fu. E todas vieram de um modo diferente. A mais antiga é a com o (Marcelo) Bonfá, que tinha sido composta para um disco dele. E acho que algumas das versões não entrariam se tivesse que passar pela votação da banda. Por exemplo, “Amar como Jesus amou”. Essa é uma música importante para mim. Eu estudei em colégio católico e tocava ela na aula, na verdade foi com essa música que eu toquei pela primeira vez. Eu conheci o Padre Fábio de Melo num programa de TV e na hora pensei que ele seria a pessoa certa para gravar comigo. Ele é culto, inteligente e canta de verdade. Fiquei meio receosa se ele ia topar com o arranjo de videogame do Toshiyuki Yasuda.

TMDQA!: Você conheceu ele na gravação do Red Hot + Rio 2?

Fernanda Takai: Conheci em Tóquio. Sempre que tocávamos lá, ele deixava alguns CDs com músicas dele. Quando eles gravaram a música, nem estavam no projeto. Eu que mostrei pro pessoal que estava organizando o Red Hot + Rio 2. Eu aceitei gravar se eles um dia gravassem algo comigo (risos).

TMDQA!: (risos) Isso sempre rola?

Fernanda Takai: Sim, sim. Usei a minha agora. O Atom ainda me deve uma faixa. (risos)

TMDQA!: Falando em gravar juntos… Você e o Samuel Rosa são da mesma geração, da mesma cidade… Por que demorou tanto para rolar essa parceria?

Fernanda Takai: Então, a gente sempre se encontrava e falava de um dia fazer algo junto. Sabíamos que ia acontecer,  mas não quando. Um dia eu falei com ele “vamos fazer algo… agora!”. Nesse disco fui eu que sempre dei o start, começar a fazer acontecer, a cobrar… Eu comprava passagem, ia para São Paulo, onde estão a Pitty e a Marina (Lima), ia buscar no aeroporto.

O Samuel é muito ocupado. A gente mora perto, mas é algo meio U2… “Faraway, so close”. Já tínhamos cantado juntos, mas era a gente e um monte de gente. Esse disco foi um primeiro passo.

TMDQA!: Fernanda, o Brasil é muito conhecido por suas cantoras, mas sempre na MPB, parece que em outros gêneros é mais complicado para a mulher. Como você vê o papel da mulher na nossa música?

Fernanda Takai: Temos muitas cantoras, autoras, mas em bandas… Ainda é um meio muito masculino, sabe? Quando eu comecei no Pato Fu já era assim. Temos ótimos exemplos de mulheres como líderes de bandas, de bandas de mulheres. Não devemos nada em qualidade, só em quantidade. Gosto da Pitty e da Paula Toller, são gerações diferentes, sons diferentes, mas com uma qualidade feminina muito boa e com inteligência. Assim como a Marina Lima…

Minha conexão com isso é de dar as mãos. Quando os artistas se unem, acho que o público dá uma outra chance, nem que seja pela curiosidade… Algo meio “nossa, a Fernanda compôs com a Pitty… Mas por quê? O que a Pitty tem feito?” ou vice-versa. Abre um diálogo, uma construção de algo maior. Isso falta em outras áreas, seja religião, política ou questões de gênero. Precisamos conversar mais e construir.

Espero que isso mude, é uma luta complicada mas acho que aos poucos estamos andando pra frente. Sou otimista.

TMDQA!: Para encerrar: você tem mais discos que amigos?

Fernanda Takai: Olha, vou compartilhar minha solidariedade com a causa de vocês. Amigos são raros e discos, inesgotáveis. Ter muitos discos é preciso para os muitos humores que temos… Acabo ouvindo de tudo. Nossos discos são nosso tempero, nossos amigos, porto seguro.

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