O Sugar Kane está prestes a lançar seu novo disco de estúdio, Ignorância Pluralística.
O álbum marca uma mudança bastante sensível na sonoridade do grupo e principalmente em suas letras, que nesse álbum estão mais diretas e claras do que nunca e falam sobre o estado atual em que a sociedade brasileira se encontra.
Pastores na política, acomodação do povo, corrupção, drogas, comercialização da religião, tudo é falado no álbum e nenhuma das faixas escapa desses temas e de como eles influenciam o dia-a-dia do povo, sua situação econômica, bem estar e seu futuro.
Ignorância Pluralística será lançado amanhã, dia 08 de Abril, mas ouvimos o álbum antecipadamente e trazemos aqui com exclusividade uma análise faixa a faixa de cada um dos sons.
Veja!
“Vital”
Hardcore direto e reto que tem várias marcas do gênero e começa com uma frase significativa, “Não quero trabalhar das 8 às 6,” que explica muito sobre a situação atual da sociedade no país e dá a tônica das letras que o ouvinte irá encontrar no disco.
Apesar de falar a respeito de como as pessoas estão em um estado quase hipnótico e um ritmo industrial com o dia-a-dia, também pode ser relacionada à longevidade do Sugar Kane, uma banda que após anos de estrada faz o que faz porque gosta e porque sente essa inquietação.
“Fui Eu”
“Fui Eu”, divulgada com um lyric video muito bacana, tem a cara do Sugar Kane e traz diversos elementos dos outros discos da banda como guitarras altas e uma pegada bem própria. O vocal de Capilé talvez seja o menos rasgado do disco inteiro e o refrão definitivamente irá ficar na sua cabeça.
“Surtei”
Quebras de andamento, sujeira, camadas de guitarra e um clima bastante denso dão o tom de “Surtei”, que se coloca mais uma vez na pele do cidadão médio, surtando sem nem perceber.
Junto a berros de Capilé, é narrado um texto que passa pela discografia da banda:
É elementar
A continuidade da máquina é só diversão esquizôfrenica para mentes ociosas
Por nossa paz, rudimentar uma vez um dia colorido
Ignorância pluralística
A música termina emendada na próxima, “Paciência Pra Burrice”.
“Paciência pra Burrice”
O hardcore dos anos 80 e o rock de garagem dão as caras de maneira bastante evidente na música que tem algumas das frases mais claras e diretas sobre o que tem acontecido no Brasil nos últimos anos:
Elegem madeireiro para a flora proteger / Pastor do preconceito pro humano defender / Terra em que ladrão assume o poder / Terra onde nasci e por ela eu vou morrer
Essa é a faixa onde fica mais evidente os sons que a banda ouviu para gravar seu novo disco, deixando o melódico fora do hardcore e apostando em sons mais pesados.
“Classe Média”
“Classe Média” fala sobre como essa parcela da população desistiu de brigar e passou a simplesmente se matar de trabalhar para “comprar um carro, financiar a casa, se viciar em prestação e não andar mais de lotação.”
Elementos de rock nacional dos anos 80 e 90 se fazem presentes em uma espécie de hino da acomodação do povo brasileiro.
“Pastor Felício”
Em “Pastor Felício” a influência de grupos religiosos na sociedade é abordada de forma clara e direta em uma música escura cheia de guitarras e montada através de um vocal que conta a história do personagem principal.
Pastor Felício no ano eleitoral usou propina para se eleger
Foi pra Brasília deputado federal, quis manipular nossas leis
Sua cura é lavagem cerebral
Um sorriso e tá tudo bem
Me passe a senha do seu cartão
Tiro o diabo na televisão
O dízimo tem que pagar
Me dê tudo que você juntar
A expressão “Em nome do pai” é então gritada e repetida várias bandas em um dos pontos altos do disco.
“Tonelada”
Uma levada cheia de trabalhos na guitarra e mais uma história contada por Capilé: a da compra de uma tonelada de farinha em Medelín e a sequência de tragédias causadas por flechadas de índios no avião que transportava a operação.
Berros a la Dave Grohl dão o tom da canção.
“Por Que Não?”
Uma música baseada em elementos do post-hardcore é o pano de fundo para mais uma música sobre a comercialização da religião.
Vamos vender o amor de Deus
Para ter o sonho realizado
Me dê uma parte do seu suor
Ou te farei ser odiado
Por ser aquilo que você é
Por que não?
A música caminha em uma levada marcante, conta com um solo de guitarra e termina com Capilé gritando, mais uma vez, a frase “Vamos vender o amor de Deus.”
“Um Milhão”
Berros, berros, berros, berros e uma letra que fala sobre como o ser humano pode abandonar seus valores sem muitas dificuldade por conta do dinheiro.
Cantada em um estilo que lembra Jello Biafra do Dead Kennedys e Serj Tankian, do System Of A Down, a faixa é curta e direta, uma das melhores do disco e bela ponte entre os trabalhos que estão antes e depois dela.
“Sanidade”
A ponte anterior serve para trazer “Sanidade”, que tem uma pegada mais lenta do que as canções anteriores. Novamente a banda volta a flertar com o rock mais clássico, guitarras solo em versos e vocais, e um refrão com cara de música pop.
“Não Sabe O Que Fez”
Quando você menos espera, o disco acaba com mais uma porrada punk e instrumentos caóticos que te deixam com vontade de ouvir o disco novamente para entender o que aconteceu.
Com mais uma letra direta, completa o álbum mais claro e cheio de raiva da carreira de uma banda que não é exatamente conhecida pelo protesto e as críticas.
Isso está prestes a mudar.
Entrevista
Leia entrevista exclusiva que fizemos com Capilé falando a respeito do novo rumo da banda, o disco, seus novos projetos e mais.
É só clicar aqui.