“Cauby – Começaria Tudo Outra Vez”, de Nelson Hoineff
Dirigido por Nelson Hoineff, “Cauby – Começaria Tudo Outra Vez”, que também concorre na Competição Nacional, além de narrar a história de Cauby Peixoto desde a década de 1950, é também um belo retrato da Era do Rádio, em que os ídolos arrastavam multidões de fãs histericamente apaixonadas. Artistas como Elvis Presley e Beatles, e no Brasil, Agnaldo Rayol e o próprio Cauby Peixoto eram cultuados por suas apresentações ao vivo nas rádios, único meio de comunicação de massa acessível antes da popularização da TV.
O longa faz um paralelo entre o que foi e o que é Cauby hoje. O ponto mais forte do filme são as dualidades que consegue passar do artista, que vai do sofisticado ao brega, com suas vestimentas que mesclam o chique e o cafona, sua música que no passado foi chamada de “moderna,” sua vaidade e sexualidade abertas. Cauby ensinou o Brasil a dançar o rock and roll de Elvis Presley, tanto que hoje ainda é aclamado por suas fãs “sessentonas,” que fazem parte de um fã clube que o segue aonde quer que ele vá. Como uma espécie de Frank Sinatra brasileiro, o artista sempre pregou o amor em sua música, o amor romântico, meloso, o amor carnal, sexual, e também o amor puro, ingênuo, sem máscaras e sem preconceitos.
Cuidadoso ao falar da sexualidade de Cauby, o filme o coloca como um libertário sem amarras, que não está nem aí para os rótulos. Ele confessa: “Depois a gente tem preferências, mas garoto quando está com outro garoto, transa, é natural”. Com o mesmo cuidado o diretor também fala das inúmeras namoradas de Cauby, um mulherengo romântico nato. Sua vaidade também expõe traços de sua sexualidade aflorada: maquiagem de show, ternos extravagantes, cheios de brilho, paetês e iluminação.
O ponto fraco do longa é a busca de um garoto de 15 anos fanático por Cauby. Apesar de provar que sua música e estilo conseguem transpor épocas e interessar até os mais jovens, mesmo que poucos, a história desse fã fica meio perdida em meio ao filme, que tem o tom de “coletânea de sucessos”. É interessante notar a versatilidade de Cauby, que passou por inúmeros estilos musicais durante sua carreira, pelo rock, pela bossa nova, pelo samba, pela MPB. Todo o filme carrega um ar mítico, exótico, que reflete os lados de Cauby Peixoto. Vale conferir!