Sábado, 17 de Maio
Shotgun Wives
A escalação da segunda noite de festa no CCON foi arquitetado com bandas que alternavam entre a agitação do eletrônico e do rock dançante com a psicodelia e o rock noventista. De Goiânia, o projeto Diversões Eletrônicas & Abdala foi o escolhido para abrir a noite. Em uma atmosfera densa de efeitos, o conjunto de noise experimental e instrumental fez um som introspectivo e parecia conduzir a apresentação com base no improviso.
Já a Shotgun Wives é uma banda de palco. Apesar do pouco tempo de existência, a atração já tinha metade do público presente conquistado e o ganhou inteiramente logo nos primeiros momentos de sua apresentação. Formada por nomes conhecidos da região goiana, como o baixista Pedro Falcão (membro da banda Cambriana), o sexteto de folk rock dançante extasiou seus antigos e novos fãs, que pulavam, berravam, assobiavam e aplaudiam a cada música lançada; tanto que quando o grupo anunciou que iria se despedir, a resposta do público fez com que a banda tocasse ainda mais duas músicas: um clássico dos anos 50, “I Put a Spell on You”, e uma versão animadíssima de “Kids”, do MGMT. Não é exagero algum dizer que o Shotgun Wives teve o público em suas mãos, com músicas autorais e clássicos do rock.
Acalmando a galera depois do efervescente show do Shotgun Wives, os goianos do Luziluzia mostraram sua mistura de rock alternativo e música tropical em faixas cantadas em português, com riffs bem elaborados e guitarras dedilhadas, enquanto os paulistanos da INKY se prepararam para fazer sua estreia em Goiânia no palco 1 do Bananada.
Formada por Luiza Pereira (vocal e sintetizador), Guilherme Silva (vocal e baixo), Stephan Feitsma (guitarra) e Victor Bustani (bateria), a banda que mistura rock and roll com elementos eletrônicos transmitiu toda a sua empolgação para o público, que a cada música compreendia melhor a proposta da INKY, uma das atrações mais interessantes do festival. Por conta do curto tempo para se apresentar e por suas canções serem longas, a banda deixou gosto de “quero mais” ao tocar apenas 6 faixas de seu bem recebido álbum de estreia, Primal Swag (um dos principais lançamentos nacionais do ano), que viu a luz do dia via UIVO Records em Abril. O show, no qual o baixista Guilherme Silva não parava quieto enquanto Luiza Pereira interpretava as canções, Stephan Feitsma brincava com seus pedais e Victor Bustani comandava os compassos das músicas; começou com o próximo single do quarteto, a hipnotizante “Fish Delay“, e seguiu com a grudenta “Ice-O-Lator“, a swingada “Coincide“, a roqueira “Echoes in the Grove“, a tão marcada “Tricky Manners” e foi finalizado com a extensa faixa-título de seu disco, “Primal Swag“. Assim como aconteceu logo ao lançar seu primeiro EP no ano passado, a INKY caiu nas graças do público já em sua estreia em Goiânia, sendo um dos destaques da noite.
Logo após a introspeção e o rock alternativo noventista que formam as características do trabalho dos sulistas do Loomer, os paulistanos da banda Aldo chegaram para comprovar que, de fato, são merecedores de toda a aclamação que tem cercado seu nome desde o lançamento do álbum Is Love em 2013, ao terem sido responsáveis pela performance mais surpreendente e mais arrebatadora da noite de sábado. Com uma banda completíssima, formada ainda pelo baixista Isidoro Cobra (ex-Jumbo Elektro), pelo baterista Erico Theobaldo (do Maquinado, projeto paralelo de Lúcio Maia, da Nação Zumbi) e pelo DJ Murilo Faria, o vocalista, guitarrista e irmão de Murilo, André Faria, era piração total, um verdadeiro showman e define o sentido de “alucicrazy”: ia de um extremo ao outro do palco e chegou a descer do mesmo, em certo momento, para cantar e dançar junto com o público, que abraçou o trabalho da banda. Além de faixas autorais já gravadas e lançadas, a banda também apresentou uma inédita e que estará presente em seu segundo registro de estúdio, com previsão de lançamento para ainda este ano.
O projeto de Tatá Aeroplano, Cérebro Eletrônico, resgatou os elementos psicodélicos setentistas em seu show, tanto em aspectos visuais quanto sonoros. Encarnando personagens em diversos momentos da apresentação, Tatá cantava sobre temas cotidianos de maneira tragicômica e extrovertida. A extroversão também foi um dos pontos marcantes do show dos gaúchos do Bidê ou Balde, que apesar de terem passado por problemas para chegar em Goiânia, devido a atraso de vôos, não deixaram cair sua característica energia. O inquieto e performático Carlinhos Carneiro, ao lado de seus companheiros de banda, conduziu o show com empolgação do início ao fim.
Um dos nomes que melhor tem ampliado a visibilidade de Goiânia como berço de bandas nacionais mais faladas da atualidade e que levaram seus trabalhos para o exterior, a Boogarins fechou as atrações do palco 2 no sábado do jeito esperado: linda noite sob céu estrelado, com o belo visual do CCON ao redor e um público atencioso acompanhando a voz “reverberada” de Dinho, bem como o som psicodélico tirado pela banda.
No show de maior interação público-banda da noite, a Móveis Coloniais de Acaju já entraram no palco de maneira inusitada, pondo à frente do mesmo um véu branco, dificultando a visão dos fãs que observavam apenas as silhuetas de seus integrantes em primeiro momento, até o véu cair e a banda fazer a festa mais perto de seus admiradores. O grupo, liderado por André Gonzales, contagiou o público com uma performance eletrizante, como de costume. Em um momento que não é novidade para os fãs, Gonzales chamou ao palco Frango Kaos, vocalista do Galinha Preta, para tocar a música “Vai Trabalhar”, da banda que também é de Brasília. A música “O Tempo” fez o CCON cantar alto com o grupo, que deu o “boa noite” do segundo dia ao público que ali lavou a alma em mais um show performático da Móveis.