Domingo, 18 de Maio
No último dia de festival, a programação de shows começou mais cedo, as 17h, mas antes mesmo do horário o público já marcava presença para celebrar o dia mais diverso, com shows de artistas de rap, death metal, rock alternativo, metal, hardcore e rock’n’roll. O dia de domingo também foi o mais dominado por skatistas, já que abrigou a grande final do torneio da Goiânia Crew Attack com direito a demonstração da equipe Glassy Sunhaters.
A promissora banda Overfuzz já começou as atividades sonoras do dia com um rock’n’roll pesado, coeso e bastante influenciado por Motörhead, onde a plateia viu o guitarrista e vocalista Brunno Veiga extrair riffs e solos de sua guitarra durante sua presença de palco cativante. Ainda com o baixista Bruno Andrade, a performance da Overfuzz contou com Rodrigo Andrade, do Hellbenders, assumindo as baquetas no lugar de Victor Ribeiro, presente na plateia.
Criada em 2007 em Uberlândia, Minas Gerais, ou no Triangulo Satânico Mineiro, como eles mesmos gostam de dizer em seus shows, a KroW foi a banda mais densa da edição 2014 do Bananada. Os pogos começaram a ficar mais afiados com a banda de trashmetal e com os vocais guturais de Guilherme Miranda. O grupo fez bonito em mais um show da Relentless Disease Tour.
Outra atração de Minas Gerais, a dupla Muñoz, formada pelos irmãos Mauro (guitarra/vocal) e Samuel Fontoura (bateria), apresentou seu rock’n’roll cru e direto ao ponto, tem como referência a nata do blues-rock. Com vocais rasgados, intensos e impecáveis, Mauro Fontura apresentou faixas do aclamado compacto de estreia do projeto, que faz parte da nossa lista de Melhores EPs de 2013, além de faixas novas e muito bem recebidas, que levaram a entender que o próximo lançamento do grupo não deixará nada a desejar em comparação com o primeiro.
Um grande destaque do dia foi a banda instrumental Huey (SP), que fez o pogo esquentar com suas músicas bem trabalhadas abrangendo estilos que vão do thrash ao doom metal, passando pelo stoner e experimental, que é a pegada característica do quinteto. Uma banda que chega para cravar a bandeira das bandas instrumentais que cada vez mais ganham espaço em festivais como o Bananada. Outro ingrediente que torna a banda bem interessante é a forma extrovertida com que os integrantes interagem com o público e a produção visual dos mesmos – havia até um “mascote” de frontman no pedestal. A banda findou sua apresentação com “Valsa De Dois Toques”, música lançada aqui no TMDQA!.
Uma das bandas mais ativas do país e um dos nomes mais importantes da história do hardcore nacional, Sugar Kane, não deixou o clima enérgico de seu show parar em nenhum minuto sequer. Abrindo a apresentação e a maior roda de pogo do festival com a nova “Fui Eu”, a banda aproveitou a passagem pelo Bananada para não só celebrar seus 17 anos de existência, mas para relembrar seus clássicos cravados na cena hardcore brasileira e, claro, para divulgar seu novíssimo álbum de estúdio, Ignorância Pluralística, lançado em Abril deste ano. Deixando a plateia para cantar junto em músicas como “Me Façam Entender”, “Janeiro” e “A Máquina”, a banda liderada pelo vocalista e guitarrista Capilé finalizou sua apresentação com “Vital” e prometendo retornar em breve a Goiânia, para realizar mais um show no Diablo Pub.
O projeto do músico, compositor e vocalista português Paulo Furtado, The Legendary Tigerman, não poupou experimentações e mostrou toda sua virtuosidade em músicas enérgicas e roqueiras, chegando a convidar algumas meninas para subirem ao palco e dançarem ao som animado do projeto.
Eis que chega a hora do Far From Alaska, uma das atrações mais esperadas não só de domingo, mas de todo o festival. Isso ficou ainda mais claro quando, antes mesmo do show começar, admiradores do trabalho do quinteto já se aglomeravam em frente ao palco. A inquieta banda potiguar já pisou no palco conquistando o público com seu carisma no primeiro show pós-lançamento de ModeHuman, que pôde ser comprado em primeira mão no festival. O repertório seguiu, basicamente, a ordem disposta no CD e o quinteto começou mandando ver com a poderosa “Thievery” e arrancando muitos aplausos com o rock desértico de “Dino vs Dino”, ambas cantadas pelos fãs. O público pôde conferir pela primeira vez ao vivo “Rainbows” e “About Knives” em um show excepcional, que consistiu em um belo entrosamento de vozes; puxadas cortantes do lapsteel de Cris Botarelli; uma cozinha super afiada entre o baterista Lauro Kirsch e Eduardo Filgueira no baixo; e o “pedalmaníaco” Rafael Brasil destruindo na guitarra com seus efeitos, deixando muitos do público se perguntando: “Como ele fez aquilo?”
O baixista Edu Filgueira, sempre interagindo com a galera, sentou no palco e puxou um solo de baixo com chorus na atmosférica “Monochrome”, onde a multi-tarefas Cris Botarelli faz dueto com a vocalista Emmily Barreto, e ainda toca seu “tecladinho”, como ela mesma diz. Impossível citar um destaque na banda, pois seus integrantes são completos. Eles poderiam até ter tocado mais uma música, mas usaram este tempo para agradecer e interagir com a plateia, criando um espécie de intimidade com os fãs, onde até rolou um convite para todos irem à banquinha de merchandise para conversarem com o grupo. Far From Alaska fez um dos melhores shows do festival e esta banda promete dar o que falar em sua primeira turnê pelo país, que tem previsão de início em Agosto.
No palco 1, entre músicas autorais, o rapper, cantor e compositor paulistano Rael também incluiu em seu show animado uma interessante e bem feita mash-up de “Da Lama Ao Caos” (Nação Zumbi), “Bitch Don’t Kill My Vibe” (Kendrick Lamar) e “Negro Drama” (Racionais MC’s), saudando o rap nacional.
“A melhor banda de rock do mundo”, nas palavras de Fabrício Nobre (MQN), o quarteto goiano Hellbenders fez sua lição de casa da forma mais insana e destruidora possível, como sempre. Com Braz Torres (voz e guitarra), Diogo Fleury (voz e guitarra), Rodrigo Andrade (bateria) e Augusto Scartezini (baixo), a banda é dona de uma presença de palco surpreendente e extrovertida, sempre levando o expectador a pensar: “o que será que irão fazer agora?”. O setlist teve como base seu comentadíssimo disco de estreia, Brand New Fear (que figurou em diversas listas de Melhores Álbuns Nacionais de 2013), e foi aberto com “No Thinking”, seguindo com músicas como “Outburst”, “3 Times or More”, “Holy Whiskey” e “Hurricane” (na qual Diogo Fleury largou a guitarra, cantou cara a cara com um fã e retornou a empunhar sua guitarra para finalizar a canção).
Hellbenders com Denis Dec (Black Drawing Chalks)
A banda ainda aproveitou a noite de festa para registrar um vídeo de “Outburst” (faixa que o TMDQA! já havia apontado há meses para se tornar o próximo single do grupo) e retornar ao palco atendendo a pedidos do público para mandar “Whorehouse Murder” em uma versão diferente da existente em Brand New Fear. Era interessante também observar como Denis Dec, baixista do Black Drawing Chalks, acompanhava o show do palco, pirando no trabalho dos amigos que se apresentavam, fazendo até mesmo air drums e sinais de aprovação. O músico, que havia tocado no mesmo palco na sexta-feira, não se conteve e participou brevemente como headbanger da apresentação do grupo.
Marcado por moshs atrás de moshs, o show terminou com o baixista Scartezini seguindo a insanidade da plateia e, logicamente, se atirando do palco para ir ao encontro da galera.
Leandro Roque, conhecido como Emicida, fez jus à escalação de headliner para fechar não só o domingo mas a semana de Bananada, conseguindo conquistar o público, até os que estavam ali curiosos para conhecer seu trabalho. Carismático no jeito de cantar e misturando hip hop com outros estilos musicais, o rapper estava bem acompanhado de Doni Jr., Anna Tréa, Samuel, Café e DJ Nyack, que fizeram o público cantar alto no CCON com sua levada agressiva e suas rimas aguçadas em versos que chamam para reflexão do exercício diário de superar as dificuldades do mundo. O rapper encheu toda a área do palco 1 com fãs que sabiam cantar até mesmo os loopings e as programações de suas músicas. Como previsto, Rael, que ali havia se apresentado solo poucas horas antes, subiu ao palco para cantar a música “Levanta e Anda”, uma parceria entre os dois. O show seguiu em uma vibe bem legal de interação com o público. Sem sombra de dúvidas, um grande desfecho para o festival.
O que fica claro com o Bananada, além de comprovar que o festival não deve nada aos do exterior, é que a cena musical independente, principalmente a de Goiânia, torna-se cada vez mais forte, mais profissional e mais ampla. A ideia do Bananada, transmitida com sucesso, é abranger, respeitar e emergir os projetos mais interessantes e diversos ligados à música e que reúnem fãs de todas as idades, sem deixar de lado seu lema: rock sempre.