Texto por Paulo James (baterista dos Acústicos&Valvulados)
Fotos por Doni Maciel
Shows de Lendas do Rock, especialmente com projetos que prestam tributo a suas ex-bandas, são polêmicos. Tem fã que se ofende, acha caça-níquel, decadente, oportunista… Enfim, já rende um debate teorético-musicalista da pior espécie.
Por favor, me incluam fora dessa! Pra mim, se o cara fez parte de algo realmente histórico, se o cara virou lenda, referência, merece ganhar de lambuja uma carta branca pra fazer (quase) o que bem entender.
Exemplo? Chuck Berry. O véio Chuck não tem mais condições de apresentar um showzaço daqueles, mas quem se importa??? É o Chuck Berry, baby! O cara que apenas inventou o Rock… Então foda-se o mundo! Ele tem cacife pra ficar sentado num trono tomando-lhe um trago, enquanto põe uma banda pra rolar as “músicas de Chuck Berry”. O público que vai ver o mestre, vai prestar reverência, abre a carteira pra ter o privilégio de ficar alguns minutos da vida na companhia de quem fez história.
E assim é o ritual proporcionado por Marky Ramone com o seu projeto Blitzkrieg! Sim, um ritual, também porque Ramones é Religião! E nesse ritual a gente tem o privilégio de ver em ação um puta-velho do Punk (57 anos na fuça!), um cara que fez história, eternizou um estilo de tocar, comeu o pão que o capeta regurgitou na incrível trajetória dos Ramones. Recomendo fortemente, aliás, a leitura de “Na Estrada com os Ramones”, que dá uma baita noção do que esses caras viveram em nome do Punk e do Rock.
Então, tudo o que rolou no Bar Opinião, em Porto Alegre, dia 08 de Maio, não deve ser visto como um show de Punk Rock “regular”, um show de uma banda em atividade, que tá criando e lançando material, que tá cuspindo na sociedade e mandando aquele saudável “Fuck You” pra geral. É sim um ritual, com a participação crucial de um público fanático, que lotou a casa pra saudar o único Ramone “clássico” vivo, o cara que ainda pode levantar essa bandeira com propriedade. Então a coisa toda se trata de curtir afú esses momentos com o mestre, vendo ele gastar os dedos naquele style inconfundivel de mandar as bateras nos clássicos ramonicos e comandando a festa.
E muitos dos clássicos (ou quase todos) foram tocados. Meus destaques: “I Don’t Care”, pelo coro que quase superou o som do P.A.; “Surfin’Bird”, quando uma massa humana se acotovelou na pista, dando porrada pra todo lado e provocando várias baixas; e “Pet Sematary”, a mais popularmente radiofônica, vide a emoção do povo presente. Francamente, é óbvio que tem muito mais do que isso, mas não vai caber tudo aqui.
A banda é bacana, o vocal Michale Graves (ex-Misfits) desdobra um registro bem próximo do inigualável Joey, o repertório é foda, e os fãs curtiram MESMO o ritual punk-rocker-old-school do guerreiro Marky Ramone. Pra fechar: diz a lenda que, convidado pra uma festinha forte na cidade, o tio Marky virou e disse: “Não, obrigado. Tudo o que eu quero é um pouco de maconha e revistas pornôs.” I don’t care, baby!
Confere lá as atividades do Tio Marky em: http://www.markyramone.com