Entrevistas João Rock: Raimundos

Banda falou sobre carreira e política antes de tocar no festival. Leia!

Entrevista Raimundos_João Rock 2014

Um pouco antes de fazer o último show do Palco Universitário no João Rock, o Raimundos fez uma pausa para atender os jornalistas que faziam a cobertura do festival. Em um papo com o TMDQA! e outros sites, Digão e Canisso falaram sobre a Copa do Mundo e as manifestações, os sucessos da banda, a repercussão do Cantigas de Roda e claro, sobre ter mais discos que amigos. Acompanhe!

O povo quer saber: como vocês estão encarando a chegada da Copa do Mundo no Brasil?

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Digão: Eu acho que o Brasil não está dando conta e eu não estou falando de futebol, eu estou falando de uma coisa que para mim é mais importante, porque essa Copa está me envergonhando como brasileiro. Eu não consigo falar de futebol, eu não consigo falar da Copa, eu não estou de verde e amarelo. Se o Brasil ganhar, eu não sei… Eu estou mesmo é querendo que o outro Brasil ganhe, né? Não esse Brasil que está rolando aí…

Canisso: Padrão FIFA… a gente tinha que ter padrão FIFA primeiro nos hospitais, segundo nas escolas, terceiro no sistema viário, na mobilidade do brasileiro. Pô, o brasileiro pega um transporte público ridículo, dentro de uma lata de sardinha e a gente gasta bilhões superfaturados para fazer estádio de futebol! Tem que economizar um dinheirinho para ver se conserta essa situação, porque vontade política tem! Os caras em três anos fizeram uns estádios lindos, uns aeroportos maravilhosos, porque eles não fazem isso pelos hospitais? Pelas escolas? Eu estou realmente envergonhado.

Eu sou fã de futebol, eu gosto, eu acho que a seleção não tem nada a ver com isso, mas misturou política com futebol e infelizmente, os políticos do Brasil são como um “Midas* do Cocô”, sabe? Tudo o que toca se transforma em merda! Acho que se os jogadores da seleção pudessem escolher, eles fariam uma Copa do Mundo em qualquer outro lugar, na Europa, no Japão, num país rico, que tenha condições de fazer isso e que já tenha solucionado todos os seus problemas e aí ia ser legal a gente chegar lá, ganhar deles na casa deles, enfim, todo mundo ia estar torcendo. Aqui a gente não tem condições de fazer uma festa dessa porque aqui a gente tá decorando a sala da sua casa para as visitas e você dorme em cima de uma folha de jornal. Padrão FIFA tinha que ser para o país, a gente precisava ter um país padrão FIFA, aí sim. Esse país ainda é muito injusto, muito pobre, muito sofrido para gastar esse estupro de dinheiro para uma coisa que é completamente supérflua. Você gastar isso tudo de dinheiro para fazer um estádio em Brasília, por exemplo, que não vai ser usado, porque o campeonato de lá não leva nem mil pessoas aos jogos, isso não faz sentido! Mas não né? Eu acho que agora a gente tem que fechar com essas pessoas que tiveram coragem de ir para a rua, para tomar uma posição e fazer manifestação. É claro que a grande maioria tem medo dos vândalos, da bagunça, da bala de borracha, mas a gente tá ali com eles, em espírito, em coração, eu pelo menos estou!

(*Midas é um personagem da mitologia grega, que tinha entre seus principais atributos o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro)

 

O “Cantigas de Roda” foi um álbum produzido por vocês em parceria com os fãs, via financiamento coletivo. A gente queria saber como vocês estão sentindo as músicas desse novo disco no show e como a galera tem recebido essa novidade?

Canisso: Pra nossa surpresa sempre tem algum fã de onde quer que a gente toque nos grupos do Raimundos no Facebook pedindo as músicas do disco novo, por exemplo, a gente vai tocar aqui em Ribeirão, chega um fã lá pedindo coisa nova. A galera pede show só com as músicas novas, para a gente tocar todo o disco na íntegra. Isso é a maior prova de que o álbum foi super bem recebido pelos fãs, a galera sabe tudo.

 

E existe o projeto de um show “Cantigas de Roda” na íntegra?

Canisso: Cara, é uma ideia, dá pra fazer. A gente tá aí com alguns planos do tipo.

Digão: A gente pensa em fazer uma coisa nesse sentido, mas ao mesmo tempo não tem como a gente não tocar os clássicos. Aí se a gente bota o disco inteiro mais os clássicos no show a gente vai ficar uns 3 dias tocando…

Canisso: É, são três horas.

Digão: É muito show. Então a gente tá tentando aí fazer a “Lista de Schindler” para tocar…

Canisso: A gente até podia fazer esse show com tudo, mais aí a gente cobra dois cachês! (risos)

Digão: É, enquanto não rola assim, a gente faz um bem bolado… um mexido bem gostoso sabe?

Canisso: Isso, estilo goiano, com linguiça, carne de porco, feijão, frango… tudo!

Digão: É, então, a gente põe todas as músicas ali e junta com as que realmente estão pegando do novo, e cara, tem músicas do novo trabalho que estão nos surpreendendo muito, tipo “Nosso Hino”, que é um hardcore desenfreado e é uma das músicas que está mais animando no show e isso é um negócio que me deixa assim muito feliz.

Canisso: Pois é, tá muito legal. A gente gravou recentemente um vídeo, um lyric video, com os caras do fã-clube que a gente reuniu muito rapidamente e, para você não ouvir o disco no YouTube e ser só aquela imagem chapada da capa a gente fez uma série de mini-clipes, onde os fãs estão ali na frente da câmera, dançando, e cara, os caras já chegaram assim com o disco com uma semana de lançamento já com as músicas todas na ponta da língua, já cantando…

 

É, no show que vocês fizeram no Lollapalooza já dava para ver que a galera tava bem afinadinha no disco novo…

Canisso: Pois é meu, isso é muito bom! Isso dá um gás pra esses véio aqui que você não tem noção… é muito bom! (risos)

 

Quais são os planos de vocês para o segundo semestre?

Digão: Como somos nós que mandamos na nossa vida agora, não é mais uma gravadora que fica por trás forçando a gente a fazer alguma coisa, então a gente quer trabalhar esse disco tranquilamente, sem pressa, para que as coisas aconteçam naturalmente. Então agora que é o primeiro período de trabalho, que a gente começou agora a realmente pegar nas rádios rock, a coisa está se espalhando. Como a gente não tem uma coisa massificada, com gente botando dinheiro e empurrando, como essas outras coisas fazem, os outros ritmos aí, sem querer desmerecer, mas falando a verdade, o nosso processo é mais “cavalaria” mesmo, ele tarda mas não falha, então a gente tem muita lenha pra queimar com esse disco, muita estrada pra percorrer.

 

Como vocês vêem um festival como o João Rock e como avaliam que deve ser o futuro desse tipo de iniciativa?

Canisso: Cara, eu acho que essa galera aqui tá no caminho certo, tem que ficar esperto para ver as bandas que estão se sobressaindo, o fato de a gente estar aqui tocando hoje é um sinal, a gente é uma banda que está retomando seu posicionamento dentro da cena musical e o fato de a gente estar tocando aqui mostra que o festival está antenado, está de olho no que está rolando e eu acho que o caminho é sempre esse, tem banda aqui que ganha o concurso e toca, mas o caminho é esse: é sempre apostar no novo, mas ao mesmo tempo trazer uma turma que já é mais consagrada e tentar agradar o máximo todas as diferentes nuances da galera.

Foi lançado recentemente no In-Edit Brasil um documentário chamado “Geração Baré-Cola” que conta um pouco da história do rock de Brasília ali no finalzinho dos anos 80 e começo dos 90 e fala bastante da história de vocês. Eu queria saber como vocês se sentem sendo expoentes  e estando entre os personagens principais dessa história?

Digão: O “Geração Baré-cola” mostra exatamente a nossa história. É quando o Raimundos veio e tinha as bandas que eram da nossa época…

Canisso: Isso, nossos contemporâneos

Digão: É, não é Recife nem nada, é Brasília, então aquela história ali é muito legal porque a gente lembra tudo dali, a gente viu tudo aquilo acontecendo, e ficou muito bacana, o Patrick soube retratar bem, costurar ali as histórias.

Canisso: Filho da mãe! Metade daquilo ali era um vídeo que eu tinha do Cleon, tá ligado?

TMDQA!: É, ele falou num debate depois da apresentação do filme que ele pegou os bastidores dos bastidores, assim…

Canisso: Então, mas aquele vídeo que passa das bandas? Eu que tinha, ninguém mais tinha aquilo não… nem o Cleon tinha…

Digão: É, tem vídeo d’Os Cabeloduro, o povo do Little Quail

Canisso: Tinha um programa em Brasília que era o seguinte: os caras entrevistavam a banda e eles faziam um videozinho, sacou? E ele fez clipe de todo mundo, mas era um vídeo tosquíssimo assim, uma câmera VHS, e eu tinha o bruto disso lá em casa. Quando o Patrick veio me entrevistar eu falei pra ele que eu tinha e que se bobeasse eram os brutos. Aí a gente procurou lá e eu achei e passei pra ele. Então, quer dizer, a gente é meio que pai da criança também.

TMDQA!: Pra finalizar, como a gente é do Tenho Mais Discos Que Amigos…

Canisso: Ah, Guilherme Guedes. Menino de ouro!

Digão: Pois é, Guilherme é queridíssimo, ele é sócio aqui.

TMDQA!: Pois é, então, um querido mesmo! Mas aí eu tenho que perguntar pra vocês, né? Vocês têm mais discos que amigos? (risos)

Digão: Você tá no meu Face lá, eu sigo vocês, acho muito legal!

TMDQA!: Poxa, brigada!

Canisso: Pois é, eu já tive mais discos que amigos, mas eu passei um tempo lá no Rio e a maresia comeu meus discos todos.

Digão: Pois é, realmente, minha mãe jogou fora todos os meus discos de vinil e eu também perdi tudo em CD.

Canisso: Poxa meu, e hoje também aconteceu uma tragédia, meu iPod morreu cara! 250 Gb de música!  Morreu hoje, aqui no festival, perdi tudo! (risos)

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