Diário de Bordo: Camarones Orquestra Guitarrística - Turnê Europeia 2014

Confira como foram as experiências passadas e os contatos feitos pela banda potiguar em sua turnê pela Europa!

Diário de Bordo Camarones Orquestra Guitarrística - Turnê Europeia 2014
Diário de Bordo Camarones Orquestra Guitarrística – Turnê Europeia 2014

Depois de ter passado por alguns países da América do Sul, entre 16 de Maio e 1º de Junho a banda potiguar de rock instrumental Camarones Orquestra Guitarrística fez as malas, pegou as cases com seus instrumentos e embarcou para a Europa.

Em sua primeira turnê por lá, o grupo formado por Anderson Foca (guitarra e teclado), Ana Morena (baixo), Fausto Luiz (guitarra) e Yves Fernandes (bateria) realizou mais de 10 shows, passando pela França, pela Suíça e por Portugal. Obviamente, além da experiência de tocar para um público novo, o quarteto trouxe para o Brasil muitas histórias para contar.

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Confira a seguir o divertido diário de bordo escrito por Anderson Foca sobre essa temporada vivida por lá! No final, o músico e produtor ainda compartilhou todos os contatos feitos pela banda para que mais bandas brasileiras possam divulgar seus trabalhos pelos locais em que o Camarones passou.

 

CAMARONES EUROPA TOUR

Por Anderson Foca

DIA 01

Vamos começar por aqui os relatos da nossa tour aqui pelo velho continente. Saímos de Natal por volta das 21h da terça e já na partida uma emoção: a bolsa do merchadising não veio pro aeroporto. No corre de colocar as coisas no carro e embaixo de chuva em Natal a danada ficou. Mas como temos o hábito de chegar sempre muito tempo antes no aeroporto, deu para resgatar a bolsa e estamos aqui com tudo.

O vôo foi tranquilo e chegamos bem na linda Lisboa (dia 22 tem show lá). Fizemos alguns corres, como reservar maleiro no aeroporto, colocar 3g nos telefones e ficamos esperando nosso vôo para Zurique. Tudo certo no translado, tudo certo na chegada a Zurique. Era hora de conferir nossas bagagens embarcadas…

Não foi legal. O hardcase de Fausto veio aberto, mas a princípio está tudo bem com os equipos, ainda não tive coragem de abrir meu teclado… A bolsa de merchadising também se rasgou, então europeus, por favor, comprem camisetas que vai ser tenso andar com ela por muito tempo!

Lindo o aeroporto, um tremendo shopping. Demoramos uns 30 minutos para achar a locadora de carros, pegamos um Meriva (já reservado no Brasil), encontramos a amiga Suiça Myrjam e fomos para a segunda missão do dia: fazer nosso equipamento caber no carro. Depois de algum estudo, tudo certo. Pegamos a estrada, dirigi um pouco entre Zurique e Winterthur e já deu para ver a beleza incrível do lugar, nem em filme é tão espetacular.

Hoje tem a única data que não está 100% fechada de toda a tour, vamos para Zurique sem saber se vai ter ou não tocada hoje. Tá muito frio e minha roupa não dá conta (agora às 9h, 06 graus).

DIA 2

Olha, tá de parabéns o frio aqui na Suíça, viu? E é porque o verão já tá começando. Ontem foi dia de explorar o desconhecido e também do nosso primeiro show por aqui. Vamos por partes.

Saímos de Winterthur pela primeira vez sozinhos para pegar o trânsito, achar tudo e fazer tudo sem babá/amigos por perto. Foi de boa, demos uma checada em tudo antes e pegamos os devidos bizús. Tem uma coisa que você tem que saber sobre Zurique se quiser vir aqui um dia. É tudo muito, muito, muito mais caro que em qualquer lugar do mundo. Então prepare-se porque os números são abissais.

Não tem onde parar no meio da cidade e em muitas partes do centro ou da Old Town não entra carro. Você tem que morrer num estacionamento para viver a vida de carro. Deixamos o carro às 13h e pegamos às 19h e pagamos, atenção, 72 reais. Na hora de comer, escolhemos um sujão estilo Suíça, Kebab e coca. O que comi custou 35 mangos. Um bigmac promoção não sai por menos de 50 mangos e um McCafé é 12 pilas, o expresso pequeno…

Uou! Tudo bem, o merchadising também é vendido em franco e a ajuda de custo também, vamos ver o que acontece, ehehehe! Andamos por toda a Old Town e também na tal rua mais cara do mundo, dando risada e nos divertindo. Tinha uma loja que vendia DIAMANTES. Quase que eu entro para perguntar o preço.

Mais pro fim da tarde, depois de passeio, frio, granizo e chuva, encontramos com a brodagem Suíça e fomos até o local do show deixar as coisas e encontrar com Neto, um brasileiro que mora na suíça há 10 anos e que conheci rapidamente em Natal durante uma tour de um grupo suíço por lá. Ele foi o mesmo que produziu há alguns anos atrás a tour do AK-47 (banda do RN) aqui na Suíça e faz um Festival chamado Open Circle. Antes do show ainda rolou uma comida asiática oferecida por um cara de Bali numa casa próxima (a casa que a gente tocou era de um maluco do Sri-Lanka, nem sei se é assim que se escreve). Vai vendo…

O show de ontem, era uma espécie de ensaio aberto para a gente dar uma aclimatada e soltar um pouco o coro das viagens e do clima da região. O local era bem pequeno chamado Golden Club, que deveria caber umas 80 pessoas (tinha umas 40). O backline era brutal, duas enormes JCM800, um Ampeg de baixo monstro. Tocamos no volume UM para não destruir o espaço (que depois fiquei sabendo que recebia shows pela primeira vez).

A região onde está os clubs de jazz, rock e afins da Suíça também é a área “barrabrava” da cidade. Para quem conhece, é no esquema Rua Augusta, em São Paulo: muito puteiros, misturados a clubs, casas, secret spots e afins. Ontem quando passamos pela rua vimos várias casas com jazz, rock e outras paradas rolando, todas bem pequenas para no máximo 150 pessoas.

Hoje o show é no Hey City, num esquema mais “stage” com uma casa maior e outra banda junto com a gente. Na foto, os Camarones na Old Town, conhecido vulgarmente como Centro Histórico de Zurique (do show só tem vídeos).

DIA 03

Ficamos ontem quase o dia todo em Winterthur esperando a hora de tocar. O lance era bem cedo e às 18h já tínhamos que estar no lugar do show. Aproveitamos para ir no “mercadinho” suíço e fazer um almoço em casa para diminuir o preju de comer na rua. Um kilo de macarrão, milhões de bacons, claro que ficou bom.

O Hey Club, lugar do show era outro pegada do dia anterior, numa área mais comercial, com palco irado, luz foda, ótimo som. Esquemão. Uma 50 cabeças apareceram no club (que também não era muito grande). Abriu os trabalhos uma banda de metal, esquema Metallica, chamada Broken Fate, rapaziada muito boa daqui da Suíça. Gostei.

O Camarones veio em seguida e se no dia anterior estávamos um pouco travados devido ao combo viagem/frio/local, ontem o bicho já pegou pesado. Tocamos na fúria e foi muito massa. Adoramos.

Valeu novamente ao Neto por mais essa gig e aos Broken Fate que levaram parte do backline. Já estamos na França para dois shows loucura na praia (um às 22h e outro em algum momento da madrugada), mas isso é assunto para amanhã.

Na foto: Camarones em Zurich, no Hey Club.

DIA 04

Seis da manhã. Foi a hora que levantamos para a primeira saga solitária em busca do desconhecido. Pegar um carro e dirigir 800km Europa a dentro com hora para chegar cumprindo agenda não é para fracos. Fiquei na missão de ser o motorista do dia. Caminho? Zurich/Montpellier na França.

Nem se a gente tirasse mil fotos daria para descrever a paisagem que essa rota oferece. São campos lindos, Alpes Suíços, centenas de cidades e vilarejos absolutamente perfeitos. Talvez a viagem mais bonita que eu já tenha feito na vida. Ainda por cima fomos presenteados com um lindo dia de sol sem nenhuma nuvem no céu!

Fausto e Yves não viram nada, a farra do dia anterior não deixou… Jovens são assim.

Seguimos a viagem sem erros pelo caminho. O GPS é muito perfeito na Europa (pelo menos o que pegamos) e foi absolutamente tranquilo chegar bem adiantado no nosso compromisso, mesmo com a distância bem grande. O único perrengue foi na hora de abastecer, mas quem disse que sabíamos que combustível colocar? Dessa vez nem o Google ajudou e fomos salvos pela atendente francesa que conseguiu ler o manual e descobrir que temos que colocar a gasolina “xxxsupere98f”, ehehehe.

Chegamos a Montpellier e seguimos direto pro Subsonic, uma espécie de combo cultural com um espaço para shows/festas, estúdio, salas de ensaio e loja de materiais independentes. Aqui vai ser nossa casa nos próximos dois dias. Nos hospedamos na parte de cima e atenção, estava fazendo calor!!!

Aprontamos tudo, nos encontramos com Marc e Sylvie, do Subsonic, carregamos a van com o backline do show e seguimos a Sète para mais uma gig. Ficamos sabendo que tocaríamos duas vezes, uma maravilha.

Olha, quando chegamos em Sète ficamos absolutamente abismados com a beleza do lugar. É uma região praiana e uma espécie de ilha com um lado dando pro mar e no outro dando para uma enorme lagoa. Esquema meio Veneza com rios passando em volta da cidade inteira e toda a economia girando em torno do mar.

Nosso show foi na beira do Mar Mediterrâneo numa barraca na praia chamada Praia7. Eles recebem bandas quase todos os dias num palco a céu aberto. Lugar lindo, comida maravilhosa, seguindo a tradição da ótima culinária francesa e deixamos tudo certo pro show. Nove da noite com o dia ainda entardecendo começou a ventar muito e o frio voltou a perturbar, só que dessa vez o ambiente era hostil. Frio, vento forte e na beira da praia, combinação nada boa. Uns 100 malucos apareceram para ver o rock, tomar vinho e jantar, tocamos esquema varado. Era agitar muito no show ou morrer de frio e aí não tínhamos escolha. Demos tudo com muita energia e o merchadising ficou animadão no pós-show. Vender em euro é lindo.

A meia noite iríamos tocar de novo para uma segunda leva de público (a primeira leva foi às 22h) mas até o dono do espaço achou que o vento estava forte demais e acabamos fazendo apenas um show (e nem reclamamos porque tava sinistro). Que dia lindo! Visual perfect, show doidão num lugar diferente para gente diferente, não podia ser melhor.

Hoje tem nosso segundo compromisso aqui na França. Churrasco, show e gravação de tudo ao vivo pelo pessoal da Subsonic, festa no centrão doido de Montpellier, vai vendo!

Foto: Camarones na beira da Praia em Sète, França.

DIA 5

Amanheceu daquele jeito em Montpellier, França. Sol, calor e dia bonitão para passear. E gente, QUE CIDADE É AQUELA? Prédios antigos, praças, grandes muralhas, boa comida por toda a parte e as pessoas na rua. Recomendo muito uma visita nessa região, as vezes até melhor que os centros mais concorridos como Paris e outros.

Depois de umas cinco horas andando pela cidade, voltamos para nos aprontar pro show. A parada toda séria cedo e também íamos filmar e gravar o take inteiro. Para vocês entenderem melhor o processo, o Subsonic é especializado em tirar o som mais true e parecido com os anos 60 possível, então tudo é feito analogicamente. Compressores, echos, delays, equalizadores, uma parede de equipamentos analógicos com um tremendo rolo de oito canais. Para quem curte coisas vintage é o paraíso na terra. Contei mais de 50, eu disse 50 amplificadores valvulados antigos de todas as marcas e tamanhos. Absurdo.

Montamos tudo e começou um churrasco francês, esquema linguiça, pão e muito chopp. A turma foi chegando, moods, rockers, garages e roqueiros no geral. Acho que umas 50/70 pessoas no rolê. Começamos o take, geral entrou e tocamos sem parar por 40 minutos. FOI MUITO MASSA!

O show foi cedo, a festa continuou por toda a noite mas fui dormir cedo porque no outro dia tinha mais 800km de estrada para dirigir. Já estamos de volta em Winterthur, Suíça, esses próximos dois dias serão off e voltamos a falar de tudo já em Lisboa. Até lá!

Na foto: Camarones no Subsonic.

DIAS 06, 07 08 E 09

Três dias off para gente mudar de região. Sim, transferimos o bonde da Suíça para Portugal e nossa sede nos últimos três dias foi Lisboa. Foi relativamente tranquilo fazer tudo, embarcar, pegar as coisas, alugar um carro e chegar no Baluarte Hostel, local pertinho da Avenida da Liberdade (principal rua de Lisboa) que é onde estamos agora.

Pegamos um quarto para nós quatro sem dividir com mais ninguém. Isso facilitou a vida junto com a total simpatia do dono do lugar, o português José. Lisboa é o seguinte, uma das cidades mais lindas que já fui, fácil. Sítio histórico eterno, vários museus, teatros, restaurantes, todos com preços bem aceitáveis. A sensação que se tem quando se troca Zurich por Lisboa é que em Portugal é tudo de graça. Isso foi lindo.

Passeamos até a canela afinar por três dias inteiros (e não conhecemos nem a metade do que deveríamos). Recomendo uma visita com calma nessa cidade linda e a tal grosseria portuguesa no atendimento alertada por alguns amigos antes de chegarmos aqui ainda não aconteceu, muito pelo contrário.

Ontem, foi dia de show. A partir de agora os dias offs são praticamente nenhum até o final da tour (oito shows em dez dias). Fomos até Almada, que é bem perto do centro de Lisboa só que do outro lado do rio, chegamos umas 18h e fomos montar as coisas no Cine Incrível. Diga-se de passagem, o nome faz jus ao lugar. Um cinema enorme em forma de pub com capacidade para receber umas 500 pessoas.

Backline lindo, palco enorme (muito parecido com o Cine Joia, em São Paulo, para quem conhece). Lugar lindo e talvez um dos melhores que já tocamos indoor. O casal Alfredo e Clara, que tomam conta do local, foram os receptivos. Fomos andar em Almada e ficamos de cara com a beleza do lugar, comemos Caracol (estranho) e ficamos esperando dar a hora do show.

Vento frio numa quinta, banda desconhecida do Brasil em Portugal e talvez tenha sido o show com menos público da história do Camarones. Engraçado é que tocamos com muita garra, aproveitando a ótima estrutura oferecida e no final ficamos todos em volta do merchandising bebendo e conversando. Vendeu como se tivessem 100 pessoas. Um dos caras que apareceu era tipo fã da banda real. Viu tudo nosso na internet, comprou tudo e por aí vai. Só recapitulando: Almada, esquema muito frio, meia-noite em Portugal. Ficamos muito felizes.

Hoje é Loulé junto com uma banda que é especializada em Jimmy Hendrix, vamos ver o que acontece e dizemos tudo para vocês amanhã

DIA 10

Nos despedimos temporariamente de Lisboa para seguir o fluxo da tour. Nossa próxima data foi em Loulé, também no litoral, só que distante 250km de Lisboa. Pela estrada, a região litorânea é bem parecida com o Brasil, estradas excelentes e pedagiadas, mas tem opção de não pegar pedágio e viajar e dirigir mais.

Chegamos em Loulé umas duas horas antes do combinado e fomos explorar a cidade que é bem pequena é lindíssima (como quase todas as cidades europeias que passamos). Comemos num lugar excelente com preços honestíssimos e deu para tomar vinho e tudo sem precisar deixar a cueca como pagamento. Excelente!

Ontem o lance já foi bem diferente do dia anterior quando tocamos sozinhos. O Bafo de Baco é um dos principais points roqueiros da região e já recebeu bandas fodas como English Dogs, Heavy Trash, Nashiville Pussy, Comeback Kid, Havok, entre outras lendas do rock underground mundial. Não é muito rota de bandas brasileiras mas deveria ser. Lugar incrível.

Integrantes do Devil In Me, banda de metalcore treta da região, formaram uma jam session tocando clássicos do Jimmy Hendrix para dividir palco com a gente e ainda deram a moral de emprestar o backline (obrigado queridos). A casa foi enchendo, climão na discotecagem, chopp free a noite toda e foi uma típica balada roqueira com umas 150/200 cabeças na casa. Foi foda, nosso melhor show até agora.

Fomos hospedados numa granja no interior de Loulé e chegamos em casa com um frio desgraçado. Já cumprimos rota de 600km até Braga e daqui a pouco tem show de novo. Vamos para cima!

DIA 11

O lance agora é estrada. Sim, depois de trechos curtos pros padrões brasileiros (país continental que nem o nosso andar 200km é um nada, os portugueses acham longe) era hora de começar uma série de viagens um pouco mais longas.

Pegamos a estrada e cruzamos Portugal de Loulé até Braga. Na missão envolvia fazer um show na Toca por lá. Estrada bonita que passa pela região periférica do Porto e já ficamos com vontade de entrar lá e conhecer tudo.

Nos hospedamos num hostel do governo (existe alguns em Portugal e são ótima dica para quem quer passar um dia em várias cidades por 10 euros a cabeça) e fomos dar uma volta em Braga. Além da beleza da cidade estava rolando uma espécie de feira romana, com comidas e danças típicas da Itália. Eu voltei correndo pro hotel para ver a final da Copa dos Campeões, a copa do mundo que importa pros europeus. A cidade parou pro jogo e vocês viram o que aconteceu né? Jogo épico. Vi ao lado de uns espanhóis do teatro de rua filando um copinho do vinho deles.

Hora do show e mais uma vez um excelente público apareceu no rolê (cerca de 200 cabeças). A Toca é um incrível espaço cultural dentro do shopping Braga gerido por várias associações culturais. Enorme, com espaço para cinema, shows, exposições e afins, tudo muito limpo e bem cuidado. Vimos dois shows excelentes: Equacions e Killimanjaro. O primeiro é um lance mais cabeça, progressivo e muito bem tocado, o segundo rock de roqueiro.

Tocamos no hall com o público em volta e foi absolutamente excelente. Já nos convidaram para voltar lá num festival na cidade. Valeu Ricardo e todo mundo da Toca. Tirei várias fotos e absorvi muitos conhecimentos do ativismo cultural com vocês. Dormimos pouco e vazamos para Espanha. Mil kilômetros pela frente!

Na foto: Camarones no Hall da Toca.

DIA 12

Depois de torar 600 km entre Braga e Loulé estávamos prestes a enfrentar o maior desafio dessa tour. Uma perna GIGANTE de viagem entre Braga e Málaga. Os portugueses disseram no dia seguinte que não dava tempo de chegar e a gente rindo. 1.000km pela frente. Fazer isso descansado, sem shows, já seria difícil, mas tocando todos os dias desde quinta e acordando para próxima viagem tornava o desafio enorme.

Dormi bem, me preparei e peguei na direção. Tudo estava muito bem até a gente sair da região de Lisboa e quando entramos na região da fronteira entre Portugal e Espanha, advinha? Uma horda de torcedores do Real Madrid e do Athletic Madrid voltando para casa. Fudeu!

Desci do carro, filmamos, brincamos com os espanhóis e uma hora depois conseguimos furar o engarrafamento e seguir em frente. Foi lindo chegar com a luz do fim de tarde (8 da noite) na região de Málaga, rodeado de montanhas que desembocam na praia. PAGOU A VIAGEM.

Chegamos no local do show chamado de Le Invisible, um Centro Cultural com cara de ocupação bem no centro de Málaga gerido por ativistas culturais e veganistas. Muito massa. O espaço pra shows deveria caber umas 200 pessoas e hoje era esquema auto-gestão. Encontramos com os russos do Grand Astoria, nossos companheiros de tour nos próximos 3 dias, e aprontamos tudo. Yves ficou na bilheteria, eu e Ana corremos pro merchadising geral e o Grand Astoria abriu a noite. Só que… a polícia chegou, conversaram um pouco e ficou definido que teríamos muito pouco tempo para se apresentar. Esse evento fez parte de um grande festival de cultura livre que reuniu bandas do mundo inteiro durante o mês. Colombianos, ingleses e franceses também passaram pelo rolê.

A casa lotou, 150 pessoas, no mínimo. E o pau comeu. Que show lindo do Grand Astoria, lembrando que eles estão no Festival Dosol deste ano. O Camarones montou rápido, tocou rápido e foi ovacionado, que lindo Málaga. O pedido de “só mais uma” não deu para atender. O merchadising bombou e depois fomos comemorar com os russos, que são gente da melhor qualidade, diretamente saídos do Game Of Thrones, ehehehe. Eles estão vendo a novela que tem tonho da lua lá, bizarro.

Hoje é off e exploraremos Málaga, amanhã tem viagem curtinha para Granada, que dizem ser uma das cidades mais bonitas da Espanha. A conferir!

Na foto: Grand Astoria tocando um pouco antes do Camarones em Málaga.

13, 14 E 15

Estamos chegando na reta final da tour e o tempo tem sido bem raro para fazer os relatos. Show todo dia, viagens longas e aquele ritmo de tour que quem é do meio já sabe como funciona. Depois do show de Málaga ficamos um dia off por lá. Que cidade charmosa viu? Gente bonita, praia, ruas lindas e uma autêntica paella no almoço para selar a vinda com chave de ouro. Espanha, terra dos meus antepassados, adorei.

No dia seguinte teve rock. O destino era Granada, mais um dia junto com o Grand Astoria. Olha, os russos são correria viu? Eu nunca vi uma banda com tanta garra e acreditando tanto no próprio trabalho como eles. Como sair da Russia é caro e treta (precisa visto para tudo), eles praticamente ficam a primavera e o verão todo na rua. Alugaram uma van na Holanda, tiveram o carro arrombado em Berlin, o carro quebrou em Barcelona e eles não perderam uma única data se quer. Ao todo vão fazer 70 shows. SETENTA. Respect!

Granada é um dos principais destinos turístico da Espanha e Europa. Milhares de turistas estavam nas ruas, a cidade é praticamente só hotéis e tem centenas de coisas para ver. Só tínhamos uma tarde e escolhemos ir Alhambra, enorme fortaleza/castelo, um dos principais cartões postais da Espanha. Foda. Pessoalmente não curto muito o clima “cidade turística”, mas o lugar é belíssimo. Eu nem estou citando a incrível estação de esqui, que tem a 20km de lá, no inverno bomba!!!

Tocamos em La Zubia, periferia da cidade, num lugar pequeno e com ótima estrutura chamados Cruses del Camino. Terça a noite, não ia ser bom de público né? Mas foi, e muito! A casa lotou (100 cabeças), os shows foram excelentes e fomos dormir felizes, Que noiteeeeee!!!

No outro dia choque de realidade. 900km de volta para Portugal. Destino? Coimbra. Já no azeite natural da estrada a viagem passou rápida mas tivemos seríssimos problemas para achar o lugar do show, mesmo com gps. Rodamos quase uma hora dentro de Coimbra (depois de ficar umas 09 horas na estrada) e isso deu uma baqueada em geral.

Chegamos direto para passagem de som do incrível Salão Brazil, um espaço no centro histórico gerido por uma associação que trabalha com Jazz. Lugar foda, som foda, todo de madeira, dormitórios em cima, equipe incrível. Não tinha como dar errado. Infelizmente nosso rendimento como banda não foi legal, tocamos mal, um pouco sem energia e errando coisas bobas. Tomara que os portugueses não tenham notado, eheheheh. É a vantagem de ser uma banda instrumental. Deveria ter umas 40 pessoas, excelente público para quarta a noite e ainda rolou um “só mais uma”, o bis de Portugal. Foi irado!

Hoje voltaremos para Lisboa. Separamos esse dia para realizar um sonho: assistir os Rolling Stones ao vivo e aprender um pouco com os velinhos, vai ser épico, vai vendo!

Na foto, Camarones em frente ao Salão Brazil em Coimbra.

DIAS 16 E 17

Reta final de tour. Tínhamos mais três shows pela frente, MAS ANTES…separamos um dia da gig para realizar um dos meus sonhos de criança, assistir os Rolling Stones ao vivo. Saímos de Coimbra para Lisboa bem cedo e fomos recebidos pela figuraça brasileira, amiga cultural dos Camarones, Paula Vanina. Gente da melhor qualidade. Ela tá por aqui estudando cinema e animação e volta ao Brasil em Julho. Fica a dica, que ela manda muito bem!

Às 16h rumamos pro Rock In Rio Lisboa de metrô com uma horda junto. Esse tinha sido o único dia souldout do Rock In Rio, quase 90.000 pessoas. O RNR Lisboa com relação a outros festivais que já fui pode ser considerado pequeno em tamanho, mas muito organizado. Ficamos no palco mundo, onde vimos Gary Clark Jr (muito bom), Xutos e Pontapés (+ ou -) e Rui Veloso e convidados, entre eles o Lenine (muito bom).

Deu a hora dos Rolling Stones, estávamos bem posicionados, o público daqui é MUITO QUIETO e vimos o show na melhor qualidade. Foi épico e ainda teve MASTER CANJA DO BRUCE SPRINGSTEEEN. Fala sério, morri de sunga branca. Na saída do RNR, advinha? Não tinha mais metrô e foi uma novela voltar para casa.

Amanheceu e era dia de show. Destino era Portalegre, 200km de distância de Lisboa, pelo que já andamos nessa tour, 200km dá para ir até andando né? Chegamos e fomos direto passar o som no excelente Centro Cultural da cidade, uma espécie de centro cultural do BNB de Portugal. Som impecável, backline lindo e completo, técnicos a disposição, hotel excelente, comida FODA e dinheiro fixo. Rá! Sempre pergunto se passa bandas brasileiras nessa rota e por lá passou apenas o Seu Jorge. Agora Seu Jorge e Camarones!

Antes de começar o show teve um encontro de Tunas dentro do teatro (nosso show foi na chopperia). Tuna é uma espécie de grupo musical escolar que toca músicas tradicionais portuguesas. Foi muito divertido. Hora do nosso show, a sala ficou tomada novamente, umas 100 e poucas cabeças e tocamos o set completo que somos capazes. Uma hora de duração. Foi lindo e no final teve bis bonitão. Não tinha como ser melhor. Agora é seguir pro penúltimo show da tour hoje em Montijo, grande Lisboa. Bora!

DIA 18

É oficial. Já começamos a ficar com saudade. Sim, ontem foi penúltimo show dos Camarones nessa tour européia e nossa aventura sonora pelo velho mundo está acabando. Ontem foi um dos dias mais tranquilos da tour, como já citei antes o tempo vai azeitando e adaptando todo mundo as situações de tour e a coisa rola fácil. Estávamos brincando no carro ontem que os dois grandes problemas da tour foram a liga de cabelo que ana perdeu e fausto que vive “abrindo o vidro do carro com ar condicionado ligado”, eheheheeh. Ou seja, não tivemos perrengue algum, tudo 100% lindo e muito além do que imaginávamos quando saímos do Brasil para essa aventura.

Montijo, nossa destino de ontem, é uma cidade dormitório, parte considerável da população trabalha ou estuda em Lisboa. Chegamos cedo no Dona Lourdes, espaço do brodagem Rui, um português que tem longo histórico de promover rock na cidade. De cara ele nos deu um aviso preocupante: o nosso booking havia esquecido de dizer que a casa não tinha backline e o show ficou bem ameaçado de não rolar. Corri para ver que dava para fazer e vi que com algumas adaptações dava para geral tocar em linha e não perder o show.

Nos concentramos e começamos a passar o som, até conseguir um resultado bem legal. Ufa, perder um show é muito preju, perde o cachê, o lugar de dormir, o jantar e isso representa um bom dinheiro. Tudo resolvido, bem hospedados (de novo) e com um ótimo jantar (de novo) rumamos pro lugar do show para ficar de vez. A casa estava recebendo um ótimo público com umas 150 pessoas nos vários ambientes. Quando começamos o ambiente do show (pequeno) ficou lotado e mesmo sem amps rolou tudo muito bonito.

O Dona Lourdes abriu as portas pros brasileiros em rota por aqui. Camarones e Autoramas (sempre eles) já deram o joinha no espaço. Lindeza.

Hoje tem o último show da tour europeia em Cascais, mais um dia com os brodagens russos do Grand Astoria. Depois disso, um pedaço do bonde volta pro Brasil e eu e Ana vamos para Alemanha para uma semana de “descanso” e assistir o Rock Im Park Festival.

Na foto: Camarones e a turma do Dona Lourdes e do restaurante que nos serviu hoje, em homenagem a FUDEROSA comida portuguesa!

DIA 19 (DIA FINAL)

PS: No final do texto tem todos os contatos que fizemos na tour.

E chegamos ao fim. Ontem foi o último dia da nossa tour européia com a certeza de que fizemos uma das melhores gigs da história dos Camarones. Além dos trechos voando, foram mais de 5.000km de carro pela Suiça, França, Portugal e Espanha, 13 shows, vários novos amigos e companheiros culturais do rock, bandas excelentes que assistimos e por aí vai.

Também não é a toa que a Europa é um dos melhores destinos turísticos do mundo. Cidades lindas, bem cuidadas, seguras e com bastante atrativo para os mais diversos tipos de atividades. Um show a parte de história e diversão.

Demos muita sorte. Mesmo as escuras e falando com pessoas que nunca vimos antes tudo saiu muito melhor que a encomenda. Fomos muito bem tratados em todas as datas, muito bem alojados e acessamos ótimos lugares de show. Impressiona a parte estrutural da música independente européia. Por aqui as casas também passam por uma crise de público, uma mudança de comportamento de quem vem assistir música ao vivo. O maior desafio dos empreendedores da cultura musical é reverter esse quadro, no Brasil, na Europa e em qualquer lugar. A crise deles é bem mas amena que a nossa, tocamos para boas plateias, em 90% em torno de 100 pessoas na audiência, mesmo em dias não muito comuns para shows como domingo ou terça.

Uma coisa ficou clara: empreendedores do rock independente se identificam em qualquer lugar do mundo. Tratamos sempre com pessoas iguais a gente, amantes da música e guerrilheiros do “music life style”. Foi lindo e fizemos dezenas de contatos que serão TODOS REPICADOS AO FINAL DESSE TEXTO. Sim, compartilhar as coordenadas de onde passamos é um exercício de cooperação e quanto mais bandas brasileiras fizerem isso melhor para todos nós.
Ontem o show foi num lugar excelente em Cascais, o Stairway Club . E que lugar lindo!! É tipo o rock rico de Lisboa. Região com mansões, autódromo, arenas de tênis, cassino e afins. Cascais/Estoril são realmente belos. O lugar do show era um inferninho para uns 250 lugares que recebeu umas 50 pessoas. Impressionante é que domingo às 23h a casa ainda estava fechada e de repente chegou geral! O Old Fucking God abriu os trabalhos a la motorhead e fomos os segundos.

Deu muitoooooooo problema nos equipos, a correia de Fausto arrebentou mas assim fomos indo até o final na maior energia e foi excelente. Os equipamentos parece que sabiam que era a última data. No final do show fomos convidados pra um festival de rock da região em março de 2015. Foi lindo. O Grand Astoria fechou tudo no melhor show deles que vimos nessa tour. Resumo da ópera: tour nota 10 e nem nos nossos melhores sonhos poderíamos imaginar tanto. Trabalhar é importante e primordial, mas um pouco de sorte também não faz mal a ninguém. Valeu Europa, nos vemos em breve.

Na foto o Cais de Cascais. Que país lindo que é Portugal!!

REPLICANDO AS COORDENADAS: VEJA E ANOTE TODOS OS LOCAIS QUE TOCAMOS E SUAS FAN PAGES!

Suíça
Bridge2Music 
Hey City Club

França
Praia Sète
Subsonic

Espanha
Le Invisible
Cruses Del Camino
Micro Surco

Portugal
Pedro Seixas
CAE
Salão Brazil
TOCA
Dona Lourdes
Stairway Club
Cine Incrível
Bafo de Baco

http://www.youtube.com/watch?v=mjpe_H-G1HQ

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