O Linkin Park surgiu para o grande público quando o gênero definhava, guiado pela patetice egomaníaca de Fred Durst, do Limp Bizkit, e pelo descompasso dramático do Korn depois de Issues (1999). Os dois primeiros álbuns do grupo, Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003), surpreenderam com um sucesso de público absolutamente inquestionável, e deram ao sexteto a confiança necessária para nos anos seguintes tentar expandir os horizontes musicais além da mistura de rock com hip-hop e eletrônica, que dava sinais claro de esgotamento criativo àquela altura.
Em Minutes to Midnight (2007), A Thousand Suns (2010) e Living Things (2012), vimos o Linkin Park passar pelas dores de crescimento de um grupo em busca da maturidade, mas sem um senso claro de direção. Produzidos por Rick Rubin, famoso por deixar os artistas “livres” para experimentar sem interferência externa, os três irmãos mais novos de Meteora foram do dub ao soft rock, com pequenos lampejos da sonoridade dos dois primeiros trabalhos – talvez para cumprir a “cota” necessária para não afastar os fãs e preservar a credibilidade comercial do grupo. Mas depois de tanto procurar, o Linkin Park parece finalmente ter encontrado o próprio rumo: voltar atrás.
Sem um norte claro, a banda prometeu reconstruir o próprio caminho em The Hunting Party, sexto álbum da carreira, a ser lançado oficialmente no fim deste mês e disponível em streaming via iTunes. Assumidamente um “retorno às raízes”, o disco foi produzido pelo guitarrista Brad Delson e pelo vocalista Mike Shinoda – o “rapper” – e é um reboot do Linkin Park pré-Hybrid Theory, uma espécie de recomeço contextualizado para 2014 e reimaginado com todas as referências que a banda pescou na inventividade dos discos anteriores.
The Hunting Party é o melhor álbum do Linkin Park desde Meteora. Sem vergonha de ser popular e despreocupado em agradar a crítica ou em conquistar algum tipo de credibilidade artística, o álbum traz de volta os lampejos de agressividade do sexteto e preza por canções fáceis, que não exigem muito de fãs casuais ou obcecados. A dinâmica entre as vozes de Mike Shinoda e Chester Bennington funciona bem, os devaneios eletrônicos de Joe Hahn não incomodam e o restante da banda cumpre os papeis designados sem virtuosismo. O problema de The Hunting Party, no entanto, é justamente a previsibilidade de canções que soariam pujantes em 2004, mas em 2014 passam por velhas, datadas, ultrapassadas.
Boa parte do trabalho reúne músicas que lembram muito o Linkin Park do começo da década passada, como os singles “Until It’s Gone” (do clipe acima) e “Wastelands”, que empolgam mas não evocam nostalgia, apenas déjà vu. Em outros momentos, a influência dos passeios sonoros dos três álbuns anteriores surge mais forte, como nos interlúdios “Drawbar” – com participação subaproveitada de Tom Morello, do Rage Against The Machine – e “The Summoning”, além de “Guilty All The Same”, carro-chefe do disco, que poderia entrar facilmente no tracklist de Living Things.
Para completar o processo de auto-reciclagem, a banda convidou Daron Malakian, do System of a Down, para tocar guitarra em “Rebellion”, uma faixa que soa como… System of a Down. A música reúne tantos elementos clássicos do SOAD – os vocais dobrados, os riffs retos, as melodias grandiosas, a batida tribal no refrão – que é difícil dizer se a música é um tributo intencional ou apenas falta de inspiração. No fim, deixa apenas a sensação de que seria uma excelente música do System of a Down caso tivesse os vocais poderosos de Serj Tankian.
A única faísca de originalidade é a influência do punk e do hardcore que aparece pontualmente, como na veloz “War” e na ótima “A Line in the Sand”, a última (e melhor) música de The Hunting Party. Ambas mostram caminhos até agora pouco explorados pelo Linkin Park nos cinco álbuns anteriores, e não fosse isso, The Hunting Party soaria apenas como um compilado de “autoplágios” de uma banda que, após apresentar disposição para se recriar tantas vezes, decidiu dar um passo para trás e lançar o disco certo no momento errado.
Nota: 6/10