Por Daniel Corrêa e Tony Aiex
A voz que pergunta se eu estou bem do outro lado da linha é suave e tranquila. Realmente não lembra em nada a postura e o discurso do Ghost (ou Ghost B.C.), uma das bandas mais faladas do meio do rock nos últimos anos e que volta ao Brasil em setembro após se apresentar ano passado no Rock in Rio.
A banda sueca formada em 2008 traz a teatralidade como elemento forte, unindo o profano à música em álbuns com conceitos bem definidos apropriando da cultura escandinava do death e black metal mas dando uma abordagem mais hard rock ao material.
Com suas identidades (quase) anônimas, a banda sobe ao palco sob forte maquiagem e disfarces, liderada por um papa satânico, Papa Emeritus II e seus “sacerdotes”, escondidos em trajes negros e capuzes, denominados Nameless Ghouls (“vampiros sem nome”, numa tradução simples).
Foi com uma dessas figuras que conversei por telefone. Não sei o que ele toca ou o que ele é, mas pela calma e maturidade, somada ao bom humor, deixa claro que o Ghost é muito mais que o teatro.
TMDQA: Muito tem se falado a respeito de um novo trabalho da banda, e como ele seria, já que do primeiro disco para o segundo houve uma série de adições de elementos ao som do Ghost e o mesmo aconteceu no último EP de covers. Vocês já começaram a trabalhar em um novo disco? O que os fãs podem esperar?
Nameless Ghoul: Sim, estamos trabalhando! Mas é complicado falar sobre o que esperar. Estamos ainda na pré-produção. Temos mais ou menos 50, 60% do álbum escrito. Notamos que deve seguir um pouco o que fizemos no último EP, com o vocal um pouco mais leve. As melodias estão bem mais pesadas, mais focadas em riffs, sabe? Estão mais densas, mais escuras.
Sabemos que esse caminho é visto por muita gente como um retrocesso, mas pra gente é um avanço natural. Tudo para seguir em frente, adiante. Tudo ainda está bem novo, mas estamos empolgados.
TMDQA: Essa mudança no som é pensada quando vocês entram em estúdio?
Nameless Ghoul: Nós costumamos escrever muito das canções enquanto estamos gravando. O modo como a gente cria música mudou muito nos últimos anos. Antes, quando começamos a tocar… Antes do Ghost… Você tinha que escrever, pensar bem ela, reunir a banda, tocar e ir trabalhando bem antes de gravar. Hoje a gente grava ainda criando. Seja no gravador, pra levar a ideia pra alguém, seja mexendo nas músicas no meio das sessões.
Quanto a uma mudança no som, bem, nós não queremos nos repetir. Se temos uma música como “Body and Blood”, não queremos fazer outra. Ficamos sempre na busca para que cada música tenha sua identidade. Com os elementos que usamos, com nossa cara, mas único e novo. Se uma banda, se um artista é famoso por algo, tem uma assinatura forte, ele tem que manter aquilo. Se recriar e se reinventar, mas manter-se fiel ao que você se propôs a fazer. Pode ser chato para você, mas não é para quem te admira. Você tem que evoluir sem se perder.
TMDQA: Recentemente um dos “Nameless Ghouls” confirmou que Dave Grohl foi membro da banda em algumas ocasiões. Como foi tocar com ele sem ninguém saber?
Nameless Ghoul: Foi realmente tranquilo. O Dave é um cara tranquilo. Acho que o maior problema foi ter que ajustar o traje ao tamanho dele. Mas é claro que eu pensei “caralho, é o cara do Nirvana!”. (Risos) Não tem como não pensar. Mas depois de um tempo você para de pensar nisso.
Nesses anos tenho tido o prazer de conhecer várias pessoas que admiro. Aprendi uma coisa: você admira várias pessoas, mas você tem que saber trabalhar com elas.
Pessoas ainda são pessoas. Por mais que eu admire muito ele, quando estamos no palco, estamos trabalhando e somos só dois músicos tentando fazer o melhor para que aquilo soe bem.
É como sexo. Imagine que você está transando com… a Monica Bellucci. Deve ser inacreditável, mas é algo que pessoas fazem. (Risos) Por mais que na hora seja mindblowing, na hora são só duas pessoas.
TMDQA: Como vocês lidam com ego entre o grupo?
Nameless Ghoul: Olha, acho que somos uma das poucas bandas que tem poucos problemas com isso. O fato que estamos assim, quase anônimos, ajuda muito nisso… Mas não significa que não existe, que a experiência não é intensa como poderia ser com qualquer banda ou artista que consegue algum sucesso. Nós somos pessoas, indivíduos.
Uma sorte, ou algo assim, foi que conseguimos isso mais velhos. Tentamos viver de música há anos e tivemos muitos fracassos, erros acumulados. Quando você é um moleque de uns 18, 19 anos e estoura, pode ser pesado. É algo que realmente pode foder com sua mente. Aprendemos com os anos em não deixar isso nos levar. Tudo isso, de fama e reconhecimento, um dia vai acabar.
E respeitamos muito esse fato. Não é eterno. Isso te deixa mais humilde e te ajuda a aproveitar mais. Fomos bem longe sem o ego… Isso não impede que no futuro possamos virar grandes babacas filhos da puta, a banda acabar por isso e tudo que eu falei aqui seja mentira. (Risos)
TMDQA: Em apenas um ano vocês já estão voltando para o Brasil, dessa vez para shows solo. Quais lembranças vocês têm do Brasil?
Nameless Ghoul: Foi realmente louco. Muito louco. Estamos ansiosos e empolgados para voltar aí!
TMDQA: Nosso site se chama “Tenho Mais Discos Que Amigos!” Você tem mais discos que amigos?
Nameless Ghoul: Sim, sim! Ouvi dizer que o cérebro humano por armazenar 3 mil pessoas, você pode conhecer 3 mil pessoas e saber quem são, mas só lidar, se relacionar com oito. Tem muita gente que você sabe de tudo, ainda mais hoje em dia. Você sabe o que a pessoa faz, o que é, mas está longe de ser amigo.
Quando você é musico, acaba conhecendo muita gente mas fazendo poucos amigos. Tenho mais discos que amigos!
Ghost no Brasil
Em Setembro o Ghost virá ao Brasil para shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
A apresentação em São Paulo acontece no dia 05 de Setembro e você pode encontrar ingressos clicando aqui.
Já no RJ a performance rola um dia antes em iniciativa organizada pelo Queremos!, e você pode comprar seu ingresso clicando aqui.