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Resenha + Entrevista - Lançamento de "Miragem", novo disco do Ludov

Fomos ao lançamento do novo disco do Ludov no SESC Pompéia e conversamos com Mauro Motoki antes da apresentação. Confira!

Ludov - Disco Miragem - SESC Pompéia

Ludov - Disco Miragem - SESC Pompéia

Fotos por Jayne Andrade 

A banda paulista Ludov reuniu fãs e amigos numa quinta-feira fria em São Paulo para lançar, no SESC Pompeia, o seu mais novo trabalho, Miragem. O álbum, que está disponível também em vinil, graças à ajuda de fãs e admiradores da banda que apoiaram a ideia via Financiamento Coletivo, tem dez faixas e já ganhou resenha aqui no TMDQA.

Antes do show, nós conversamos um pouco com Mauro Motoki, que cuida das guitarras, teclados, piano elétrico e backing vocals da banda, sobre o novo trabalho, a música independente brasileira e, é claro, sobre discos de vinil. Acompanhe:

TMDQA!: Quando vocês começaram o projeto de financiamento coletivo para o lançamento do vinil de “Miragem”, toda a banda aparecia com seus discos de vinil favoritos e falavam sobre o sonho de gravar um disco nesse formato. Como começou esse desejo entre vocês? 

Mauro Motoki:  Começou quando a gente notou que a gente tinha Mais Discos Que Amigos! (risos).

Não, eu acho que a gente tendo crescido nessa geração aí, anos 80, a gente pegou talvez o grande auge dos lançamentos das bandas em vinil. Então todos os discos dos Paralamas, Legião, Titãs, as bandas que a gente ama até hoje, a gente tem o vinil, e até mais tarde outras bandas também. Depois que o CD tomou o mercado, a gente continuou comprando vinil, isso que foi curioso. Nos anos 90, a fim de resgatar as bandas que a gente começou a curtir mais, Led Zeppelin, Pink Floyd, a gente achava nos sebos os vinis e começava a colecionar.

E, com a retomada do vinil nos anos 2000, melhor ainda, porque tinha os lançamentos, uma coisa que fazia muito tempo que a gente não via… Um disco novo, lançado em 2005 e que tinha o vinil, pra gente foi um deleite, ficamos super empolgados. E aí claro que começou a nascer ali dentro de cada um a vontade de ter um vinil nosso, coisa que era muito difícil no Brasil, até uns 5 anos atrás. Hoje em dia a gente tem opções boas, a gente fez aqui com a Polysom, existem cada vez mais opções. Só que pra gente ainda existia esse empecilho, como a gente é uma banda independente, a gente tinha conseguido toda a produção do disco por conta própria e com a ajuda do Arthur Joly, que é o produtor, mas a gente não teria como concretizar esse sonho se não fosse o financiamento coletivo. A gente pôs só a etapa da produção do vinil para o crowdfunding, porque a produção do disco já vinha sendo feita, então, foi só o formato vinil que foi pago ali com a ajuda do financiamento coletivo, o que pra gente é um grande sonho realizado.

Mauro Motoki - Ludov

TMDQA!: Você lembra qual foi o seu primeiro vinil?

Mauro Motoki: O meu primeiro vinil mesmo foi um single da trilha sonora do Caça-Fantasmas. O primeiro LP foi o Nós Vamos Invadir Sua Praia do Ultraje a Rigor e aí eu herdei o que era dos meus pais também, isso que é o mais incrível pra nossa geração. E depois eu fui descobrindo uma coleção incrível que a minha mãe tinha do Vinicius de Morais, do Chico… e o meu pai também tinha umas coisas muito boas do Nelson Gonçalves, Frank Sinatra, então a gente foi herdando também.

TMDQA!: Agora falando um pouco sobre o processo de gravação do Miragem, vocês se juntaram para compor quase todas as músicas juntos, um jeito que o Ludov nunca tinha feito antes, já que você e o Habacuque (principais compositores da banda) já levavam as letras mais prontas para se trabalhar no estúdio. Como foi esse processo para vocês? 

Mauro Motoki: Eu acho que o que aconteceu foi que eu e o Habacuque vínhamos produzindo os EPs que a gente lançou desde 2011, meio que em comemoração aos 10 anos da banda. Quando nós decidimos que queríamos chamar o Arthur Joly, primeiro decidimos que seria um produtor de fora da banda e o primeiro nome foi o do Arthur, aí depois nós conseguimos fechar com ele, então, eu acho que isso nos “livrou” de certa forma de pensar muito, o tempo todo, no processo. Mas ao mesmo tempo a gente pensou que como o Arthur é conhecido por trabalhar com sintetizadores analógicos, não teria nada a ver a gente sozinho em casa com violão ou com o piano compor e só levar para dar uma roupagem com os sintetizadores e com tudo o que tem lá de possibilidades de som. É legal desde o começo ficar ali, totalmente imersos, naquele ambiente. E foi o que aconteceu, a gente marcou várias sessões  em que a gente não tinha praticamente nenhum material e começamos a compor nos sintetizadores. E isso de compor junto é porque tava gostoso brincar junto, é bem isso mesmo, os instrumentos são tão complexos que parece uma brincadeira, você vai girando o botão e vendo o que dá, fazendo experimentações… e foi isso! Foi esse impulso de exploração coletiva que deu nessas músicas.

TMDQA!: Para você, enquanto artista e produtor de música independente, como você vê o cenário independente no Brasil? 

Mauro Motoki: Eu sou uma pessoa otimista por natureza. Eu procuro enxergar o lado positivo das coisas a priori. Então claro, eu podia falar das muitas dificuldades que existem, não só no mercado independente mas no mercado de música no Brasil, que continua com muitos empecilhos. Por outro lado, o que eu costumo dar ênfase, desde que a gente começou, não só com o Ludov mas com outras bandas, já faz aí uns 15 anos, a situação estava muito mais precária em coisas que hoje a gente fica muito feliz de ver que, por exemplo, você lotar um teatro maravilhoso como esse do SESC Pompeia, sendo um artista independente e só se comunicando pelos instrumentos que esses artistas têm para divulgação, que são aí as redes sociais, coisas que não existiam há 15 anos. Então eu vejo que o mercado cresceu por mérito exclusivo dele mesmo, não teve nenhum investimento de fora, não teve ajuda quase nenhuma, e eu acho que foi uma iniciativa que nasceu muito do próprio mercado, que são as bandas, os produtores e o público. Uma galera que há 15 anos começou a frequentar esses shows hoje tem 30 anos, então, foi uma educação coletiva, tanto das bandas de quererem espaços melhores, produtores, de quererem fazer shows melhores e público de querer ver mais e melhores shows. Acho que teve um grande desenvolvimento aí. Aí, faço aquela ressalva, de que ainda tem muito o que ser feito, a questão de apoio financeiro. A gente tem que chegar ainda numa fórmula que seja possível para os artistas independentes serem independentes mesmo né? (risos). A gente é muito dependente de outros trabalhos, todo mundo é muito guerreiro, todo mundo se vira muito pra conseguir manter a banda e a carreira.

TMDQA!: Como o público está recebendo o Miragem? Como os fãs têm reagido às músicas novas?

Mauro Motoki: Está muito legal. O Catarse possibilitou uma coisa muito bacana que é além de só fornecer o fundo, o financiamento, ele possibilitou esse clima, essa sensação de que mais gente participou da produção do disco. Antes de acabar o disco a gente já recebeu a notícia de que tínhamos atingido a meta do fundo, então, todo mundo que colaborou já fazia parte daquilo, da feitura do disco, e é curioso que é muito diferente você lançar um disco assim porque, por mais surpresa que as pessoas tenham ao escutar um disco novo, por nunca ter ouvido as músicas antes, elas já estão num ambiente meio que familiar, já se sentem parte daquele universo, então foi e está sendo muito legal perceber isso.

Mauro Motoki - Ludov

TMDQA!: E a expectativa para o show de hoje?

Mauro Motoki: O show vai ser maravilhoso, vai ser muito legal. Esse espetáculo a gente pode dizer que foi dirigido pela Vanessa, uma coisa inédita. A Vanessa tomou as rédeas pra si porque ela estava com muita vontade de fazer um espetáculo único, também em homenagem a todos esses acontecimentos. A gente ter trabalhado com o Arthur Joly foi uma honra, com o Piero Damiani que é o arranjador vocal, com o Hurso que é o baixista que nos acompanha nos shows, e com os apoiadores todos do Catarse, os 10 anos do Ludov… enfim, tudo isso culminou nessa vontade coletiva de fazer algo único, mas que a Vanessa que falou que ela que ia comandar e a gente, com muito gosto, aceitou e incentivou, então ela preparou um show lindo. A gente mesmo tá impressionado com o trabalho e vai ser muito bonito. A luz tá bonita, a cenografia tá linda, o figurino tá lindo, as músicas estão ensaiadas, vai ser um show muito legal.

Confira como foi o show na próxima página. 

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