Depois de uma longa (entendam: quando digo longa, é longa mesmo!) carreira dividida entre apresentações em casas independentes de São Paulo, o aplaudido projeto “Heroes”, com covers de David Bowie e projetos com a esposa Miranda Kassim (quem não lembra das noites maravilhosas de Hits do Underground no saudoso Studio SP?) o músico e ator André Frateschi finalmente deu à luz seu primeiro filho, um álbum duplo e solo, não à toa chamado de Maximalista.
Na música que abre o disco e que dá nome ao trabalho, André parece nos contar um pouco de sua história, no meio do caos urbano da paulicéia desvairada. Em versos como “O ronco da turbina de manhã / Blindado, mas a mente segue sã / Tropicalista, quase esquina com a Augusta / Maximalista, cantando na geral / Assim me deito, assim me levanto / Com graça, furor e o espírito franco” é possível imaginar a correria do músico pelos pubs paulistas em que cansamos (modo de dizer) de ouvir sua bela voz.
A mistura de referências à sua própria história e ironias à vida na grande cidade é que faz do trabalho um disco cheio de boas canções. Em “Todo Homem é Uma Ilha”, livremente inspirada em “Sonífera Ilha” dos Titãs, André nos conta como estamos tão assustadoramente presos em nossas rotinas cheias de correria e caos que não percebemos o quão “ilhados” nos tornamos, enquanto que em “A Máquina Preenche” a temática é a forma como a tecnologia nos faz, de forma lúdica, nos sentir mais “completos”.
Já em “Outra Segunda”, a trilha sonora perfeita para este que é o dia mais odiado da semana ficar um pouco menos insuportável, enquanto em “Tudo Vai Dar Tempo” o músico parece acalentar esse ser que, dentro de nós, ainda acredita que há tempo para tudo, até para a calmaria do não fazer nada.
Entre as boas surpresas do disco estão a participação de Miranda Kassin na bela “Meta Fugidia”, a instrumental “Soul Searching”, composta e gravada por Mike Garson, ninguém mais, ninguém menos que o pianista / tecladista de David Bowie que também faz os teclados de outras canções do trabalho, a balada “A Queda”, numa levada mais tranquila e o rock guitarrado de “A Turma do Bem”, que pode ser muito bem uma homenagem a todos os amigos que, assim como Frateschi, dividem sua vida entre o sonho da música e a luta de ser independente neste país que ainda não dá o espaço que esse som merece.
O trabalho duplo contou com a produção dos amigos da cena independente paulista Fábio Pinczowski e Mauro Motoki, que cuidaram do trabalho no estúdio Doze Dólares. A arte é de Fábio Moon, quadrinista que criou ilustrações exclusivas para o trabalho, paulistano até nos mais pequenos detalhes.
Após ouvir com a atenção que o disco merece, não dá para não perceber que a biografia de André Frasteschi, um dos grandes músicos da cena paulista, está presente em cada uma dessas canções, ao mesmo tempo em que é possível notar uma fina dedicatória a cada um dos fãs, amigos e companheiros que participaram com ele dessa luta até aqui. O trabalho também nos faz entender fisicamente todas as nuances artísticas do músico, que se divide em composição e arranjos, além de trazer para o disco um pouco de sua experiência não só com o palco, mas com a vida de quem acredita na música desde sempre. O álbum não podia mesmo ter outro nome: Maximalista é tudo o que esse disco pode ser.
Nota: 7 / 10