“É bossa negra, meu irmão”, canta a voz rouca de Diogo Nogueira sob um instrumental forte, levado pelo bandolim do sempre excepcional Hamilton de Holanda, logo na primeira faixa do colaborativo “Bossa Negra”, álbum recém-lançado pela Universal Music. Ao longo de 13 faixas, a dupla busca as raízes negras do samba e seus retratos na sonoridade contemporânea.
Hamilton é um dos maiores nomes da música instrumental brasileira. Incansável, ele está numa fase impressionante, acumulando prêmios, projetos incríveis e ótimos álbuns. Já Diogo, que tem uma das vozes mais bonitas do samba, flertou com uma pegada romântica popular e parece finalmente livre e maduro, conseguindo tirar das costas o peso de ser filho de João Nogueira.
O TMDQA! falou rapidamente com a dupla sobre o projeto, planos futuros e trabalho. Confira abaixo!
TMDQA!: Esse projeto busca uma raiz da nossa música. Qual a importância para a música negra na MPB?
Diogo Nogueira: O ritmo, o ritmo. Toda a base da música brasileira está no ritmo que vem da cultura negra.
Hamilton de Holanda: O ritmo era uma das nossas preocupações desde o começo. A sonoridade já está no nome… Bossa Negra. É um nome forte. O som já vem bonito. Isso foi algo que planejamos desde 2009, acho. Começou no camarim de um show que fizemos juntos. Tocamos um afrosamba e ficamos com vontade de um dia fazer algo assim. Resgatar essa sonoridade, com um som autoral.
Isso resultou em dois shows que fizemos no Rio (em novembro do ano passado) com repertório com coisas que a gente conhecia e gostava de tocar. Uma honra foi receber uma música inédita do João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro (“Salamandra”). Quando fomos gravar, decidimos fazer como planejamos antes, com um foco autoral.
TMDQA!: Como foi o processo de criação? Como foi escolhido o repertório?
Hamilton de Holanda: Eu já tinha algumas melodias, mas algo que fizemos foi se reunir para fazer a música… Compusemos em confraria, em pedaços, junto dos músicos. Às vezes a melodia vinha pronta.
Diego Nogueira: Todas as autorais estão no álbum. E todas as outras já tinham sido tocadas nas apresentações que fizemos em novembro.
Hamilton de Holanda: E estamos sempre criando músicas novas.
TMDQA!: Falando nisso, Hamilton… Nos últimos anos você tem criado muito, com o trio, o projeto dos Caprichos… o do Pixinguinha… Como você lida com esses múltiplos projetos?
Hamilton de Holanda: Cara… Sinceramente, não sei. (risos) Eu acordo e vou trabalhar. (risos)
TMDQA!: Diogo, você tem uma carreira solo estabelecida, como você vê nesse projeto colaborativo? Isso muda o modo como você encara música hoje?
Diogo Nogueira: Acho que só vem agregar, tanto fora quanto dentro do Bossa Negra. O mais importante é fazer o que você gosta e trabalhar. A gente se diverte.
TMDQA!: Quais são os planos para o Bossa Negra agora?
Diogo Nogueira: Tocar! Queremos rodar o Brasil, passar em todos os cantinhos…
Hamilton de Holanda: E ano que vem o álbum vai ser lançado mundialmente pela Universal Music. Vamos levando o projeto sem pressa. O tempo é nosso amigo.
TMDQA!: Vocês tem mais discos que amigos?
Diogo Nogueira: Hamilton… (risos)
Hamilton de Holanda: Eu tenho! (risos). Na verdade tinha, acho que já passei tudo pro PC.