Em 1995 o Rancid lançou aquele que tornaria-se seu álbum mais bem sucedido comercialmente, quanto à crítica e quanto a uma legião de fãs que colocou o grupo entre os nomes mais importantes da história do punk rock.
…And Out Come The Wolves saiu apenas um ano depois de Let’s Go, de 1994, que junto com títulos de bandas como Green Day, The Offspring e NOFX fez daquele um ano emblemático para o estilo.
Ao recusar contratos como uma oferta milionária feita pela Maverick Records, da Madonna, justamente após a explosão de Let’s Go no underground, o Rancid lançou o disco e emplacou hits como “Ruby Soho”, “Time Bomb”, “Roots Radicals” e “Journey To The End Of The East Bay, conhecidos por 9 em cada 10 fãs de punk rock.
Vinte anos depois, a banda volta a apostar nas reticências de …And Out Come The Wolves e na estética da arte de capa de Let’s Go em seu novo álbum, …Honor Is All We Know, depois de viajar entre os mais diferentes estilos desde o reggae, o dub e o rockabilly até um rápido flerte com o rock das rádios nesses 23 anos de carreira, e o resultado é um resgate às origens, mesmo que não da melhor forma.
O disco é o segundo da banda com o baterista Branden Steineckert e logo de cara abre com “Back Where I Belong”, uma espécie de auto afirmação escrita por Tim Armstrong para mostrar que a banda está de volta às raízes e trabalha da forma como acha mais confortável. Além disso, é autobiográfica também, já que Armstrong tem se aventurado por diversos mares quando não está com o Rancid, e já escreveu músicas com a cantora pop P!nk, lançou discos solo e uma série de covers na Internet.
Rápida e rasteira, a música faz o mesmo trabalho que “Indestructible”, no álbum homônimo, abriu os trabalhos em 2003, dando espaço para “Raise Your Fist” na sequência, cuja introdução irá deixar os fãs de Operation Ivy com um sorriso no rosto.
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Nela o vocalista e guitarrista Tim Armstrong repete a curta letra sobre “levantar os punhos” contra o poder várias vezes e alguns dos clichês do punk aparecem como gritos de “Oi! Oi! Oi!” e uma ponte com baixo e bateria.
“Collision Course” traz elementos de …And Out Come The Wolves bem como de seu sucessor, Life Won’t Wait (1998), poderia muito bem ter sido composta nas sessões dessa época e é um dos pontos altos do álbum, com a alternância de vocais entre Tim Armstrong e Lars Frederiksen e algo que falta no resto do disco: um refrão para cantar junto, característica tão marcante da banda em outros lançamentos.
O ska aparece em “Evil’s My Friend” com direito à participação do velho amigo Vic Ruggiero (The Slackers) no órgão B3 e a melhor sequência do álbum se encerra ao final dos poucos mais de 2 minutos da canção.
Na faixa título, uma introdução que lembra muito um dos maiores desafetos da banda, o Screeching Weasel, e um dos piores vocais de Armstrong em toda a carreira do Rancid. Instável, forçado e muitas vezes desafinado, o vocalista só não marca mais o som como destaque negativo porque “Honor Is All We Know” dá espaço para outras vozes como a do baixista Matt Freeman e a do outro guitarrista, Lars Frederiksen.
Elementos de rockabilly e pop-punk aparecem entre os diversos vocais, e a canção, que poderia se impor, também acaba com pouco mais de 2 minutos e deixa um ar de “era isso?”
“A Power Inside” e “In The Streets” poderiam ser Lados B obscuros do Rancid e “Face Up” aparece para dar novo ânimo ao álbum, com vocais alternados, palmas e um clima nostálgico que nos leva novamente a …Wolves, em outro bom som do novo álbum que mesmo soando como um trabalho já lançado, não se apresenta forçado como uma cópia.
Em “Already Dead”, nova alternância de vocais e mais uma volta no tempo, dessa vez a 2000, no disco homônimo onde a banda usou e abusou das canções rápidas e pesadas com o álbum mais ligado ao hardcore de toda a carreira.
Com instrumental mais “light” que as músicas de Rancid (2000), ela tem uma letra pesada (“Minha mãe era uma puta / Era cega, surda e burra / Se você olhar torto para mim / Vai sentir minha arma”) e uma ponte que lembra bastante “G.G.F”, canção de 2000 que fala sobre a perda de um amigo para as drogas.
“Diabolical” é a mais comprida das músicas do álbum, com 3 minutos e 12 segundos de duração e mais do mesmo. Vocais duplos mas sem inspiração, guitarra, baixo, bateria e um fraco refrão, que você dificilmente irá decorar e cantar, repetido diversas vezes.
“Malfunction” aponta para uma direção completamente diferente da sonoridade do álbum desde a sua introdução, com uma guitarra que nos remete ao rock’n’roll dos anos 60 e 70 e irá te lembrar de “Clash City Rockers”, do The Clash, antes de trazer uma animada trilha sonora com vocais alternados que se está longe de se tornar um hit, é um interessante experimento para quem resolveu reciclar tantos elementos já gravados anteriormente.
“Now We’re Through With You” também poderia estar no disco homônimo de 2000, tem clima de guerra de grupos ao falar que “mexeram com as pessoas erradas” e pouco adiciona com mais uma curta letra que se repete à exaustão, contrário de “Everybody’s Sufferin'”, mais um ska do álbum.
Dançante e com jeitão de ska tradicional, a canção volta a lembrar os tempos em que o Rancid misturava e quase nunca errava, mas peca mais uma vez pela fraca letra, assim como acontece com a faixa que encerra o trabalho.
“Gravedigger” segue a fórmula das canções do álbum, com Lars e Tim alternando vocais, as guitarras tomando conta com o baixo do talentoso Matt Freeman de fundo e pouco ou quase nada de realmente relevante para se mostrar, além de acabar o álbum de forma um tanto quanto abrupta e sem “ponto final”.
…Honor Is All We Know é uma volta ao passado para o Rancid, que em alguns poucos momentos conseguiu resgatar o que há de melhor em sua sonoridade, reciclar e transformar em bons novos sons.
Se as suas primeiras faixas empolgam ou pelo menos dão esperança de que o grupo tenha voltado com força total, infelizmente a maior parte do álbum mostra o contrário: as músicas soam extremamente parecidas e sofrem com letras nada inspiradas sendo repetidas, repetidas e repetidas.
Uma pena para uma banda que tem uma rica discografia e ficou marcada justamente por quebrar os padrões, recusou acordos com grandes gravadoras, lançou um disco de reggae/dub/ska enquanto as rádios pediam por mais músicas comerciais, e trabalhou muito bem com o hardcore.
Nota: 5/10