Fotos por Pipa Dantas e Victor Ciríaco
Depois do sucesso de sua primeira noite, era esperado que o sábado do Festival MADA também fosse excelente. Na entrada, já era possível ver que o público seria ainda maior que o do dia anterior.
Quem começou a puxar o bonde foram os potiguares da Rastafeeling, banda de reggae respeitadíssima no estado. Seus 10 anos de carreira se mostram bastante quando estão no palco e provam que o dominam como ninguém. Prato cheio para quem é fã do gênero.
Em seguida veio o Manacá com com suas cirandas, seu pandeiro, sua rosa e toda teatralidade que lhe é característica. Vale ressaltar todo o carisma da vocalista Letícia Persiles, que é daquelas que transbordam felicidade de estar no palco e não tem não vergonha de se mostrar assim. “É melhor ser alegre que ser triste”, não é mesmo?
Faixas como “Flor do manacá”, “Lamento” e “Diabo” eram acompanhadas sem notas fora do tom e muito afinco pelo público já presente. Show bonito, plateia emocionada, banda talentosa e cantora ímpar.
O Far From Alaska é queridinho do TMDQA! e sempre nos dá mais motivos para ouvi-los, ir aos seus shows e indica-los aos amigos. A banda lançou modeHuman, seu disco de estreia, em Maio e desde então segue aprimorando e tornando sua apresentação ainda mais imperdível. No MADA não foi diferente. O grupo começou com a ótima “Dino vs Dino” e emendou várias. Pouca conversa e muita música.
“Thievery”, “Another Round”, “Politiks” completam o setlist, que termina com “Monochrome”. Alguém pode me explicar se o tempo da banda foi mais curto mesmo ou o show foi tão bom que a gente nem percebeu o tempo voar? Para quem nunca viu o ffa ao vivo, apenas uma dica: Vá. Logo. É maravilhoso.
Logo após, foi a vez dos cariocas do Two Places at Once mostrarem seu som para o público natalense. Os meninos estavam animados em apresentar o seu rock alternativo para uma audiência tão atenta, numerosa (sim, a essa altura o local estava bem lotado)e disposta a conhecer. Outra grata surpresa do festival.
Já os paulistas da Manuche fazem pop rock e preferiram apostar em algumas versões. Tocaram “Balada do Louco”, dos Mutantes, “Como vovó já dizia”, do Raul Seixas e “Highway to hell”, do AC/DC. Bom, o público pareceu gostar, apesar de suas atenções estarem focadas no que estava por vir.
Tulipa Ruiz é uma jóia da música brasileira. Sua voz é uma força da natureza que só ela domina e sua performance é irrepreensível. Em terceira passagem pela capital potiguar, a cantora veio mostrar o show do excelente disco Tudo Tanto e fez uma das apresentações que certamente entrarão na história do festival.
Talvez por ter mostrado abertamente seu apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, o público interrompia sempre as músicas para puxar gritos de apoio à candidata. A cantora não se fez de rogada, falou sobre o assunto e até criticou a revista Veja ao sugerir que deveria ter organizado uma mobilização para “tocar fogo nessa revista de merda”. Uma das partes mais emocionantes foi quando um fã deu um adesivo de apoio LGBT à campanha de Dilma para Tulipa e ela fez questão de colar no peito. Histeria coletiva. Ao ser questionada sobre o motivo de mostrar sua opinião política, a artista revelou que faz isso porque é o que gostaria de ver seus ídolos fazendo:
Eu fico pensando nas pessoas que eu gosto, que acompanho o trabalho, que admiro e vejo que é importante esse posicionamento político. Pensando nisso, foi fundamental eu me colocar. Todo mundo que se colocou de coração nesse momento, seja para um lado ou para o outro, é absolutamente válido. Foi muito importante chegar aqui com a minha decisão e ver que as pessoas aqui estavam conspirando na mesma sintonia. A gente vibrou junto e eu estou muito feliz com isso.
Em seu setlist estavam “É”, “Ok”, “Só sei dançar com você”, “Like This”, uma versão de “Brocal Dourado” com “Bossa Nostra”, do Nação Zumbi, e muitas outras maravilhas de seu reportório. “Megalomania”, faixa feita para o carnaval, colocou todo mundo pra dançar, mas sem dúvida o ponto alto do show é quando ela canta “Víbora” em uma performance fantástica, teatral e com a voz de embasbacar. Um show mágico que deve ser lembrado para sempre.
Quem finaliza não só a noite como o MADA 2014 é Marcelo D2. Que presença de palco tem esse homem! Cantando músicas de sua carreira solo e do Planet Hemp, o artista leva o público na palma da mão. Ele tocou faixas novas como “Eu já sabia” e as mais antigas como “Loadeando”, “Vai vendo”, “A maldição do samba” e “A procura da batida perfeita”, sempre acompanhado da voz uníssona da plateia.
Após usar um sample de “Seven nation army”, do the White Stripes, D2 toca várias músicas de Bezerra da Silva para depois emendar com “Mantenha o respeito”, clássico da banda que o fez famoso, “Desabafo” e “Você diz que o amor não dói”. Antes de finalizar com “Qual é?”, ele aproveita o calor das eleições para declarar que “dando Dilma ou Aécio vai dar merda pra gente”. Uma maneira desesperançosa de se finalizar um show cheio de verdade.
Toda iniciativa que fomente a música é louvável e com o MADA não é diferente. O festival foca no ineditismo, dando chance a quem está começando ou ainda não teve sua grande oportunidade, e nos clássicos. Sendo assim, agrada a todos e de fato promove a música como alimento da alma, assim como diz seu mote. Não é preciso tocar nas grandes rádios e/ou vender mais que a Adele para ser autêntico. O que importa é ser honesto com você, sua arte e seu público, o resto se ajeita. Vida longa ao MADA e que venha 2015!