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Resenha: Forfun - Nu

Banda se aventura na mistura de gêneros musicais e na crítica social em novo registro de estúdio.

Resenha: Forfun - Nu

Resenha: Forfun - Nu

Em 2012 o Forfun lançou o documentário Alegria.doc, mostrando como foi o processo de gravação do bem sucedido álbum Alegria Compartilhada, de 2011. No registro em vídeo ficou evidente que a banda incorporara diversas influências, não só musicais, mas também literárias, filosóficas e espirituais. Se essas influências já eram percebidas em Polisenso (de 2008), em Alegria Compartilhada as mesmas estavam condensadas e misturadas à um brasilidade rítmica que já era a cara do Forfun, mas nunca havia sido tão perceptível no estilo do grupo.

Nu, disponível em formato digital desde o dia 6 de Outubro, veio 3 anos depois de Alegria Compartilhada. Nesse meio tempo o Forfun gravou seu primeiro DVD ao vivo e um EP com 3 faixas. O disco, produzido pelo grande Rafael Ramos (que também produziu neste ano o excelente Nheengatu, dos Titãs), é o quarto de estúdio da banda (quinto contando com a demo Das Pistas de Skate às Pistas de Dança). E pelos vários teasers apresentados antes do lançamento, já notava-se que o trabalho não seria uma espécie de continuação do álbum anterior. O grupo experimentaria novamente.

A primeira faixa (“O Baile Não Vai Morrer“) inaugura o leque de musicalidades ainda não exploradas pela banda. Em ritmo de funk carioca, muito bem conduzida pelo baixo de Rodrigo Costa e pela guitarra de Danilo Cutrim, a música fala sobre a resistência da sociedade ao popular estilo, que ainda é bastante criticado. Juntamente com “Muitos Amigos” (quinta faixa), é a melhor do disco. Esta última expõe na forma de rap a capacidade que o grupo tem de agregar estilos diferentes (não deixando também de alfinetar políticos e religiosos oportunistas). Será que alguém consegue imaginar Bezerra da Silva, Raul Seixas, Tim Maia, Racionais, Black Alien, NOFX, Tom Jobim, Criolo, Ponto de Equilíbrio, Dead Fish e RZO na mesma panela? O Forfun sim.

Alforria” tem a melhor letra do registro, desmascarando a forma com que a escravidão se apresenta nos dias atuais. O clima e o peso do protesto no refrão contrastam com a pegada reggae do verso e o resultado é show. Em “Mariá“, a Maria com acento no “a” do título é só mais um exemplo da diversidade cultural mundial. Ricos, pobres, cultos, usuários de drogas, trabalhadores, todos têm a sua representação. Ponto para o Forfun, que continuará sendo conhecido pela alcunha de banda mais inclusiva do Brasil. É um alívio lembrar que acima de tudo ainda somos um povo, mesmo em tempos de fervorosa luta de classes catalisada pelas eleições.

Na sequência vem a música “Considerações“, que resgata as origens hardcoreanas da banda e poderia facilmente se encaixar no primeiro álbum do grupo (Teoria Dinâmica Gastativa). Acompanhadas de vocais melódicos, as linhas de bateria características do gênero ditam o tom da música do início ao fim. E se em “Stoked” o Forfun soa como a banda Strike no seu último disco (Nova Aurora, de 2012), no início de “Previsão do Tempo” eles têm seu momento The Clash, lembrando as transições de faixas de Sandinista (1980), onde a variedade musical é tamanha que o ouvinte de primeira viagem não faz ideia do que esperar. A bateria de Nicolas Christ continua tendo papel essencial nesta sétima faixa, acompanhada do trio de metais que faz sua melhor participação no registro. Na letra, cantada de forma simples e comovente, o tema da crítica social é levantado de novo, tema esse que não protagonizou Alegria Compartilhada.

Depois dessa sequência arrebatadora, fica o sentimento de que Nu será curto demais para tanta pluralidade. Entretanto, as 4 músicas restantes não passam sua mensagem de forma tão intensa quanto as 7 primeiras, embora todas sejam muito bem executadas. “Arriba y Avante” tem alguns versos ótimos unidos a um refrão sem muita força. O mesmo ocorre com “Coisa Pouca” (anunciada como primeiro single de Nu) e “A Vida Me Chamou” (com destaque positivo para o trecho cantado pelo tecladista Vitor Isensee, que também assumiu muito bem os vocais em “Bolo Cosmoman“).

Escolher nota para avaliar um trabalho tão multifacetado se torna tarefa meramente protocolar. Mais misturado, social e povão do que nunca, o Forfun provou novamente que fugir do protocolo é com eles mesmo. É certo que haverá quem torça o nariz para Nu. Para esses vale a velha máxima: “Quem não gosta, gosta e quem não gosta, curte”.

Nota: 7,5/10