Texto por João Pinheiro
Fotos por Pipa Dantas
Festival Dosol chegou a sua décima primeira edição e mais uma vez focou na cena independente nacional pra lotar o tradicional bairro da Ribeira em três dias de muita festa e música. Acertou em cheio e todo mundo saiu de lá feliz.
Assim como em todo grande festival, é sempre uma Escolha de Sofia decidir qual show perder. Nesse ano, além dos três palcos principais, havia o Estúdio Tim Music, espaço muito bacana montado na rua onde várias bandas se apresentaram durante o fim de semana. De antemão, peço perdão a todos os artistas que não consegui prestigiar por estar vendo outra banda, pegando uma água, ou até enfrentando a multidão pra ir de um palco ao outro.
A noite da sexta-feira (7), só com bandas locais, foi bem aquele lance de confraternização de amigos. Shows bem legais, mas é no sábado (8) que o bicho pega de verdade.
A Plutão Já Foi Planeta lançou seu disco há pouco tempo (ouça aqui), mas já tem um mar de fãs. E claro que eles estavam lá, enfrentando o calor característico da tarde natalense e cantando todas as músicas, sem errar uma só palavra. Banda bem ensaiadinha, público compareceu, a troca é imediata. Excelente começo.
Em seguida, vieram os amigos da ÓperaLóki, banda que mistura psicodelia com MPB. Em seu primeiro show full band, eles conseguiram driblar os percalços e fazer uma apresentação honesta. No início, era evidente o nervosismo e desconforto do vocalista Arthur Novatto, mas com o decorrer do show e a interação do público, que estava bem animado, tudo melhorou exponencialmente. No fim, só se via sorrisos no Armazém Hall.
Depois do Velociraptors, que liga o som no talo e coloca os roqueiros para praticar air guitar e air drumming, veio a Zurdo. A banda, mais uma no extenso currículo de Henrique Geladeira, deu uma acalmada nos ânimos com seu experimentalismo e depois até fez o pessoal dançar com uma espécie de maracutu (?) bem despojado.
A dupla Red Boots é uma das provas cabais que o momento atual da música no Rio Grande do Norte é um dos melhores do país. Mais que isso, prova que a cena não é alimentada apenas de bandas da capital, já que o duo formado por Luan Rodrigues (vocal e guitarra) e Gilderlan Holanda (bateria) vem de Mossoró, interior do estado. Baseado em Touch the Void, seu novo disco, o show foi impecável. É sempre interessante ver o peso com qualidade que apenas dois integrantes como esses meninos podem fazer. Espaço lotado e fãs satisfeitos no fim da apresentação.
Outra dupla que também cumpriu seu dever com maestria foi a The Baggios. As boas críticas que o disco Sina recebeu chamaram a atenção do público, que foi lá para conferir de perto o blues rock de Sergipe. Com faixas como “O Azar Me Consome” e “Em Outras”, muita simpatia e destreza com seus respectivos instrumentos, o duo fez bonito e certamente conquistou novos fãs e alegrou os que já tinham.
Um amigo chegar dizendo que “era fã do Camarones Orquestra Guitarrística e não sabia” é bem o resumo do que foi um show da banda dos chefes. Não dá para ficar alheio, não dá para não se divertir, não dá para ficar parado. Logo após tocar a ótima “Cat Friend”, Ana Morena intimou a ex-integrante Kaká Monteiro a ir ao palco para juntas fazerem um dancinha toda charmosa. Já Anderson Foca fez pose de rockstar para fingir quebrar a guitarra. Todo brincalhão, ainda disse que essa seria a última vez que a banda se apresentaria no Festival Dosol. Esperamos que seja brincadeira mesmo, hein.
Os rajas da Turbo vieram do Pará com a intenção de detonar tudo no festival e conseguiram. Camillo Royale é um vocalista como poucos, um showman. Agarra a guitarra, se joga no chão, convoca o público. A banda está agora preparando o disco Eu Sou Spartacus, que deve ser lançado no início de 2015. Um dica: além da Turbo, a cena paraense tem diversos expoentes que valem o ingresso. Molho Negro, Aeroplano e Vinyl Laranja são alguns desses nomes que nós recomendamos muito.
O Talma&Gadelha sempre entra em campo com o jogo ganho. A banda é adorada no estado e dessa vez ainda preparou surpresas. Julio Andrade, do The Baggios, é um dos compositores do single “Maiô” e subiu no palco pra cantar a música com o grupo. Além dessa, foram tocadas faixas como “Calmantes”, “Espanto” e “Em Nome do Amor”. Mas a maior surpresa aconteceu depois disso. Após Luiz Gadelha declamar um poema de Elisa Lucinda, um fã subiu no palco e o beijou. Um belo ato na luta contínua contra todo tipo de preconceito.
Antes mesmo do show do Boogarins começar, o Dosol já estava lotado. Parece que todo o público foi lá para conferir qual é a desses meninos que vem da prolífica cena de Goiânia e chamam tanta atenção por onde passam. Já em “Lucifernandis”, uma parte da audiência delirava com a psicodelia e a outra observava curiosa. Em seguida veio “Erre”, “Infinu”, que o vocalista Dinho definiu como uma “música sobre todo o sentimento imensurável”, “Doce”e longos solos de guitarra para concluir mais um excelente apresentação do festival.
A banda Aldo certamente é um nome que você já ouviu. Aclamadíssimos pela crítica, o grupo é formado por baixista Isidoro Cobra (ex-Jumbo Elektro), pelo baterista Erico Theobaldo (do Maquinado, projeto paralelo de Lúcio Maia, da Nação Zumbi), pelo DJ Murilo Faria e o vocalista André Faria e fazem um show nada menos que catártico. Mesmo que eu usasse mil palavras, não seriam suficientes pra descrever o quão libertadora é a energia da apresentação deles. Todos os integrantes se entregando completamente e o público respondendo à altura. Um conselho: vá um show e venha me contar depois se você não sentiu a mesma coisa.
Para encerrar a noite, Céu subiu no palco trazendo o show do Caravana Sereia Bloom pela terceira vez à cidade. A cantora é uma jóia, tem uma voz toda delicada e músicas que envolvem no primeiro acorde. Ela mostrou faixas como “Fffree”, “Amor de Antigos”, “Falta de Ar”, “Contravento” e, a pedidos do público, “Chegar em Mim”. Além disso, cantou três músicas do Catch a Fire, show especial que costuma fazer tocando o disco completo de Bob Marley. Uma apresentação requintada e especialíssima pra terminar o dia.
O Domingo (9) do Festival Dosol sempre vem com sentimentos conflitantes: estamos cansados por causa da festa nos dias anteriores, das cervejas, do lounge e já morrendo de saudades porque está perto de terminar. A maior parte do público, no entanto, nem lembrou disso já que os ingressos esgotaram com bastante antecedência e filas enormes de desavisados se formaram na porta do local. É o dia que o evento foca no som mais pesado como punk, hardcore e metal.
Assim como no sábado, também havia a parte chata de fazer escolhas (poxa, queríamos ver tudo!), mas podemos dar destaque a shows como o da Scalene, uma grata surpresa que o festival proporcionou.
O quarteto de Brasília fez uma apresentação baseada em Real/Surreal, seu disco mais recente, e agradou não só os muitos fãs que ali estavam como quem ainda não os conhecia. Tocaram faixas como “Nós Maior que Eles” e “Surreal”, inspirando tímidas rodas de pogo.
Quem também chamou a atenção do público foi o trio alemão Samavayo. A banda de stoner rock é formada por Behrang Alavi (voz e guitarra), Andreas Voland (baixo e vocal) e Stephan Voland (bateria e vocal) e fez um dos melhores shows do festival. Som pesado do jeito que o público queria e rodas enormes. Só alegria.
A cada show na cidade o Far From Alaska só comprova que santo de casa faz muito milagre. Muito antes de sua apresentação começar, o Armazém Hall já estava lotadíssimo. E a banda respondeu às expectativas e fez um show quase impecável. “Another Round”, “Thievery”, “Politiks” estavam no set e eram acompanhadas em coro pelos fãs do grupo. Uma pena que a guitarra de Rafael Brasil tenha dado defeito e eles não tenham conseguido fazer o final clássico de seu show com “Monochrome”. No entanto, rolou um jam bem legal no lugar e ficou tudo certo.
Logo em seguida, veio A Inky, formada por Luiza Pereira (vocal e sintetizador), Guilherme Silva (vocal e baixo), Stephan Feitsma (guitarra) e Victor Bustani (bateria), e seu rock cheio de programações colocando os metaleiros para dançar. A banda faz o tipo de som que mais destoava nesse dia do festival, mas ainda assim foi um grande destaque e certamente conquistou público, que já espera uma nova vinda à cidade.
Por fim, teve o Matanza. A banda já veio inúmeras vezes à Natal, apresenta o mesmo setlist e ainda lota todos os seus shows. Era impossível dar um passo dentro do local sem ser sugado pra dentro das rodas. Show honesto e que sempre agrada os fãs. Não tem como errar.
Nesta segunda-feira (10), ainda rolou um showzaço da Pitty para encerrar o Festival Dosol 2014, mas isso eu deixo para outro post. O rock não para.
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