The Smashing Pumpkins - Uma música de cada disco

O TMDQA! escolheu os destaques dos álbuns e EPs de estúdio do The Smashing Pumpkins, um dos headliners do Lollapalooza Brasil 2015.

The Smashing Pumpkins

Prestes a voltar ao Brasil como um dos headliners da versão brasileira do Lollapalooza, o The Smashing Pumpkins carrega dois legados simultaneamente: o de ter sido uma das maiores e melhores bandas dos anos noventa, e o de ter se tornado uma reles sombra do que um dia foi após ser reativada por Billy Corgan em 2007. Workaholic exigente e um frontman controlador, Corgan é hoje o único integrante da emblemática formação original, e apesar das críticas de muitos fãs, assumiu a banda como um projeto solo onde toma todas as decisões musicais, estéticas e burocráticas sem questionamentos.

Na prática, são duas bandas diferentes, apesar do mesmo nome. A primeira, por mais que também fosse comandada ferozmente por Corgan, ajudou a construir o distópico panorama do rock noventista simplesmente por estar em atividade. Já a segunda está eternamente vinculada à nostalgia da primeira, e mesmo com a insistência do vocalista em produzir material novo, está fadada a comparações com os primeiros trabalhos, e mesmo que lançasse um álbum digno de tais analogias, está há muito tempo distante do foco de interesse dos jovens desta desatenta geração.

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Do despretensioso Gish a Monuments to an Elegy, o novo disco da banda, o TMDQA! escolheu os destaques dos álbuns e EPs de estúdio do The Smashing Pumpkins.

Gish (1991)

“Daydream/I’m Going Crazy”

Ofuscado pela explosão da cena de Seattle na época do lançamento e pelo sucesso meteórico de Siamese Dream (1993), o álbum de estreia do The Smashing Pumpkins é subestimado até por alguns fãs da banda. Apesar de evidenciar a inexperiência do quarteto e de Billy Corgan como letrista, Gish mostra o potencial lapidado nos trabalhos seguintes de forma ainda totalmente espontânea e crua, e botou o grupo oficialmente no mapa da prolífica cena de rock alternativo do início dos anos 1990.

O crescendo espetacular de “Rhinoceros” ou a fúria despretensiosa de “Tristessa” merecem louvor, mas a faixa que mais chama atenção em Gish é justamente a última, “Daydream”. Escrita por Billy Corgan sobre a experiência de voltar a morar com o pai, que o abandonou quando Billy tinha apenas 8 anos de idade, a balada acústica ecoa as harmonias do My Bloody Valentine – obsessão de Corgan à época – e ganha pontos por ser uma das poucas canções do TSP com os vocais sussurrados da (então) baixista D’arcy Wretzky.

Ao fim de “Daydream”, a banda incluiu “I’m Going Crazy”, uma faixa escondida gravada de brincadeira pelo grupo no fim das gravações do álbum.

Siamese Dream (1993)

“Mayonaise”

Siamese Dream é o álbum de uma geração. As treze faixas do disco são uma bíblia da desesperança do início da vida adulta, conduzida por guitarras que alternam perfeitamente a beleza etérea dos timbres espaciais com a sujeira e a grandiosidade dos pedais de fuzz, muito fuzz, bem amarrada pela produção de Butch Vig.

Em Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) Corgan pecou por não aparar os excessos, e a confiança para o exagero veio justamente da boa recepção de Siamese Dream, álbum responsável por nos apresentar a clássicos como “Today”, “Cherub Rock” e “Disarm”, além de faixas menos conhecidas – mas não menos inspiradas – como “Soma”, “Quiet”, “Geek U.S.A.” e, claro, a excepcional “Mayonaise”.

Os versos desconexos e o nome aleatório com um erro proposital de ortografia dão um ar misterioso à faixa, conhecida pela introdução suave composta pelo guitarrista James Iha e pelo refrão potente, marcado pelos apitos de uma guitarra defeituosa que Corgan comprou por US$ 65 pouco antes da gravação do álbum. Um clássico.

Pisces Iscariot (1994)

“Starla”

Para capitalizar em cima do sucesso de Siamese Dream enquanto o The Smashing Pumpkins preparava o terceiro álbum de estúdio, a Virgin encomendou um disco com sobras de estúdio e b-sides dos singles de Gish e Siamese Dream. Dadas as circunstâncias, Pisces Iscariot é muito superior aos típicos compilados de sobras, e diversas faixas do registro mereciam posições mais justas no catálogo do grupo.

Gravada junto com “Plume” para o single inglês de “I Am One”, “Starla” é uma tour de force com mais de 11 minutos de duração, e mostra precisamente a evolução do quarteto entre as sessões de Gish e as de Siamese Dream. O nome da música é outra obra do acaso. Corgan batizou a faixa após conhecer uma moça chamada Starla, mas ao reencontrá-la anos depois, descobriu que o nome era fruto de sua imaginação; ela na verdade se chamava Darla.

Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995)

“Fuck You (An Ode To No One)”

Com o fim do Nirvana e as dificuldades do britpop inglês em entrar no mercado norte-americano, o posto de maior banda de rock do planeta estava vago. Corgan, ambicioso e megalomaníaco, não perdeu a chance de tomá-lo para si e desenvolveu um projeto colossal com a meta de transformá-lo no equivalente noventista a The Wall, do Pink Floyd. Assim surgiu Mellon Collie and the Infinite Sadness, lançado em outubro de 1995.

O projeto nababesco resultou em um disco duplo com 28 músicas e infinitas sobras, lançadas posteriormente no box The Aeroplane Flies High (1996) e nos relançamentos de MCIS e TAFH em 2012 e 2013, respectivamente. Dividido em “Dawn to Dusk” [“Amanhecer ao Anoitecer”] e “Twilight to Starlight” [“Crepúsculo à Luz das Estrelas”], MCIS é a tentativa (confusa) de Corgan de despedir-se da juventude ao mesmo tempo em que abraça a maturidade, e poucas expressões representam tão bem essa bifurcação quanto um belo “foda-se”. Daí veio “Fuck You (An Ode to No One)”.

Uma das faixas mais pesadas de toda a carreira da banda, “Fuck You (An Ode to No One)” destoa da imponência harmônica de “1979”, “Tonight, Tonight” ou “Cupid de Locke”, mas compensa pelos riffs impetuosos e pela letra bem construída, que diz em menos de 5 minutos o que Corgan tentou dizer de mil outras formas antes e depois de concluí-la.

The Aeroplane Flies High (1996)

“Set The Ray to Jerry”

Em um movimento similar ao que motivou o lançamento de Pisces Iscariot em 1994, o grupo reuniu os cinco singles extraídos de Mellon Collie and the Infinite Sadness e os respectivos b-sides em um box luxuoso lançado em 1996. Assim como a “obra-mãe”, The Aeroplane Flies High é um tijolo de exageros, mas entre devaneios dispensáveis como “Pastichio Medley” há algumas preciosidades, como a encantadora “Set the Ray to Jerry”.

Simples e emocionante ao mesmo tempo, “Set the Ray to Jerry” é uma das músicas mais bonitas de toda a produção de Billy Corgan. O embrião da música surgiu na turnê de Gish, mas a versão definitiva surgiu apenas nas sessões de MCIS e só não entrou no álbum por veto de Flood, produtor do disco. Uma pena; o maximalismo de MCIS certamente se beneficiaria de uma canção despida de pompas e exibicionismos como esta.

Adore (1998)

“For Martha”

O perfeccionismo e a obsessão de Billy Corgan em centralizar o direcionamento artístico do The Smashing Pumpkins começou a demonstrar sinais de rachadura após o lançamento de Mellon Collie and the Infinite Sadness. Adore é a reflexão dessas feridas. Apesar de lançado apenas três anos depois do antecessor, o álbum exibe uma banda completamente diferente, guiada pelas variações emocionais de Corgan e desfalcada pelo afastamento do baterista Jimmy Chamberlin.

Irregular e melancólico, Adore tem bons momentos. O melhor deles é “For Martha”, uma balada com mais de 8 minutos guiada pelo piano de Corgan, com versos dedicados à mãe dele, Martha, que morreu de câncer em 1996. Uma curiosidade: a bateria de “For Martha” foi gravada por Matt Cameron, que na época vivia um período sabático entre a separação do Soundgarden e a entrada dele no Pearl Jam, em 1998.

Machina /The Machines of God (2000)

“Age of Innocence”

A languidez de Adore expôs o óbvio: o The Smashing Pumpkins estava muito próximo do fim. Abalado pelos contratempos da fama e pela péssima relação com os demais integrantes, Billy Corgan decidiu acabar com a banda, e passou a desenvolver o (megalomaníaco, claro) epitáfio do quarteto: um novo álbum duplo onde abordaria os caminhos tortuosos do desmantelamento do quarteto através de Glass, um rockstar fictício inspirado nele mesmo, e seu grupo The Machines of God. O problema foi que a banda não aguentou nem terminar o disco. D’arcy deixou o TSP no meio das gravações do novo álbum, e o projeto conceitual desmoronou em si mesmo.

Sem apoio da gravadora para lançar um disco duplo, Corgan passou a focar em um álbum só, que virou Machina/The Machines of God. Subestimado pela produção grandiosa, polida e excessivamente comercial, Machina esconde algumas pequenas pérolas do repertório dos Pumpkins. O romantismo obscuro de “Stand Inside Your Love” e “This Time”, uma declaração de amor de Corgan à banda, merecem destaque. Mas o grande trunfo do álbum é “Age of Innocence”, última faixa do álbum, onde Billy fala abertamente sobre o fim: “Because for the moment we are free, we seek to bind our release / Too young to die, too rich to care, too fucked to swear that I was there” [Porque agora estamos livres, queremos aliar a nossa libertação / Jovens demais para morrer, ricos demais para se importar, fodidos demais para jurar que eu estive lá].

Machina II/The Friends & Enemies Of Modern Music (2000)

“Dross”

Rotulado erroneamente como um disco de sobras do projeto inicial de Machina, Machina II/The Friends & Enemies Of Modern Music saiu poucos meses após o primeiro volume, e ironicamente mostra uma banda extremamente focada e revigorada, livre do peso da despedida, que ficou todo concentrado no primeiro volume. Descontente com a decisão da gravadora em não apoiar o lançamento de um disco duplo, Corgan disponibilizou o álbum de graça no site da banda (em 2000, garotada!), acompanhado por três EPs com mais inéditas e covers surpreendentes como o de “Soul Power”, de James Brown.

“Dross”, faixa três do disco, resgata os riffs pesadíssimos da época de Mellon Collie and the Infinite Sadness com a arrogância costumeira de Corgan em versos como “you say I’m tragic, I say it’s magic, kid / You say I’m lucky, we all know it’s in the cards”. Aí sim, uma despedida apropriada.

Zeitgeist (2007)

“United States”

Depois de falhar em manter outro grupo unido, o Zwan, e de lançar um disco solo repleto de sintetizadores, Corgan decidiu reativar o The Smashing Pumpkins, a partir da premissa de que, por ter sido o mentor criativo do grupo, ele era o detentor do legado dos Pumpkins por direito. Dessa vez, no entanto, decidiu não convidar James Iha nem D’arcy Wretzky para o grupo, e compôs Zeitgeist apenas com a ajuda de seu braço direito Jimmy Chamberlin. Eventualmente Corgan convidou Jeff Schroeder, outro guitarrista com traços asiáticos, e a baixista Ginger Reyes, em uma estranha tentativa de ironizar a importância de James e D’arcy na primeira formação.

Zeitgeist é o álbum mais pesado do The Smashing Pumpkins. Corgan se deixou influenciar pela paranoia apocalíptica dos Estados Unidos depois do 11 de Setembro e das guerras no Afeganistão e no Iraque, e criou um disco tenso e de composições pouco inspiradas envoltas em camadas de overdubs infinitos de guitarras e distorção no talo do início ao fim. Entre os poucos destaques está “United States”, uma epopeia de mais de nove minutos construída sobre os double paradiddles de Chamberlin, e timbres dignos do drone metal.

American Gothic EP (2008)

“Pox”

Poucos meses depois do lançamento de Zeitgeist, Corgan decidiu amenizar o peso desproposital do álbum com um EP totalmente acústico. Sem pressa e sem a obrigação de cumprir expectativas, American Gothic trouxe boas ideias para o repertório da banda e incorporou de vez a influência do folk apresentada com discrição nos trabalhos anteriores.

Entre a delicadeza de “Sunkissed” e “The Rose March” e do mais do mesmo de “Again, Again, Again (The Crux)”, a melhor é mesmo “Pox”, que com um arranjo elétrico poderia rivalizar com boa parte do tracklist de Machina I & II.

Teargarden by Kaleidyscope Vol. 1: Songs For a Sailor (2010)

“A Song For a Son”

Depois de viajar pelos Estados Unidos em uma extensa turnê de 20 anos marcada pelo objetivo de irritar os fãs casuais com canções como “Superchrist” e “Gossamer” – uma jam instrumental cuja duração variava entre 12 e 40 minutos, dependendo do humor de Corgan – o The Smashing Pumpkins decidiu abolir a gravação de novos álbuns de seu futuro. Billy anunciou o projeto Teagarden by Kaleidyscope, sob o qual lançaria 44 singles ao longo dos anos seguintes, a serem posteriormente reunidos em EPs. Descontente com os rumos da banda, Chamberlin saiu outra vez do TSP, e deixou Corgan como o único remanescente da formação original.

O primeiro volume dos novos EPs saiu em março de 2010, intitulado Songs for a Sailor. Apoiado desta vez por Schroeder, pela baixista Nicole Fiorentino e pelo baterista Mike Byrne (então com 20 anos), Corgan apostou no rock clássico com elementos de folk e progressivo para criar um conjunto de canções dispersas e aquém de toda a discografia anterior. “A Song For a Son”, faixa um do EP, pelo menos serviu para apresentar o virtuosismo de Byrne.

Teargarden by Kaleidyscope Vol. 2: The Solstice Bare (2010)

“Tom Tom”

Na segunda leva da saga Teagarden by Kaleidyscope, The Solstice Bare, Corgan continuou a confundir os fãs com composições confusas e sem poder de engajamento, mas conseguiu melhorar em relação a Songs For a Sailor. “Tom Tom”, por exemplo, não inova, mas ecoa bons momentos da história dos Pumpkins.

Oceania (2012)

“Violet Rays”

Durante o processo de composição dos singles seguintes de Teagarden by Kaleidyscope, Corgan percebeu uma certa unidade nas músicas e decidiu suspender indefinidamente o lançamento de singles para se dedicar a um álbum pela primeira vez em cinco anos. O resultado surpreendeu: Oceania não é páreo para nenhum dos álbuns lançados na primeira encarnação da banda, mas demonstrou a habilidade do compositor em reunir riffs de heavy metal com a delicadeza do dream pop e as influências recentes de prog e folk em um amálgama no mínimo interessante. “Violet Rays”, por exemplo, lembra bons momentos do Zwan ao não depender de distorções furiosas para ganhar a atenção do ouvinte.

Monuments to an Elegy (2014)

“Tiberius”

No início deste ano, Corgan confirmou o lançamento de dois novos álbuns do The Smashing Pumpkins no início de 2015, ambos ainda parte do projeto Teagarden by Kaleidyscope: Monuments to an Elegy e Day For Night.

O primeiro teve o lançamento antecipado e sai no dia 09 de dezembro deste ano. Inquieto, Corgan demitiu Mike Byrne sem entrar em detalhes dos motivos para tal, e convocou o amigo Tommy Lee (Mötley Crüe) para gravar as baterias do disco. Das três músicas lançadas até agora, a mais elogiada foi “Tiberius”, guiada por sintetizadores cobertos por linhas pujantes de guitarra e uma ótima performance de Tommy Lee.

Uma música de cada disco

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