Entre um feriado e outro, nós do TMDQA! tivemos a honra de ser convidados a visitar o Estúdio Dosol, localizado em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e conferir um pouco do processo de gravação do novo disco da Camarones Orquestra Guitarrística.
Fomos recepcionados por Anderson Foca, integrante da banda potiguar que nos concedeu entrevista, e Augusto Oliveira e João Lemos, do trio paraense Molho Negro. Os dois são alguns dos convidados que estão nesse novo álbum.
Ouvimos algumas das músicas que estarão no registro, inclusive presenciamos a gravação de uma base para uma faixa bem surf music. Foca ainda nos mostrou outras mais pesadas, um ska, que lembra muito a fase inicial do Camarones, e uma que conta com a participação de Leo Chermont, do Strobo. Podemos notar que o disco é muito animado e dançante e o músico confirma isso. Segundo ele, atualmente, sua maior preocupação é como essas canções ficarão no show, como o público vai reagir a elas.
Logo abaixo é possível ler a nossa entrevista com Anderson Foca, do Camarones Orquestra Guitarrística, e os vídeos que a banda tem disponibilizado com a gravação do disco.
TMDQA!: Sabemos que 2014 foi um ano de muitas atividades para o Camarones. Tanto que vocês terminam o ano gravando o próximo disco. Você pode fazer um resumo do que aconteceu nesse período?
Anderson Foca: A gente começou o ano lançando uma reunião de singles, o O Outro Lado. A gente sabia que esse seria um ano de turnê intensa e se preparou pra isso. Lançamos esses singles porque tinha música cover do Link Wray, que a gente não tinha divulgado e só tinha saído na gringa, tinha também um cover do tema do filme Ghostbusters, que também nao saiu aqui, tinha todo o lado b de Espionagem Industrial e outros singles também. Então, a gente tinha um material muito interessante para lançar um disco. Foi um ano muito intenso pra gente. A gente fez uma turnê europeia enorme, fez uma turnê nacional que foi em todas as regiões do país, tocamos de Santa Catarina a Boa Vista. Foi um ano muito proveitoso para o Camarones e que nos deu um novo ânimo já que a gente mudou muito de formação. Mudamos tudo, inclusive eu mudei de instrumento. Além do teclado, comecei a tocar guitarra. E foi incrível. Estamos bem entrosados. Foi sem dúvidas um dos anos mais produtivos e ainda estamos o encerrando já com disco novo.
TMDQA!: Fala um pouco sobre o conceito de Rytmus Alucynantis, o novo disco de vocês.
Anderson Foca: Se você olhar a nomenclatura, parece até um mosquito. E na verdade é pra ser um mosquito chamado Rytmus Alucynantis que pica a pessoa e ela fica feliz, excitada, quer dançar, quer se mexer. E isso é muito a onda do Camarones, esse conceito do disco é muito o que a gente quer passar. Alegre, festivo, tendo o compromisso de tocar bem, fazer uma coisa bacana no ponto de vista do rendimento do músico no estúdio, mas isso é o segundo plano total. O primeiro plano é que as pessoas dancem, se divirtam, se identifiquem com algum momento da vida e se for um momento bom, melhor ainda. Esse é o conceito do disco e é o que a gente tá tentando fazer aqui.
TMDQA!: O que diferencia o novo álbum dos anteriores?
AF: A primeira coisa que diferencia é que a gente mudou de formação. Quando muda de formação, as referências também ficam bagunçadas no ponto de vista da composição. Muda tudo, começa tudo do zero já que você passa a se adaptar aos novos músicos e eles tem as suas levadas preferidas, os timbres preferidos. E a gente adora essa mudança. Eu sou o principal compositor do Camarones, então eu mantenho uma certa identidade, mas ao mesmo tempo vem chegando novas informações. Por exemplo, nesse disco sai a primeira música que a gente programou já que Fausto gosta disso. A faixa se chama “Tsunami” e nem soa como programação, é um reggae mais pesado. Foi uma experiência incrível. Foi a segunda música que a gente fez pro disco. No mais, é um álbum como os outros. Tem participação do Molho Negro, eles ficaram uma semana aqui com a gente e devem tocar umas 3 ou 4 faixas. Augusto gravou uma bateria, João gravou a guitarra numas 2 ou 3 músicas e também compôs alguma coisa comigo e Yves.
TMDQA!: A banda sempre conta com muitas participações, sejam elas em shows ou nos discos. Como vocês escolhem esses convidados?
AF: A gente procura fazer a coisa mais colaborativa possível porque nós somos uma banda instrumental, então é tudo muito aberto. Nunca foi uma coisa ofensiva receber gente no disco. Não é só o Molho Negro que tá participando. O Ynaiã Benthroldo, do Boogarins, gravou uma música, a metaleira do Móveis Coloniais de Acaju vai participar de outra. É muito por afinidade. A gente já tocou junto com essas bandas, tanto o Móveis quanto o Molho Negro já fizeram turnê com a gente, o Ynaiã já tocou bateria com a gente, fez turnê. Nesse disco, Leo Martinez, que era nosso guitarrista, também participa. Kaká Monteiro, que também tocava com a gente, também tá no disco. Na verdade, a banda só tá crescendo. Os que já saíram continuam participando do processo.
TMDQA!: Junto com o disco, vocês já tem uma turnê planejada para 2015?
AF: Já. Deve ter uma mudança de planos. A gente tinha pensado em fazer nesse ano metade no Brasil e a outra metade internacional, mas com o disco novo talvez seja mais inteligente fazer mais Brasil e um pouco menos internacional. Até pra esperar o que vai acontecer com essa crise, o dólar e o euro estão altos. Então, a gente tem a possibilidade de fazer um lançamento bem grande no Brasil e viajar pelo país, mas também deve pintar algo lá fora só que não na intensidade que a gente estava planejando inicialmente. Agora, o disco sai de cara em toda a América do Sul e Europa pela Scatter Records, que é um selo da Argentina. Deve sair o vinil também. Principalmente na gringa, não sei se ele chega ao Brasil tão rápido quanto lá. Ao mesmo tempo que o álbum sair no Spotify, Deezer, Itunes e pra galera baixar, já deve começar a venda fora do país.
TMDQA!: Vocês são uma banda que nunca está parada. Agora mesmo estão terminando o intenso ano de 2014 já gravando o próximo disco. E tudo isso movimenta a cena local e nacional. Como você vê o papel do Camarones dentro da tão comentada cena do Rio Grande do Norte?
AF: O Camarones é meio clássico na cena. O que muitas bandas estão fazendo agora, o que está virando rotina, nós fazíamos sozinhos ali em 2009/2010. Era fazer turnê, tocar fora, ir aos festivais, isso é uma coisa que a gente já faz há algum tempo. Eu acho que a gente foi meio que uma espécie de “É possível. Se eles estão fazendo, a gente também pode”. Acho que nossa contribuição foi encorajar a galera a fazer isso. Se você olhar hoje tem Far From Alaska, Red Boots, Fukai, Camarones, Kataphero, Mad Grinder, Moster Coyote e muitas outras. Todas essas bandas fizeram turnê em 2014 pelo Brasil. E acho que muitas outras irão fazer. Muita coisa vai acontecer em 2015. Tenho ouvido uns discos que vão sair e vem coisa boa aí. Nós estamos muito bem. Não sei se a gente já viveu um momento assim na música.
TMDQA!: Para finalizar, você tem mais discos que amigos?
AF: Rapaz, olhe, eu já tive quase seis mil discos, só que me desfiz dos meus discos pra fazer mais amigos. Fiz um bazar, chamei meus amigos e mandei eles escolherem. Era R$ 5, 10 e 15. Se você fosse puxando, não era pelo valor do disco, era pelo meu sentimental. Se eu gostasse muito do disco, ele pagava mais caro. Se eu gostasse menos, era mais barato.