Entrevistas

TMDQA! entrevista: Billy Brown e O Incrível Magro de Bigodes

Em uma conversa informal, o duo mato-grossense destacou detalhes de sua carreira, explicou a base humorística da banda e falou sobre instrumentos DIY.

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Entre um show e outro na 9ª edição do festival Grito Rock Goiânia, a equipe do TMDQA” conversou rapidamente com um dos destaques no quesito “inovação” do evento: o duo mato-grossense Billy Brown e O Incrível Magro de Bigodes (ou Caio Schlosser e Lucas Brandão, se você preferir).

Surpreendendo durante sua apresentação com uma animação incrível e um instrumento inovador e igualmente incrível, a dupla pode ser considerada a maior surpresa do evento que, mesmo tocando um dia depois do planejado, realizou um show repleto de energia e interesse por parte do público que ainda não sabia se prestava mais atenção nos cabelo amarelos do Magro de Bigodes, na viola guitarrística de Billy Brown ou em todo o conjunto do grupo. A entrevista é iniciada pelo próprio integrante do grupo, que resolveu já ir se apresentando por conta própria:

Magro de Bigodes: Nós somos o duo Billy Brown e O Incrível Magro de Bigodes, somos uma banda cuiabana que já tem 5 anos de estrada. Estreamos nossa carreira no Grito Rock de 2010… deixa eu ver o que mais eu sei…

Billy Brown: Eu nem sei tudo isso de cor.

Magro: Ah, nós já lançamos um EP que chama Groove do Malandro que tem 3 músicas, já gravamos um clipe no centro de Cuiabá da música que leva o mesmo nome do disco e nós fomos os responsáveis por uma das criações mais importantes da música cuiabana nos últimos 850 anos: a guitarra de cocho. Protagonizada pelo nosso Billy Brown. Agora é com você maestro!

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TMDQA: De onde você tirou esta ideia de criar seu próprio instrumento?

Billy: Putz! A grande sacada mesmo foi resgatar na nossa cultura elementos para serem inseridos no nosso rock. Lá em Cuiabá temos um estilo musical chamado Cururu e Siriri, que é música e dança e tem um cunho religioso também muito forte (geralmente é tocado em festa de santo, essas coisas).

Acreditamos que foi algo criado desde a colonização, pelos ribeirinhos, pelos índios, que viram provavelmente algum colonizador trazendo um instrumento que provavelmente é o cavaquinho. Aí a galera quis copiar aquilo e saiu a viola de cocho, que é o maior símbolo da cultura mato-grossense. Pensando em trazer esse símbolo para dentro da nossa música, começamos a fazer alguns testes de adaptações até chegar neste resultado que agora chamamos de guitarra de cocho, uma ampliação da viola de cocho, que é essencialmente rítmica (você não consegue lembrar de uma harmonia ou de uma melodia na viola de cocho. Você vai lembrar de algo tipo “shec tupec, shec tupec”). Aí na guitarra de cocho você tem uma ampliação, uma evolução da sonoridade da viola, sendo mais harmônica e mais melódica.

TMDQA: E mais pesada também né?

Magro: Sim! Ela é mais grave do que o contrabaixo e mais aguda do que uma guitarra. Apesar dela ter só quatro cordas, dela não ter traste… Eita olha o carinha da banda Dogman aí! Uhu! Ele canta muito!

Haig Berberian (Dogman): Pô cara, curti demais o som de vocês! Muito massa mesmo. Curti lá a… como é que chama? Viola de Cocho né?! Já tinha visto em documentário isso, o trem é maciço né? Muito doido.

Magro: Sim! Valeu demais. Então, ela é mais grave que o contrabaixo e mais aguda que a guitarra apesar dela ser completamente rudimentar. Ela é completamente rudimentar e a gente que inventou de colocar tecnologia.

TMDQA: Agora tá rolando muito dos caras criarem isso aí, instrumento com caixa de sapato… essas coisas.

Magro: A gente conheceu um carinha da Bahia que faz um tal de “Cigar Box”, que é uma caixa de cigarro que fica parecendo com banjo, com guitarra steel, mas é feito simplesmente de uma caixa de cigarros. Ele viu um vídeo nosso com a guitarra de cocho e depois foi atrás da gente por causa desse vídeo e acabamos trocando uma ideia. Mas esse lance de instrumentos híbridos aí é um lance muito doido. É como pegar um pedaço de pau totalmente rudimentar e conectar com uma linguagem moderna e futurista que é o instrumento, a guitarra por exemplo, coisas elétricas.

Billy: E o mais legal disso tudo é que pra deixar de ser viola e virar a guitarra, precisou colocar o coração da guitarra no instrumento. Que é o que o coração da guitarra Bruninho?!

Brunno Veiga (Overfuzz): É o captador, uai.

Billy: Bate aqui Bruninho, você sabe das coisas. E a partir do momento que a gente colocou o coração da guitarra na viola de cocho ela virou uma guitarra de cocho e com isso vieram várias surpresas. Esse lance dela responder bastante aos graves ajuda a preencher a banda devido ao fato de não termos um baixista na formação.

Magro: Foi uma caixa de surpresas quando isso aqui ficou pronto. A primeira vez que tocamos ela foi no dia que ela ficou pronta, inclusive. Foi na Copa do Mundo em uma feira cultural, num palco gigantesco. Surpreendemos o pessoal do som que é acostumado a microfonar violas de cocho (o que fica horrível) e não acreditaram quando o Billy chegou plugando os fios. Tiramos foto com o governador, saímos na página inicial do G1 nacional… E é isso aí.

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TMDQA: Só mais uma coisa então. O som de vocês parece agradar facilmente um grande público, a animação de vocês é contagiante… de onde vocês tiraram tanto gás e presença de palco assim?

Magro: Eu acho que essa é uma das tônicas do projeto, de toda nossa estética, todo nosso conceito. A gente tenta se aproximar do público. O Incrível Magro de Bigodes é um personagem que tem uma pegada de humor, além de músicos nós somos comunicadores, a gente tenta sempre conversar com o público, trabalhamos alguns clichês bem legais (tipo botar a mão pra cima e bater palmas) e que funcionam para animar um show ao vivo. E acaba que isso vira toda a tônica da parada, nossa conexão com o Billy que é o outro extremo do Magro. Billy tem uma pegada, o Magro tem outra, ele é mais sério e eu sou mais bem humorado, Billy brilha mais musicalmente e eu brilho mais falando…

Billy: Rola um bom equilíbrio aí sobre esse lance com o público e a animação.

Magro: Ter um microfone é muito poder. E tudo isso faz parte da nossa mensagem, acredito que nossa mensagem não seria tão concisa se não tivesse isso. Se a gente só chegasse e tocasse ia faltar coisa. Não tem baixista e não tem solo de guitarra. A gente perde algumas coisas que o rock pede e acaba botando outras.