Resenha: Noel Gallagher's High Flying Birds - "Chasing Yesterday"

Noel Gallagher sai de sua zona de conforto e entrega um sucessor superior ao seu trabalho de estreia.

Resenha: Noel Gallagher's High Flying Birds - "Chasing Yesterday"

Por Giácomo Tasso

Em 2011 Noel Gallagher lançou o primeiro disco solo sob seu novo “nome artístico”: Noel Gallagher’s High Flying Birds. O álbum mostrou aquilo que todos podiam ver, Noel é um ótimo compositor, mas faltavam às músicas aquela “pegada” mais rock que era presente em sua antiga banda Oasis. No fim, o disco homônimo se mostrou mediano, com boas melodias e uma aposta em corais e peças sinfônicas que não empolgou muita gente. O que podíamos esperar então do segundo esforço solo do artista?

Chasing Yesterday chegou aos ouvidos de todos com duas de suas faixas já divulgadas: “In The Heat Of The Moment” e “Ballad Of The Mighty I”. O que os dois primeiros singles mostravam é que o disco teria a mesma direção do álbum de estreia. Felizmente isso não acontece.

“Riverman”, dita por Noel ser sua melhor composição, abre muito bem o disco. Os acordes em seu início parecem nos remeter a uma faixa já muito conhecida da carreira do irmão Gallagher (olá “Wonderwall”!), mas logo toma outro rumo. A faixa tem uma levada setentista e já nos apresenta algo que fez tanta falta em seu primeiro disco: guitarras! Ou melhor, um solo de guitarra. Após o inspirado solo, conseguimos observar a influência da faixa “Pinball” de Brian Protheroe no uso de saxofones de maneira extremamente feliz. Pontos para a faixa de abertura.

Logo em seguida, a já conhecida “In The Heat Of The Moment” começa. Essa por sua vez é o grande deslize do disco. Apesar de sua boa linha melódica, o começo com “na na nas” soa altamente desnecessário. A música provavelmente foi escolhida como primeiro single por ter uma cara mais radiofônica, porém é bem fraca se comparada com o conjunto da obra. E acredite, seu refrão chiclete vai acabar ficando em sua cabeça.

Felizmente, “The Girl With X-Ray Eyes” aparece para subverter a situação. Com uma introdução mais uma vez nos remetendo a um antigo sucesso de sua banda anterior (a faixa “The Masterplan”), Noel parece querer brincar com seus fãs. A música logo se transforma em uma envolvente balada, aquelas que Noel parece conhecer a fórmula para criar, com letras sobre uma possível paixão e mostra como o músico acerta nesse tipo de composição.

“Lock All The Doors” é prato cheio para quem queria algo ao melhor estilo Oasis. A primeira ideia da música data de antes de Definitely Maybe e só agora Noel resolveu terminá-la. Com ecos de “Morning Glory”, a faixa empolga com suas diversas camadas de guitarras e com certeza será muito bem aproveitada em shows. A faixa que segue, “The Dying Of The Light”, entra no grupo de baladas do artista bem ao lado de “If I Had A Gun” e “The Girl With X-Ray Eyes”, mas se mostrando superior a essa última.

“The Right Stuff” chega então para ser o ponto alto do disco. Após tanto tempo jogando na defensiva, Noel resolve arriscar e entrega uma música que difere de tudo que o artista já fez e tem uma pegada mais experimental, com foco maior nos instrumentos e no ótimo uso de metais (olha o saxofone de novo aqui). Dividindo as curtas frases cantadas com Joy Rose entre os solos de guitarra e sax, Noel acerta nesta. Você estará cantando “You and I got the right stuff” antes do fim da faixa sem que perceba.

Para continuar a boa sequência iniciada com “The Right Stuff”, “While The Song Remains The Same” nos apresenta uma letra cheia de nostalgia, falando de memórias e como os arrependimentos atrapalham a vivência do tempo atual. A faixa tem um interessante solo de guitarra e se mantém em um ritmo quase dançante, se mostrando mais um acerto do álbum.

“The Mexican” é a última parte dessa sequência de acertos. Com um ritmo que tem um quê de Queens Of The Stone Age, a faixa esbanja groove e camadas de guitarra e (mais uma vez) saxofones, enfeitada ainda com alguns solos e outros elementos sonoros. Possui ainda uma letra um tanto irônica e um refrão que gruda.

A penúltima música do álbum, “You Know We Can’t Go Back” , tem uma boa melodia, mas fica ofuscada pela sequência que a precede. No geral, é uma boa música que trata de desilusões amorosas em um ritmo agradável e que seria uma ótima trilha sonora para um filme adolescente. Apesar dessa descrição, a música é boa e é mais um exemplo de sing along.

Chasing Yesterday encerra-se com a já conhecida “Ballad Of The Mighty I”. A faixa seria apenas a “AKA…What A Life” desse álbum, não fosse o excelente trabalho de Johnny Marr com as guitarras. A melodia do refrão também gruda na cabeça (talvez a razão de ser segundo single), e com a frase “If I gotta be the man who walks the earth alone” Noel parece afirmar sua fase atual e finaliza o trabalho de maneira positiva.

Após lançar um primeiro disco jogando com o regulamento embaixo do braço e sem sair muito da zona de conforto, Noel Gallagher surpreende em seu segundo trabalho solo. Ainda que tendo pequenos tropeços durante o álbum, o disco mostra um artista que soube aceitar algumas de suas limitações e trabalhar muito bem em cima delas, arriscando um pouco em cada faixa e criando algo bastante inovador (“The Right Stuff”) para sua carreira.

Com maior liberdade (Noel também é produtor do disco) e apostando num som um pouco mais cru, sem tanto uso de orquestras e corais como em seu primeiro disco, o irmão Gallagher supera seu disco de estreia e entrega um trabalho mais coerente, abrindo portas (tomara!) para experimentações futuras.

Nota: 8 / 10