Resenha: Sleater-Kinney - "No Cities To Love"

Trio volta às atividades após uma década com um dos melhores discos do ano.

Sleater-Kinney libera novo disco para audição
Sleater-Kinney libera novo disco para audição

Quando lançou seu primeiro disco em 1995, o trio de meninas Sleater-Kinney foi associado ao punk rock e ao movimento riot grrrl, que se concentrava em Olympia, próxima de Seattle, e encontrava voz em bandas como Bikini Kill e Bratmobile, vizinhas do S-K.

Bastou pouco tempo, porém, para que a banda se destacasse entre as outras com uma sonoridade diferente, mais madura e misturando elementos do punk e do indie com duas guitarras, duas vozes e uma bateria que traziam agressividade e melodia em doses quase perfeitas em discos como Call The Doctor e Dig Me Out, de 1996 e 1997.

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Em 2005, quando já se encontrava muito mais relacionada ao indie rock do que qualquer outro estilo, a banda lançou um disco chamado The Woods, recebeu os elogios da crítica e resolveu entrar em hiato pouco tempo depois.

De lá pra cá, Corin Tucker lançou discos solo, Carrie Brownstein encontrou o sucesso na TV através do seriado Portlandia e a baterista Janet Weiss tocou com bandas como o The Shins.

Logo que anunciou seu retorno, ao final de 2014, a banda tornou-se um dos pontos focais do rock alternativo lá fora e a expectativa pelo primeiro disco em 10 anos crescia a cada dia à medida que músicas inéditas eram disponibilizadas e agradavam público e crítica.

No Cities To Love saiu em 20 de Janeiro, pela lendária gravadora Sub Pop, e cumpriu muito bem o que se espera de uma banda que volta do hiato para lançar o disco: competência.

“Price Tag” abre os trabalhos com a cara do Sleater-Kinney, cheia de guitarras, um riff principal e o clima sombrio/desafiador dos vocais que cantam uma letra sobre o consumismo e a crise financeira dos Estados Unidos.

“Fangless” é mais uma amostra do jogo de guitarras entre Corin e Carrie, seus vocais e a forma bastante característica como a banda consegue, na mesma canção, ser agressiva e suave, como as flores da capa do disco.

Um dos pontos altos do álbum, “Surface Envy” faz mais uma vez bom uso das guitarras e das batidas precisas de Weiss para criar um belo pano de fundo aos vocais gritados que se desenvolvem até um refrão daqueles de ficar na cabeça, assim como o da faixa título, que vem na sequência.

Simples, direta, e com uma letra bastante honesta, “No Cities To Love” é, ao mesmo tempo, uma música característica do trio, e um som que pode chamar gente de fora para o círculo de fãs do grupo, já que tem apelo radiofônico para fazer barulho nas rádios de rock alternativo.

O clima dançante continua com “A New Wave” e se você ainda não começou a chacoalhar a cabeça, mesmo que de leve, com as músicas anteriores, agora vai ser difícil ficar parado. Duas guitarras trabalhando muito bem em paralelo aliadas a uma voz forte e imponente levam o ouvinte a um refrão melódico que traz o que há de melhor nessa banda.

Em “No Anthems”, o Sleater-Kinney volta a duelar suas guitarras e deixaria pessoas como Josh Homme orgulhosas com sua introdução, flertando até mesmo com estilos como o post-hardcore e o math rock, bem como a canção seguinte, “Gimme Love”, que aposta em quebras de ritmo e mais riffs de guitarra.

“Bury Our Friends” é mais uma que divide suas atenções entre os riffs de guitarra do Sleater-Kinney e um refrão dançante e foi uma das primeiras músicas do álbum a serem disponibilizadas, ainda no final do ano passado. Através dela, soubemos que um grande álbum estava prestes a ser lançado.

Em toda sua discografia, o Sleater-Kinney tem pelo menos uma música onde explora mais as melodias suaves e as suas duas vozes femininas para criar belíssimas canções, daquelas de partir o coração.

Aqui, a canção que mais se aproxima disso é “Hey Darling”, mas uma das melhores canções do trio em muito tempo aborda a melodia de um jeito diferente, pra cima, fazendo uma crítica à fama (“Parece para mim que a única coisa que se ganha com a fama é mediocridade”) com uma linha vocal que poderia estar falando sobre qualquer coisa e ainda assim soaria bem demais.

E foi com a curta faixa que o Sleater-Kinney resolveu apresentar a última canção do álbum, a pesada e sombria “Fade”.

A canção é a mais difícil de No Cities To Love, e isso prejudica o fim da audição, ainda mais porque ela, suja, vem depois de uma faixa tão bela quanto “Hey Darling”. Ainda assim é possível ouvir alguns bons trabalhos de guitarra aqui antes que o S-K encerre as atividades de mais um disco.

No Cities To Love é um retorno espetacular de uma banda que sempre optou por inovar e se separar de qualquer tipo de rótulo ao qual tenha sido associada.

Definitivamente é um dos discos que estará na lista de melhores do ano lá em Dezembro, e com muita justiça.

 

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