Resenha e fotos: Jack White em Porto Alegre

Jack White faz grande show na capital gaúcha e prova porque se fala tanto do músico.

Fotos por Mayra Silva

Resenha por Paulo James

Ufa! Por um momento, achei que a minha querida Porto Alegre do Rock ia fazer uma desfeita inaceitável com Jack White, especialmente quando os ingressos começaram a ser vendidos em sites de promoção, e a perspectiva otimista de público falava em 3 mil cabeças. Mas não foi isso o que rolou ontem no Pepsi On Stage: o barraco encheu, e o povo curtiu geral o show do melhor cara da geração pós-2000.

Sim, o melhor cara da geração pós-2000. Já tinha tirado essa conclusão faz tempo, e ontem a tese apenas se comprovou. O princípio da coisa toda é algo que se chama personalidade – artigo raro, pouquíssimo valorizado, pouquíssimo exercitado. A reboque de uma indústria falida, parece que a tônica é copiar e não arriscar, em busca de aceitação e cliques na Rede Social do momento. E o que Jack White faz é exatamente o contrário disso.

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Ok, o magro tá em todas. Não chega a ser um Dave Grohl (que é bem mais pop), mas a assessoria dele é fodaça. Do DVD dos Stones à trilha do 007, do documentário com Jimmy Page e The Edge a dono de selo mega-cool que grava Neil Young numa cabine vintage, o magro tá em todas. Mas tem “contiúdo”, e daí a venda do “produto Jack White” se justifica: primeiro cria, inova, arrisca, e depois vende, como se fazia no século passado.

Aliás, essa conexão com a velha guarda é central no trabalho do Sr.White. A sonoridade, a estética, os instrumentos, a “estileira” do palco, o jeito de gravar, a pesquisa das raízes e por aí vai. A produção pediu, por exemplo, para as pessoas não usarem seus celulares e ficarem conectadas ao show. Uau! Chocante essa pilha de viver o momento, não? 😉 Mas essa é a filosofia, digamos, que move Jack White artisticamente. E, por mais absurdo que pareça, chega a ser revolucionário para os padrões atuais.

Somado a esse tom very-old-school, existe um lance pessoal de inquietação, um clima obscuro, meio sinistro até…É o “Estranho Mundo do Doutor White”, que dá um tempero bem peculiar à sua farta produção musical e lhe garante um raro selo de personalidade.

Não tem espaço para o famigerado “fator drama”, que arrasta multidões nos dias de hoje. Não tem choro da mamãezinha, lamentos melódico-açucarados ou exploração barata do sofrimento alheio. Na hora ruim, apela ao blues, ou, mais ainda, ao barulho e à piração. Não rola cantar junto, com exceção do consagrado riff de “Seven Nation Army”, que fechou o baile e foi entoado a plenos pulmões pela massa.

“Steady, As She Goes” foi saudada pelos presentes, mas não ao ponto de provocar dancinhas e performances duvidosas. O repertório alternou músicas dos White Stripes, Raconteurs e da carreira solo, sob o olhar embasbacado do público. É show pra ver o artista se expressando mesmo, prestar atenção, mastigar e assimilar, curtir e aplaudir.

Produção bem cuidadosa, mas sempre centrada no som e na proposta. Nada de firulas tecnológicas, luz simples – predominantemente azul -, instrumentos dispostos loucamente (bateria e violino à frente, baixo, pedal steel e teclas ao fundo), muito volume nos amps, riffs e mais riffs e espaço para improvisos. Um baaaita show de Rock, conduzido por quem entende muito bem do assunto.

Setlist

  1. Dead Leaves and the Dirty Ground (The White Stripes)
  2. High Ball Stepper
  3. Lazaretto
  4. Hotel Yorba (The White Stripes)
  5. Temporary Ground
  6. Weep Themselves to Sleep
  7. Hello Operator (The White Stripes)
  8. Top Yourself (The Raconteurs)
  9. Steady, As She Goes (The Raconteurs)
  10. Love Interruption
  11. Little Bird (The White Stripes)
  12. Would You Fight for My Love?
  13. Sixteen Saltines
  14. Astro (The White Stripes)
  15. Broken Boy Soldier (The Raconteurs)
    Bis:
  16. I’m Slowly Turning Into You (The White Stripes)
  17. That Black Bat Licorice
  18. Sugar Never Tasted So Good (The White Stripes)
  19. Seven Nation Army (The White Stripes)

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