É interessante saber como nossos cérebros funcionam melhor quando “catalogamos” as coisas antes de termos um real contato com elas. Em uma primeira oportunidade de ouvir o álbum Policy do Will Butler, eu não me importei em saber quem era que estava tocando (ouvi em uma ocasião onde não fui eu o responsável pela trilha sonora). O som da primeira faixa “Take My Side” soou-me uma tentativa de se mostrar desleixado demais, tosco e mal tocado, tudo para poder fazer parte de uma “construção de estilo”, soar indie, soar cool. Em resumo, achei imaturo e realmente não gostei do álbum.
No momento em que me foquei no nome Will Butler visando escrever esta resenha, a coisa mudou. Eu rapidamente cataloguei o álbum como algo derivado da banda Arcade Fire (da qual Will faz parte, atuando como multi instrumentista) e nesse momento, tudo fez sentido. Ou não.
A verdade é que “Take My Side” continua a me incomodar como uma faixa que parece tentar ser algo que Will não é naturalmente. Mas vamos juntando as peças e confirmando alguns pontos de vista. Um bom exemplo disso são as músicas compostas (e que não fazem parte de Policy) inspiradas nas manchetes do jornal The Guardian, como por exemplo a que falava da crise hídrica de São Paulo (noticiamos aqui), mostrando que o compositor “cospe” músicas com facilidade e uma boa parte dessa produção está totalmente ligada ao desleixo.
Sim, “Take My Side” é uma música natural de Will. Ele é sim um compositor desleixado e aparentemente rápido em sua produção. Toda essa atmosfera passa, além do notado em um primeiro olhar, um grande teor de ironia.
Policy tem apenas 8 músicas e é um disco feito para se ouvir assim, rápido, no meio da correria da vida. Sem camadas e camadas de sons que só seriam percebidos em uma audição dedicada, o álbum de Will Butler soa como algo extremamente atual, uma mistura de sonoridades de um passado já distante (como o punk e o gótico) e o jeito desleixado de cantar unido a estruturas bem diferentes de uma música para a outra.
E pra quem passa de “Take My Side”, “Anna” é uma grata surpresa com suas linhas de voz contagiantes, baixo sintetizado e seu sax de motown.
Um dos pontos altos do disco, no entanto, é “Finish What I Started”. Mais concentrada, a música traz uma interessante letra em linhas melódicas muito bem trabalhadas. Um piano sóbrio acompanha a bateria que parece ter sido microfonada na década de 1970.
Em um saldo final, acredito que Will tenha se saído muito bem em seu primeiro trabalho solo. Vamos ver como seus exageros serão regulados em seus próximos lançamentos. É muito importante que essa pluralidade de estilos continue a ser composta e Will já tem nome e sobrenome para ter uma carreira bem interessante fora sua banda principal.
https://youtu.be/OSCGN6AuOm8