Fotos por Marcos Bacon
Foram dois dias com muitos shows, atrações nacionais e internacionais e a grande diferença deste ano para as edições anteriores do Lollapalooza: DJs em grandes palcos, ao invés de apresentações apenas nas tendas.
É assim que o Lollapalooza Brasil, que parece ter firmado no Autódromo de Interlagos sua casa, pode ser visto neste final de Março.
Organização
A organização deste ano do Lollapalooza conseguiu se sair bem de algumas das falhas apontadas por diversas resenhas (inclusive nós mesmos) e que aconteceram no ano passado.
O espaço entre o palco principal (Skol) e o primeiro palco, vindo da entrada principal (este ano, palco Axe) foi ampliado, o que evitou as confusões e filas que vimos neste trajeto no ano passado e os postos para jogar lixo aumentaram consideravelmente. Havia novos e bem localizados pontos de venda de tickets para compra de comida e bebidas (os LollaMangos) e até um maior número de ambulantes que no ano passado.
Mais um ponto positivo para a organização foi a ampliação do espaço para Food Trucks e do Chef Stage, que juntos trouxeram diferentes opções de lanches para quem foi acompanhar o festival de perto. O Chef Stage também ganhou novos estandes, corredores mais largos e garantiu boas comidinhas para os fãs de música.
Entre as falhas, dá para apontar a falta de cerveja nas últimas horas de festival do domingo, o que gerou uma corrida para ver quem achava a bebida primeiro entre os bares e ambulantes. O problema foi parcialmente resolvido no meio das apresentações dos últimos escalados, mas foi percebido por todo o público presente.
Outra mudança percebida que pareceu mais atrapalhar que ajudar, foi o acesso ao festival, a partir da saída da Estação Autódromo, que mudou de sentido. A mudança por um lado facilitou a locomoção das pessoas em uma rua mais aberta, e trouxe uma subida menos dura para quem decidiu ir à pé (a grande maioria das pessoas). Porém, todos os fãs que não teriam acesso pelo portão principal (Lolla Lounge), além dos convidados e imprensa, foram penalizados com uma caminhada ainda maior que a do ano passado para chegar ao portão indicado.
Atrações
(Leia todas as resenhas do Lollapalooza Brasil 2015 clicando aqui)
Apesar de não ter sido percebido como um line-up promissor à primeira vista, os escalados para os dois dias de Lollapalooza agradaram os mais diferentes tipos de público que foram ao Autódromo neste final de Março. As grandes surpresas foram as atrações de música eletrônica e os DJs, que extrapolaram o espaço da tenda e foram aos palcos principais, tanto para encerrar os trabalhos de cada um dos dias (como já havia acontecido em edições anteriores, com o deadmau5 em 2013 e o Disclosure em 2014, por exemplo), como para ser atrações de fim de tarde e início de noite (como foi o caso do DJ Calvin Harris e de Pharrell Williams).
No sábado, logo no início do festival, veio a triste notícia: Marina & The Diamonds teve problemas com seu voo, não compareceu ao Lollapalooza Brasil e causou tanto o remanejamento de atrações no palco em que iria se apresentar, como a comoção de milhares de fãs que pediam reembolso, lamentavam a ausência e se diziam traídos, já que a espera por este show foi para muitos a única razão para ir a São Paulo.
Os Shows Nacionais
As bandas nacionais desta edição do Lollapalooza sofreram, assim como em outras edições do festival, com o amargo sabor do show de “abertura”, no começo da tarde. Com shows marcados para entre 11:50h e 15h, nomes como o Baleia, Bula, Banda do Mar, Boogarins, Scalene, Far From Alaska, Mombojó, O Terno e outros viram seus shows com públicos reduzidos pelo horário e pelas dificuldades já mencionadas para chegar ao Autódromo. Isto porém não fez com que nenhuma dessas atrações tenha feito menos para os fãs que já se amontoavam em suas grades de manhã, mas entregaram a qualidade de seu som e provaram mais uma vez que o nosso rock nacional se mantém vivo e fiel.
Ainda que os sets tenham sido de uma hora de duração, um avanço, é consenso que os destaques desse line-up nacional merece horários melhores.
Entre os destaques, o Far From Alaska mostrou que é um dos mais importantes nomes, senão o mais importante, no underground brasileiro, O Terno de formação nova fez um show bem humorado mesclando as grandes canções de seus dois álbuns e o Boogarins levou suas jams psicodélicas, conhecidas mundo afora em festivais gringos, para São Paulo.
A Banda do Mar, em família, fez um show que deixou claros os talentos de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães.
Marcelo D2 e Pitty, com horários mais competitivos no line-up, fizeram cada qual ao seu modo, grandes shows.
Os Shows Internacionais
Alt-J, St. Vincent, Fitz And The Tantrums, Kasabian, Foster The People, Interpol, Young The Giant. Não importava se a atração internacional estava aqui pela primeira vez ou já havia pisado em solo brasileiro anteriormente, como foi o caso do Foster que inclusive já havia sido atração de outro Lollapalooza, o que importava é que camisetas e bandeiras com seus nomes foram vistos em diversos ambientes do Autódromo, e que as atrações tinham seus públicos específicos a cativar, como você acompanha nas nossas resenhas exclusivas (use os links para acessá-las).
Os DJs da festa também garantiram grandes públicos. Se houve gente que não acreditou que as atrações de música eletrônica poderiam extrapolar o espaço da tenda, houve também grande surpresa quando tanto Skrillex quanto Calvin Harris acumularam superlotações de fãs no palco Onix, o mais distante entre os palcos do festival. A aposta em música eletrônica, que foi vista por muitos como um dos maiores erros da escalação de atrações do Lollapalooza Brasil, pode tanto ter se destacado como um grande acerto como ter dado aos organizadores do festival uma nova mina de ouro: brasileiros gostam de festa, gostam de barulho e gostam de dançar, e tudo isso parecia muito bem encaixado nos corredores do “S de Senna” no último fim de semana.
Entre as atrações principais, os melhores shows ficaram mesmo para o final. Jack White (de quem os fãs brasileiros esperavam também uma palhinha com Robert Plant) finalizou o primeiro dia do festival com clássicos de toda sua carreira.
Já Billy (William?) Corgan e seu Smashing Pumpkins também garantiram um dos shows mais emocionantes da história do Lollapalooza Brasil, com direito a clássicos de uma vida inteira, a velha nostalgia dos anos 90 que fez marmanjos chorarem na frente do palco e canções novas, que o público se esforçou para acompanhar em respeito a um dos grandes nomes de um tempo bom que não volta mais.
Localização
Mais uma vez, o Lollapalooza Brasil foi realizado no Autódromo de Interlagos. O espaço, com diversas opções para abrigar as ações de patrocinadores em um amplo ambiente, se justifica pela gama de possibilidades, mas as grandes distâncias entre um palco e outro e a dificuldade para conseguir acompanhar as atrações favoritas da programação ainda faz com que muitos fãs sintam saudades do Jockey, antiga casa paulista do festival, que também tinha problemas que desagradavam o público (o vazamento de som entre os palcos era o principal deles).
Já tido como a nova e definitiva casa do evento, o Autódromo ainda vai fazer muitas pessoas reclamarem das mais diversas dores, ainda que tenha sido melhor ocupado em 2015 do que no ano passado.
Transporte
Ao contrário do que aconteceu no primeiro dia de Lollapalooza do ano passado, a falta de transporte para a volta para casa pareceu uma preocupação bem menos latente entre os fãs que saíam do festival após os shows de Jack White, Major Lazer e Bastille.
Houve relatos de fãs que não conseguiram chegar à Estação Autódromo a tempo, mas puderam utilizar ônibus que estavam aguardando a saída do público nas ruas paralelas ao Autódromo ou, para aqueles que iriam percorrer distâncias menores, os táxis que também se acumulavam na região. A saída do local também pareceu mais organizada do que no ano anterior, tanto para o sábado, com o horário estendido para o transporte coletivo, como no domingo, em que tudo fechou uma hora mais cedo.
Saldo
O Lollapalooza Brasil tem um curto histórico no Brasil, tendo começado em 2012, mas conquistou seu lugar no calendário brasileiro e em 2015 parece ter se consolidado de vez.
Seja pelo público de 136 mil pessoas nos dois dias de festival (de 140 mil possíveis) ou a transmissão por TV e Internet que mobilizou muita gente, o Lolla é ovacionado, elogiado, criticado, mas nunca ignorado. Tornou-se um evento dos mais falados.
Musicalmente, esse ano mostrou que a música eletrônica está muito à frente da orgânica quando o assunto é público.
O que se viu foram massas gigantescas para os shows de produtores como Calvin Harris e Skrillex e números grandes, mas não tanto, para as atrações ligadas ao rock.
Falando de rock, especificamente, quem representou o estilo na sua forma mais pura foram nomes como Jack White, Robert Plant, Kasabian e The Smashing Pumpkins, além dos brasileiros Far From Alaska, Scalene, O Terno e Pitty.
Boa parte das outras atrações, principalmente as internacionais, era baseada em sonoridades muito mais voltadas ao pop, reflexo de que o estilo com as guitarras distorcidas de volume lá em cima não está sendo prestigiado, e não é só no Lolla, mas em escalações mundo afora.
https://www.youtube.com/watch?v=j0kh67Z0qQc