Se você foi um technohead nos anos 90 certamente era fã de artistas como Orbital, Altern 8, Chemical Brothers e do polêmico The Prodigy.
A gangue formada pelo DJ/produtor Liam Howlett é sobrevivente da época de ouro das raves e passou das batidas ácidas e lisérgicas para um abuso sonoro sem maiores precedentes. The Fat of The Land, de 1997, era um protesto sonoro que mesclava techno, breakbeat, hip hop, punk e teve faixas e vídeos censurados em diversos países. Era o statement necessário para enterrar as viúvas do grunge e trazer para o mundo a música eletrônica.
Anos passaram e dois álbuns depois, Always Outnumbered, Never Outgunned (2004) e Invaders Must Die (2009), a trupe ainda bate na tecla da violência e destruição em suas composições. Como se os inovadores de décadas atrás tivessem se repetido mais uma vez para manter seu séquito de fãs seguros. Tiveram os flertes com a new rave, electro maximal, industrial e até um revival de sua primeira fase durante seus últimos lançamentos.
O novíssimo The Day is My Enemy (lançado pelo selo Take Me To The Hospital) tem título inspirado em “All Through the Night” de Cole Porter. Belo clássico em que consta o trecho – “the day is my enemy, the night my friend”.
O trio declarou em entrevistas que seu novo trabalho seria o mais agressivo de sua carreira. Se você escuta isso de uma banda de crust ou death metal, soa redundante, mas vindo dos rapazes de Essex, uma boa curiosidade pairava no ar. E temos que frisar a campanha feita antes do lançamento oficial com diversos clipes e teasers animados que nos deixaram um tanto entusiasmados em algo que nos salvasse da onda EDM atual.
Ao longo de 14 músicas temos bons destaques e alguns que poderiam ficar de fora. “The Day is My Enemy” tem algo da clássica “Poison” (de Jilted Generation) unindo vocal feminino e gritos de Maxim Reality. “Nasty” é um drum n bass punky que certamente vai fazer a alegria dos DJs de bass music quando saírem seus remixes para a pista. “Rebel Radio” já não era uma novidade, a track já era executada em seus shows, e poderia figurar em algum álbum anterior deles.
“Ibiza” é um manifesto contra os “chacoteiros” que tocam sets prontos em pendrives e ficam como paspalhos acenando para o povo na cabine. Cena comum tanto na ilha da diversão como em alguns clubes por aqui. As guitarras lembram “I Want It All “ do Trans AM e contam com participação da dupla Sleaford Mods se alternando com o performático Keith Flint. Um petardo.
“Destroy” é de longe a mais empolgante, e também fazia parte do set ao vivo do grupo, um batidão bem feito, enquanto “Wild Frontier” chega quebrada e com ecos nostálgicos. Caso em que o clipe disponível na rede é mais legal que a música em si.
“Roadblox” parece feita para alguma trilha de jogo de corrida ou para mais um episódio de “Velozes e Furiosos”.
“Rhythm Bomb” tem parceria com o produtor de dubstep Flux Pavilion e conta com um refrão repetitivo digno de uma lavagem cerebral. Espere aquele seu amigo frito ouvir e ficar te enchendo o saco ao cantar sem parar.
“Wall of Death” é um Heavy Metal sintetizado poderoso e deixa a dúvida se todo esse excesso de testosterona seria um reflexo da crise de meia idade.
O grupo trouxe um legado importante ao dinamitar a muralha que separava rockers e ravers, porém, nos dias de hoje será que eles soam tão urgentes ao novo público que consome música tão rápido como um sanduíche gourmet de food truck?
Anos se passaram e indiscutivelmente o Prodigy tem seu lugar no Olimpo de artistas que se arriscaram em prol da arte, mas agora o mais importante na banda é o peso de suas ótimas apresentações ao vivo.
Não é o melhor de sua carreira, de fato. Mas isso não tira o mérito de quem eles são; heróis de um estilo musical que estão lutando contra o tempo e modismos.
Tracklist:
1. “The Day Is My Enemy”
2. “Nasty”
3. “Rebel Radio”
4. “Ibiza” (featuring Sleaford Mods)
5. “Destroy”
7. “Rok-Weiler”
8. “Beyond the Deat
9. “Rhythm Bomb” (featuring Flux Pavilion)
10. “Roadblox”
11. “Get Your Fight On”
12. “Medicine”
13. “Invisible Sun”
14. “Wall of Death”