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Resenha: Belle & Sebastian - Girls In Peacetime Want to Dance

Mais dançante, <em>Girls...</em> é o nono disco de estúdio da banda escocesa

Resenha: Belle & Sebastian - Girls In Pecetime Want to Dance

Um ano após seu filme de estreia “God Help The Girl” ter levado o prêmio de Melhor Elenco no Festival de Sundance, o líder do Belle & Sebastian, Stuart Murdoch, lançou (em Janeiro de 2015) o nono álbum de estúdio da banda, com uma aposta um pouco mais dançante do que o costume.

Girls In Peacetime Want To Dance carrega traços do filme, se pensado do ponto de vista de uma delicadeza feminina que cada um tem: o longa é inspirado em um projeto de Murdoch que reuniu garotas em uma banda com composições sobre o dia a dia delas; e o disco traz já no título parte da diversão desse cotidiano. A capa do álbum contém ironicamente um pouco disso, incluindo a curiosidade de ser diferente das anteriores por não fazer referência às capas dos discos do The Smiths.

Resenha: Belle & Sebastian - Girls In Pecetime Want to Dance

O novo trabalho surge após cinco anos do último disco, Write About Love (2010) e sete anos após o vocalista ter sido diagnosticado com Síndrome de Fadiga Crônica. Motivo que explica a distância entre um e outro. Produzido por Ben H. Allen III, que já foi parceiro do Animal Collective, Washed Out e Gnarls Barkley, o disco tem 12 e faixas e conta com algumas músicas escritas por Stuart em parceria com outros integrantes da banda e uma com Dee Dee Penny, integrante do Dum Dum Girls.

Apesar de um disco bom, Girls… não atinge a excelência de outros tempos por conta de repetir uma fórmula que tem funcionado para a banda até hoje. A cada novo trabalho é possível ver a inserção de novos contornos musicais, sejam retoques com instrumentos novos ou, como nesse caso, sintetizadores mais visíveis. O que parece uma tentativa de trazer as músicas novas da banda às pistas alternativas ao redor do mundo como fizeram um dia com “Another Sunny Day” e “Expectations”, por exemplo. Algo que o Arcade Fire tem feito atualmente com excelência.

Abrindo com “Nobody’s Empire”, Stuart expõe aqui uma de suas composições mais pessoais. Ele fala sobre a solidão provocada a partir de sua doença, algo que deve ser considerado devido à reputação da banda em se auto afirmar com letras intelectuais, cheias de referências e sensibilidade. Em “Allie”, o septeto traz uma ótima composição sobre medos e truques que nos damos o tempo todo, além de transportá-los para temas políticos como o Oriente Médio.

“The Party Line” foi lançada como primeiro single do disco e traz boa parte do que a banda quis transparecer na obra: ser dançante. A canção poderia ser algo corriqueiro na discografia do Belle & Sebastian, não fossem os contornos sintéticos. O videoclipe se traduz em uma pista de dança e pessoas muito bem coreografadas.

“The Power Of Three” é a música que mais lembra o que o Arcade Fire fez em seu último trabalho, The Reflektor. Linha de sintetizadores exemplares, com um leve toque cafona oitentista. Embora o Arcade Fire seja a banda que mais tenha acertado no cenário indie, é difícil não comparar Girls… com Reflektor. O primeiro parece uma tentativa mal executada do segundo, que é excepcional.

Murdoch disse em uma entrevista que o disco beberia em influências como ABBA, Pet Shop Boys e Cindy Lauper, além da competição de música mais famosa da europa, o Eurovision. Competição essa que o ABBA venceu em 1974. “E essa foi realmente a última grande música do Eurovision”, afirmou Stuart. O que pode ser concluído disso é que algumas dessas intenções sequer aparecem no álbum.

Merece destaque “The Everlasting Muse” pela sonoridade brincalhona, como se uma grande festa estivesse acontecendo e arrancando a cantoria de todos. E é aqui, de acordo com Murdoch, que Eve, a protagonista de “God Help The Girl”, tem seu fim na obra do Belle & Sebastian. “The Cat With The Cream” e “Ever Had A Little Faith?” poderiam se encaixar nos álbuns iniciais da banda. São mais paradas, com retoques de euforia contida.

O ouvinte percebe que a banda arriscou mais na inserção de música eletrônica em “Enter Sylvia Plath”, um tiro no pé. A trinca que fecha o trabalho retoma um pouco a banda que conhecemos. “Play For Today” baixa o tom numa vocalização mais murdochiana; “The Book Of You” é a única que Stuart não canta a primeira voz e da espaço para Sarah Martin, a violinista do grupo; e “Today” fecha o disco com uma balada melancólica e arrastada.

O Belle and Sebastian não tem mostrado nada novo e impressionante há três discos, desde Dear Catastrophe Waitress (2003), embora não tenha também feito discos ruins. Girls… também está longe de ser ruim e merece pontos pela tentativa de sair da caixa, atitude respeitosa para uma banda que está há quase vinte anos na estrada.