Resenha: Martin - Quando Um Não Quer

Martin chega com boas composições em seu primeiro trabalho solo.

Por Giácomo Tasso

Martin já é conhecido pelos seus trabalhos com Pitty, seja na própria banda desde 2004 ou no Agridoce, projeto paralelo com a cantora. A expectativa em cima de um trabalho solo do músico é alta, tendo em vista a a relevância do histórico já citado. Quando um Não Quer saiu do forno no dia 10 de Março em formato digital apenas, lançado pela Deckdisc.

Ao apertar o play pela primeira vez, conhecemos a abertura “Linda” e seu climão balada/folk. A faixa já agrada com seus belos arranjos de violão em sua introdução e, apesar de não ter uma complexidade em sua letra, nos deixa curiosos com o que virá a seguir. “Outra História” dá continuidade ao trabalho já mostrando que o disco não será inteiro em uma pegada mais acústica. A música tem um certo ar mais pop, que só realmente se destaca pelo solo de guitarra e os competentes vocais de Martin.

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Aqui temos então a primeira participação especial do álbum: Leo Cavalcanti. O músico aparece em “Algum Lugar”, faixa com uma linha de baixo cheia de ginga, diferenciando-se por completo das músicas passadas. A música empolga em seu final cheio de solos de guitarra e mudança em seu tempo. Em “O Fim”, Martin mostra mais uma vez uma enorme qualidade em seu vocal simples, embalando a canção em meio à sua letra sobre despedida e saudade enquanto os arranjos da banda nos levam por uma quase balada com um excelente encerramento. A mais imponente faixa até então, que nos prepara pra o que há de melhor em Quando Um Não Quer.

“Mesmo” foi lançada antes do disco como um single, contando com a participação de Pitty e Lira. A bela faixa tem vocais que chegam a lembrar Arnaldo Baptista cantando, o eterno Mutante, em meio a viagens que citam até John Frusciante, alternando o refrão com a voz doce e suave de Pitty. Isso tudo sem contar todo o andamento da canção, que realmente nos leva a um clima mais onírico enquanto acompanhamos a letra meio maluca. Temos aqui um dos pontos altos do disco, evidenciado pela capacidade de Martin nos ambientar em um clima específico da canção enquanto somos hipnotizados pelo o que é cantado.

Logo em seguida, mais uma faixa já divulgada antes do disco: “Coisas Boas”. As letras ficam por conta de Fábio Cascadura e Ricardo Alves, única canção do disco em que Martin não foi compositor. O músico e produtor Chuck Hipolitho é quem faz a participação aqui, levando os vocais da faixa que tem jeito mais pop e é capaz de grudar em nossas cabeças. Fabio Cascadura volta a participar do disco em “Sun”, mas desta vez cantando a faixa que tem riffs e clima mais pesados, em comparação ao que ouvimos do trabalho antes. Não tão empolgante quanto parece.

Empolgante sim é “Caos”, com sua ótima introdução e vocais de Jajá Cardoso (Vivendo do Ócio), a faixa também tem um clima diferente do resto do álbum, sendo um tanto mais urgente e logo em seguida dando espaço para uma série de solos que encerram de maneira espetacular a canção. Fica aqui um gosto de “quero mais” no que diz respeito ao estilo da faixa, que poderia aparecer mais em outros momentos.

Quando um Não Quer chega ao fim com a instrumental “Rotina”, onde somos mais uma vez apresentados a um estilo mais folk e bucólico, apesar do contraste com o título da faixa, indo ao encontro de “Linda”, peça de abertura do disco.

Quando Um Não Quer prova que Martin é mais do que competente como compositor, músico em cantor. Porém fica aqui um gosto de que presenciamos uma espécie de “cartão de visitas” ou portfólio do músico, onde cada faixa tenta demais ser completamente diferente das outras. Somos apresentados a excelentes músicas (“Linda”, “O Fim”, “Mesmo” e “Caos”) e, mesmo executadas com bastante técnica, presenciamos outras faixas não tão memoráveis como os exemplos citados anteriormente.

O saldo geral é positivo devido ao talento inegável de Martin em construir melodias e arranjos dos mais diversos. Somos deixados então na expectativa de mais um trabalho do músico, talvez sem uma cara de “greatest hits” mas sim com uma única linha motriz, e na certeza de que iremos nos deparar com músicas boas, porque isso já vimos aqui que o músico sabe fazer.

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