Jeff Rosenstock é a voz de uma geração. Talvez seja até mesmo da sua, mas você nem sabe disso, e a culpa é do músico.
Com sua base em Nova York, o cara teve seu nome revelado no underground pela primeira vez quando tocou na banda de ska/punk The Arrogant Sons Of Bitches, conhecida por suas performances ao vivo cheias de energia e que acabou quando começou a chamar a atenção.
Em 2004, com o fim iminente do ASOB, Rosenstock fundou o projeto Bomb The Music Industry!, onde gravava boa parte dos instrumentais de todas as canções, além dos vocais, e músicos amigos eram convidados para participações em estúdio e nas apresentações ao vivo.
Extremamente produtivo, Jeff lançou 14 títulos entre discos, EPs e splits, entre 2005 e 2011, mas parecia fazer questão de que o som não alcançasse grandes plateias, já que há rumores de que teria recusado contratos, mesmo com gravadoras independentes; a ideia sempre foi disponibilizar sua música gratuitamente no site da Quote Unquote, gravadora que fundou para lançar seus trabalhos e de bandas amigas.
Com o fim do BTMI! em 2014, Jeff Rosenstock apareceu com seu segundo disco solo, We Cool?, em 2015, e parece ter mudado de ideia sobre o alcance de seus lançamentos, já que o disco saiu via SideOneDummy.
A gravadora está longe de ser uma gigante do mercado mas tem nome respeitado e consolidado no underground, tendo lançado bandas como The Gaslight Anthem, Gogol Bordello, Anti-Flag, Flogging Molly e Title Fight.
Não à toa, Rosenstock entrou pela primeira vez nas paradas da Billboard com posições respeitáveis: sétimo na parada de “nomes quentes”, 31º de álbuns independentes e 43º nos álbuns de Rock.
We Cool? abre com “Get Old Forever” e um resumo do que Jeff faz, e muito bem, na carreira: conta histórias sobre como seus amigos estão trabalhando, comprando casas e sendo adultos enquanto você está bebendo em um show na casa de alguém.
Tudo isso vem através de voz e violão que evoluem para guitarras distorcidas, berros, sintetizadores e uma sonoridade muito parecida com o que Jeff gravou em sua carreira no Bomb The Music Industry!
“You, In Weird Cities”, emendada na primeira faixa, também não poderia ser de outro artista e traz uma frase daquelas que são responsáveis por muitos novos fãs que se identificam com a vida do cara: “Estou sempre ficando chapado quando ninguém está por perto / porque nada me faz sentir que alguma coisa valha a pena.”
Aqui, ele volta a falar sobre como se sente em relação aos seus amigos, e traça um paralelo entre os discos e as pessoas (“When I’m listening to your records it’s like I’m hanging out with you”), sempre cantando de uma forma muito pessoal, como se você estivesse pensando e falando o que ele entoa. Ao final da canção, um emaranhado de guitarras deixa qualquer fã de Weezer feliz da vida.
Intencionalmente ou não, a terceira canção é “Novelty Sweater”, que também agrada fãs de rock alternativo com sua introdução sombria antes de cair na boa e velha fórmula de um refrão cheio de melodia, de ficar na cabeça, antes de teclados e um fim que se não te lembrar de Pinkerton, nada mais fará.
“Nausea” é uma daquelas faixas que mostra como a música é democrática e você nem precisa ser afinado para cantar uma grande canção.
Mais uma vez, Jeff fala de forma irônica sobre sua vida com “Sentado em uma banheira no Sul de Wisconsin / Me sinto ótimo por alternar os canais entre pornô e Robocop” e constrói um refrão extremamente pessoal e no formato propício para que seja cantado com os amigos. Referências aos anos 90 e 2000, que falam com quem cresceu ouvindo Green Day e bandas de punk rock californianas estão aí, como a frase em que Jeff diz tomar um vinho e ler o zine Cometbus.
“Beers Again Alone” começa como uma balada e já traz o tema central do álbum em seu nome. Mais uma vez se auto depreciando e dizendo que “você fica melhor, fica bem, quando estou sozinho.” Assim como em outras canções baseadas no violão da carreira, Jeff traz outros elementos e guitarras para que a música tome proporções maiores.
As coisas ficam mais sérias em “I’m Serious, I’m Sorry”, tanto musicalmente quanto em como Jeff aborda relações pessoais e tragédias, antes de voltarem a ficar divertidas com “Hey Allison!”
Com uma introdução que grita o nome do Alkaline Trio, a festa está montada com uma música rápida e de refrão fácil.
“Polar Bear of Africa” volta a contemplar o amor de Rosenstock pelo Weezer através de guitarras características e na forma de canção mais comprida do álbum, é uma das que menos empolga, enquanto “Hall of Fame” volta a falar do excesso de bebidas, com o protagonista sempre sozinho, alternando instrumental pesado com refrão pegajoso.
“All Blissed Out” ganha o posto de canção experimental do disco: tem 3 minutos e 33 segundos, uma letra curtíssima, e ambientação a partir através dos mais diferentes elementos do cotidiano, incluindo o produtor do álbum, Jack Shirley, sussurrando barulhos sombrios e preparando o clima para a próxima faixa, “The Lows”.
Depois de sair da escuridão, Jeff volta a falar sobre os problemas da vida adulta em outra música com a sua cara e nesse ponto a repetição do formato pode incomodar um pouco, mas o disco está chegando ao fim.
E ele vem com “Darkness Records”, voz e violão cheios de graça que se transformam (mais uma vez) em um festival de guitarras, efeitos, sintetizadores e harmonias.
Depois de um último disco pelo Bomb The Music Industry! que apontava em uma direção voltada ao indie e rock alternativo, o músico responsável pelo projeto lança o segundo disco solo (o primeiro de forma mais “séria”) e mostra suas marcas registradas.
Em um disco muito competente que peca em alguns momentos pela repetição da fórmula, Jeff Rosenstock deixa claro que ainda continua com milhares de ideias na cabeça e tem necessidade de registrá-las, para nossa sorte.
Se você está perto dos seus 30 anos, cresceu ouvindo punk rock e rock alternativo e começou com tudo isso por conta de bandas como Green Day e Weezer, Jeff Rosenstock pode ser a voz da sua geração. Talvez tenha chegado a hora de descobrir.