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Resenha: Blur - The Magic Whip

Em seu novo disco, o grupo britânico demonstra maturidade e variedade de estilos.

Resenha: Blur - The Magic Whip

Apesar do hiato, os últimos 12 anos não passaram em branco para os membros do Blur. Desde o lançamento de Think Tank, Graham Coxon (que só gravou uma das faixas do álbum) soltou a mão em discos solo, enquanto o frontman Damon Albarn alcançou sucesso mundial imenso através do Gorillaz e até mesmo o próprio Blur soltou dois singles desde o seu retorno aos palcos em 2009. Porém, como Albarn havia dito, as chances de um novo álbum eram pequenas.

A banda até tinha conseguido gravar algumas coisas — após uma turnê pelo Japão ser cancelada, os quatro integrantes ficaram “presos” em Hong Kong e decidiram entrar em estúdio. Infelizmente, o material havia sido engavetado pois Albarn não tinha escrito as letras e sentia que a oportunidade havia “passado”. Acontece que após Coxon trabalhar um pouco mais nas faixas com o produtor Stephen Street, o vocalista resolveu retornar à China para recuperar a inspiração e finalmente terminar o novo álbum de estúdio do grupo, The Magic Whip.

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O disco começa com um som familiar em “Lonesome Street”, canção animada que lembra muito alguns dos sucessos da banda. A letra escrita por Albarn e Coxon é bem detalhista e específica, traço que continua na próxima faixa, “New World Towers”. A melodia da música mostra a primeira tentativa do Blur de “variar” o seu estilo dentro desse trabalho, misturando (muito bem) sons que lembram vários projetos diferentes dos artistas da banda. Os vocais de Albarn também estão muito afiados: o tom melancólico da voz do cantor se destaca não só nessa, mas em muitas outras canções — continuando a tendência de seu último disco solo, Everyday Robots. Só é um pouco curiosa a colocação dessa faixa no álbum, quebrando o ritmo entre dois sons mais animados e rápidos.

“Go Out”, primeiro single de Magic Whip, é provavelmente a faixa mais “suja” do disco. A banda abraça as guitarras distorcidas em uma letra um pouco desinteressante (porém muito grude). Já os sintetizadores no começo de “Ice Cream Man” — que lembram e muito alguns sons de outros trabalhos de Damon — marcam mais um momento positivo no álbum, com Albarn cantando de maneira sombria sobre o totalitarismo na China, disfarçando inicialmente a história como algo inocente (um vendedor de sorvetes), e, à medida que a melodia avança, o teor sinistro da letra vai se revelando.

Terminando a primeira metade do disco, “Thought I Was a Spaceman” apresenta letras interessantes, porém a instrumentalização da faixa pode soar muito exagerada em alguns pontos, lembrando e muito algumas faixas do álbum The Fall, do Gorillaz. Seguindo com “I Broadcast”, Blur volta a mostrar elementos de seus álbuns menos “experimentais”, com uma levada rápida e uma letra animada sobre os dias que passaram em Hong Kong.

Assim que “My Terracotta Heart” começa a tocar, já se percebe que o ritmo do álbum novamente foi cortado — e por um ótimo motivo. A música é incrivelmente emocional, e o tom melancólico de Albarn ao cantar sobre seu relacionamento com Coxon, que havia saído da banda durante as gravações de Think Tank em 2002 e só voltou a conversar com Damon em 2009, faz a canção ser uma das melhores no álbum. Infelizmente, “There Are Too Many of Us” não acompanha a genialidade da faixa anterior, mas serve como um bom prelúdio para o último bloco de músicas do trabalho.

“Ghost Ship” soa como uma canção de veraneio, relaxante. O baixo marcante e os riffs de guitarra aliados a versos calmos que contam sobre uma viagem pelos pontos turísticos da China transformam a música em um som bem agradável. Aliás, “Ghost Ship” é provavelmente o título de faixa mais enganador dos últimos tempos. Ao contrário do que o nome indica, a faixa passa mais um clima de cruzeiro caribenho do que um navio fantasma, pra ser sincero. Já “Pyongyang” é mais um ponto alto no lirismo de Damon Albarn, e os pequenos efeitos usados para incrementar a faixa dão um belo toque.

“Ong Ong” e seu coral de ‘Lalalala’ é a maior candidata a ser a “faixa-grude” do trabalho — mas isso não é necessariamente ruim. A letra bonitinha e o ritmo dançante mesclam bem e marca o fim das músicas agitadas do disco, que termina com a interessante “Mirrorball”. De algum modo, a faixa parece não encaixar bem como encerramento do disco, apesar de contar com arranjos variados e uma história envolvendo “finalidade”.

No final das contas, The Magic Whip é um retorno de respeito para uma banda tão marcante. Ao começar sua carreira, o grupo se destacou como um dos maiores nomes do Britpop e acabou criando uma rivalidade com outra grande banda de rock — Oasis. Porém, ao contrário dos irmãos Gallagher, o Blur nunca teve medo de explorar novas áreas e se renovar constantemente.

O novo trabalho do grupo é mais um passo nessa direção, e ao mesmo tempo em que o disco pode demonstrar-se melancólico e muito calmo em alguns pontos, os hits mais agitados asseguram os fãs de que a banda não esqueceu totalmente o seu lado mais “jovem”. O disco pode nem sempre acertar a mão, mas ainda assim é uma ótima coletânea de músicas e, felizmente, não passa a impressão de que esse seja o capítulo final na história do grupo. Será que é muito ruim torcer para que a banda fique presa em alguma cidade mais vezes?

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