Resenha: Mumford & Sons - Wilder Mind

Banda deixa o folk de lado e começa a navegar por novos mares em disco voltado ao rock alternativo.

Resenha: Mumford & Sons - Wilder Mind

Se tem um nome que será repetido à exaustão em 2015 e, muito provavelmente, você vai ler e ouvir diversas vezes, é o do Mumford & Sons.

Goste ou não, o grupo britânico resolveu mudar drasticamente a sua aparência e sonoridade, deixando o folk, o banjo e os suspensórios pra trás, e adotando guitarras, baterias, sintetizadores e roupas descoladas.

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Se foi pelo desejo de expandir a arte ou por “oportunidade de mercado”, nunca saberemos, mas é difícil imaginar que a banda se perpetuasse fazendo o folk/americana que mostrou em seus dois primeiros discos por muito mais tempo. Chamado por muitos de “new folk”, o estilo já mostra sinais de que está perdendo a popularidade que teve no início dos anos 2010, invadindo o mainstream e tendo no M&S uma de suas maiores forças.

Wilder Mind é o nome do terceiro disco de estúdio do grupo que após turnê para divulgar seu último álbum, já havia declarado que se afastaria por um tempo, causando pavor entre os fãs. A verdade é que a fórmula, que funcionou tão bem, estava desgastada e a própria banda sentiu a necessidade de mudança. Ao invés de parar, resolveu apostar em uma nova sonoridade.

Para tanto, o Mumford & Sons deixou o aspecto acústico de sua discografia pra lá e pegou as guitarras. Fez uso também de baterias orgânicas, sintetizadores e recrutou gente de primeira para que a viagem por novos mares não se tornasse turbulenta. Quem produziu o álbum, por exemplo, foi James Ford, que tem em seu currículo trabalhos com Arctic Monkeys, Klaxons, Florence And The Machine, Birdy e mais.

Outro nome importantíssimo envolvido no álbum é o de Aaron Dessner (The National), que contribuiu com teclados e foi uma espécie de “mentor” da banda durante o processo de transformar folk em rock alternativo e criar ambientes.

A influência dele é percebida nas camadas presentes nas canções e também em títulos de músicas como “Ditmas”, região de Nova York que serve como base para Dessner e outros membros do The National e que viu nascer as demos de Wilder Mind.

Saindo do Brooklyn e indo a Manhattan, outra referência à cidade de Nova York é feita na faixa de abertura do trabalho, “Tompkins Square Park”, que já prepara o ouvinte para o que vem por aí: músicas calmas que explodem com o refrão e a voz característica de Marcus Mumford, uma fórmula bastante utilizada durante o álbum e também em trabalhos anteriores do grupo, só que antes com um violão e um banjo, e agora com guitarras e baterias bem marcadas.

“Believe” aparece emendada na primeira canção e não à toa foi lançada como primeiro single do disco. Com potencial de hit radiofônico, o som foi um dos que mais atraiu críticas por soar como uma cópia de bandas que já estão por aí, como o Coldplay.

Enquanto é justo dizer que a música realmente se parece com as canções de Chris Martin e companhia, é também necessário ressaltar que apesar de ter abandonado as suas origens, a banda ainda traz uma identidade a cada uma das faixas do novo álbum, e aqui é também o caso. A voz de Mumford é um dos elementos que fazem com que “Believe” tenha a cara do grupo, e a crítica na minha opinião fica, sinceramente, para a simplicidade de sua letra.

“The Wolf”, outro single, lembra um pouco mais os dois primeiros álbuns do grupo por deixar de lado o ambiente mais sombrio e se apresentar como uma canção muito mais pra cima e voltada ao pop/rock do que o início do álbum, o que também acontece com “Just Smoke”.

Quando ouvimos o disco pela primeira vez a convite da gravadora aqui no Brasil, ao lado de fãs e colegas de imprensa, essa foi a música mais celebrada, e não é à toa, já que ela representa de forma mais natural a forma como as primeiras músicas da carreira do grupo soariam quando plugadas.

“Monster” segue por uma batida marcante e talvez seja a música menos inspirada do disco, enquanto “Snake Eyes” aposta novamente na fórmula de criar um clima intimista para explodir com um refrão. À essa altura do disco, a repetição dos mesmos modelos e métodos cansa um pouco, e esse é um ponto negativo de Wilder Mind. Há material que poderia ter sido deixado de lado e lançado como lado B, por exemplo, para não encher o disco com sons tão parecidos.

“Broad-Shouldered Beasts” se difere pelos vocais berrados de Marcus em sua maior parte, arranjos de cordas e volta a empolgar, antes do disco pisar no freio novamente com “Cold Arms”.

“Ditmas” empolga mesmo ao falar de uma separação e volta a evidenciar um aspecto digno de crítica: as letras do álbum. Com frases como “Então eu choro / e te seguro pela última vez”, Marcus não conta histórias como fizeram nomes como Bruce Springsteen, outro verdadeiro marco da região de Nova York que serve como referência em certos pontos do disco. Ao invés disso, as repetições são usadas frequentemente como em músicas pop.

Ao final, “Only Love” e “Hot Gates” chegam aos 48 minutos de álbum como mais repetições da estrutura utilizada tantas outras vezes até então, e fecham a primeira aventura do Mumford & Sons fora do campo.

É muito provável que você ouça os mais diversos adjetivos a respeito de Wilder Mind, novo disco do Mumford & Sons. Vão falar muito bem, muito mal, dizer que é “legalzinho” ou que é indiferente. Discos assim geram as mais diversas reações, e não à toa as notas em relação ao trabalho têm variado de 2 a 10.

Ao final de tudo, o disco se mostra como um cartão de visitas para a nova fase do grupo, que como todo começo, traz uma série de erros, mas também acertos que podem ser transformados em qualidades marcantes de futuros lançamentos. Só o tempo dirá.

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