Sexta Feira – 15/05 – Palcos Pyguá e Yguá (Centro Cultural Oscar Niemeyer)
Para iniciar a maratona musical do final de semana (que foi realmente multicultural reunindo vários públicos diferentes e gêneros que viajaram do metal ao funk) a animação do prolífico rock goiano foi quem esteve presente desde os primeiros minutos. Para dar o pontapé inicial às apresentações do final de semana, a banda goiana Bang Bang Babies atraiu para frente do palco uma boa parte do ainda tímido público presente no início da noite com riffs empolgantes e um rock bem direto, mesmo disputando parte da atenção do público com a grande quantidade de opções culturais disponíveis no local.
O primeiro grande destaque da noite ficou por conta da banda Scalene, que já é bem conhecida no cenário alternativo há um bom tempo, mas recentemente começou a ganhar uma maior notoriedade no mainstream. É perceptível o entrosamento de toda a banda em cima do palco e a participação do público cantando em coro também impressiona, com euforia até mesmo durante faixas mais recentes como “Sublimação”, além de sucessos já consolidados como “Silêncio”, “Surreal” e “Danse Macabre”.
Com a imersão dos integrantes em sua própria música é fácil perceber que realmente gostam do que estão produzindo e, por esta razão, fazem isso muito bem. A mistura do peso dos instrumentos em contraste com o vocal forte e melódico de Gustavo é também digna de observação, pela intensidade que faz permear o som da banda. Scalene é, com certeza, uma aposta para grande destaque e reconhecimento nos próximos tempos.
A noite continuou com o paraense Jaloo que, como comentou o produtor musical Miranda (“mestre de cerimônias” do evento), fez no Bananada a estreia de sua apresentação com o acompanhamento de uma banda, formato novo em seu trabalho, animando o festival com uma versatilidade musical mesclada a batidas brasileiras. Foi perceptível um certo desconforto da própria banda com o formato que estava sendo trabalhado na apresentação, mas nada que não fosse superado após algumas faixas.
Em seguida veio o segundo grande destaque do festival e, particularmente, a apresentação mais surpreendente da primeira noite do Bananada. Não era a primeira vez da banda Francisco, El Hombre em Goiânia, mas em comparação com a última apresentação do grupo na cidade, o público parece ter percebido nos últimos tempos o talento que exala do grupo, já que ocupou a parte da frente do palco Pyguá antes mesmo do início da apresentação.
Com uma mistura de influências latinas e letras cantadas ora em espanhol ora em português, a banda surpreende pela intensa interação com o público, pelo dinamismo durante toda a apresentação e também por momentos inesperados que encantam ao público (como uma performance de dança contemporânea no meio do palco) além de um discurso político enraizado que encontra na plateia muitos simpatizantes com suas causas. Entre as faixas do repertório destacam se “Francisco, El Hombre” por sua força instrumental e “La Pachanga”, que fez o público dançar e cantar animadamente.
Após a animação dos Franciscos, o ritmo das músicas diminuiu um pouco e o indie-rock unido à psicodelia começou a tomar conta do CCON, com uma tríade interessante de ser acompanhada: a gaúcha Wannabe Jalva, a americana Allah Las e os goianos já bem reconhecidos no cenário alternativo – Boogarins. A psicodelia foi gênero presente durante vários dias do festival e parece ser uma das atuais tendências musicais das bandas. O Bananada provou que esta sonoridade é bem aceita por uma boa parte do público (apesar de ser perceptível um certo desinteresse diante das apresentações das duas primeiras bandas) e é curioso perceber a grande chance dada a quem estava se apresentando com efeitos e arranjos de guitarras exóticos, sendo possível perceber a satisfação do público em poder “viajar” neste tipo de som aproveitando um momento de calma no festival. Nem só de (muito) peso e correria vive um evento deste porte.
Por estarem se apresentando em casa, os garotos do Boogarins fizeram um show bem livre e dinâmico. O repertório foi bem curto (6 ou 7 músicas durante mais de uma hora de show) mesclando faixas novas aos sucessos já conhecidos, a exemplo de “Doce” e “Lucifernandis”, dando um destaque impressionante aos instrumentos na apresentação (chegando a realizar jams de mais de 5 minutos de pura viagem instrumental).
Apesar do público presente em peso e bem atento à apresentação, a recepção foi um pouco mais branda do que na última edição do festival, onde a euforia tomava conta da plateia.
Por último, mas não menos importante, vieram os mineiros da Pato Fu. Iniciando a apresentação com a divulgação de faixas do disco Não pare pra pensar (2014). Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus e o baterista Glauco Mendes focaram em um som mais pesado neste início de apresentação, um bom rock’n’roll, se distanciando um pouco da pegada pop de outros tempos de suas carreiras e apostando também na tecnologia durante a apresentação, com diversas projeções de vídeo no palco.
A voz suave de Fernanda comoveu o público em faixas novas como “Eu Era Feliz” e “Ninguém Mexe com o Diabo”, mas a participação do público realmente se destacou (de uma forma mais amplas e animadas) em sucessos mais antigos, mostrando que o público que “cresceu” junto com a banda preza pela nostalgia de faixas como “Canção para você viver mais”, “Antes que seja tarde” e “Sobre o tempo“. Já tarde da noite a banda ainda voltou para uma faixa extra após encerrar a apresentação, mandando para casa satisfeitos aqueles que aguardaram até as 2 horas da manhã pela apresentação dos experientes headliners.
BICICLETA SEM FREIO
Um destaque que deve ser feito a respeito da 17ª Edição do Festival Bananada vai além das já tradicionais apresentações musicais. O painel produzido pelo duo Bicicleta Sem Freio (em parceria com outros artistas goianos) era, com certeza, uma das atrações mais admiradas durante todo o evento. Pintado diretamente na estrutura do complexo arquitetônico do CCON, o desenho causou um gigantesco debate entre alguns nichos mais conservadores da população goiana – fato que ainda se desenrolará para além da duração do festival- provocando uma interessante reflexão sobre a ocupação de locais públicos. Apesar da discórdia, o trabalho foi muito bem aceito por uma grande parcela dos frequentadores do festival e dos incentivadores e entusiastas da cultura.
A obra de arte dá uma maior leveza ao local com suas cores vibrantes e design excêntrico e deve ser (com toda certeza) respeitada. Um verdadeiro presente de artistas goianos (que só a título de informação, têm reconhecimento e trabalhos distribuídos em diversos países) para a cidade de Goiânia. Vida longa ao Bicicleta Sem Freio, vida longa às intervenções urbanas em todo o mundo.